23/03/2007
Rodrigo Caixeta
23/03/2007
O encontro com o fotojornalismo aconteceu nos tempos da faculdade. O colega de turma, o repórter-fotográfico Sérgio Borges, hoje no Globo, já atuava na profissão e sempre falava sobre a rotina de buscar “a foto de notícia”. No entanto, ainda na infância, Paulo Toscano era escolhido, entre cinco irmãos, o fotógrafo da família — “era a garantia das cabeças incluídas nas imagens”.
A estréia profissional foi em 1987, no extinto jornal A Voz dos Clubes, um tablóide dedicado às notícias sociais do que acontecia nos salões do Rio e de Niterói. De lá, partiu para o concorrente Jornal dos Clubes, e criou a coluna “Do outro lado da Ponte” — onde escrevia e publicava fotos sobre temas ligados aos clubes da terra de Araribóia —, que existe até hoje. No ano seguinte, foi pedir emprego na Tribuna de Niterói, visando a função de repórter, mas não havia vaga. Ofereceram então, uma oportunidade como repórter-fotográfico, cargo ocupado por Carlos Magno, que estava indo para a Última Hora mas antes lhe acompanhou em suas primeiras pautas e ensinou a encontrar o próprio caminho. De 1988 a 1994, integrou um grupo de frilas da Folha de S. Paulo, e pode produzir uma grande reportagem sobre o legendário banqueiro do bicho Castor de Andrade:
— Pautei, produzi, fotografei e vendi a matéria para o jornal. O assuntou gerou grande repercussão, o que me deu muito orgulho.
Paralelamente aos frilas para a Folha, Paulo Toscano ingressou no Globo, em 1989, trabalhou por dois anos, sob a chefia de Aníbal Philot. Em seguida, produziu house organs para empresas como Golden Cross, Copacabana Palace e Sul América Seguros, até voltar à imprensa em 1995, na revista Manchete, onde ficou por um ano. Em seguida trabalhou no O Dia, até 2002:
— Naquele ano, iniciei a carreira de professor universitário e, paralelamente, de repórter-fotográfico da assessoria de imprensa da Polícia Civil, que me convidou a trabalhar para eles mais uma vez, recentemente. Fui, também, professor de fotojornalismo da Gama Filho, da UERJ e da Universidade Estácio de Sá, até o fim de 2006.
Entre as principais coberturas de que já participou, Toscano seleciona os registros das baleias jubartes em Abrolhos, a segunda visita do Papa João Paulo II ao Brasil, em 1997, e o leilão da Usiminas, que lhe rendeu boas fotos de protestos. Mas foi na editoria de esportes — a que mais gosta e na qual teve o privilégio de cobrir o Campeonato Brasileiro e Carioca de futebol, a Copa Sul-americana e os Jogos Mundiais da Natureza — que vivenciou uma das histórias mais engraçadas:
— O Fluminense decidia a sua permanência na primeira divisão do Brasileiro contra o Atlético Paranaense. O ambiente estava tenso e os torcedores insistiam em jogar todos os objetos inúteis e pesados sobre o goleiro do time rival, Ricardo Pinto, ex-ídolo tricolor. Prevendo o futuro incerto, tratei de trocar a teleobjetiva 400mm por uma 24mm. O monopé, reduzido, nas suas três fases, continuou preso à objetiva, que mantive pendurada no ombro. No apito final, a invasão raivosa dos torcedores da casa se concretizou. Entrei no campo e fiz fotos de torcedores batendo em jogadores do Atlético que tentavam, desesperadamente, salvar suas peles. Em um dado momento, ainda olhando pela objetiva, percebi que um torcedor espalhava porrada para todos os lados com um monopé igualzinho ao meu. Curioso, resolvi conferir a grande coincidência. O meu monopé sumira, não estava mais preso à rosca da teleobjetiva. Resignado resolvi continuar trabalhando. Ao final da pancadaria, em que o goleiro Ricardo Pinto se tornara a maior vítima, percebi que o meu monopé desfilava nas mãos de um torcedor tricolor, que insistia em espalhar porrada em tudo o que via pela frente, desta vez na arquibancada. Pedi o auxílio de um policial militar, que exigiu que o dito torcedor devolvesse o objeto. Este chegou ao gramado num vôo sem escala, tão destroçado que não poderia mais ser utilizado. Pelos dias que se seguiram, as pautas só falavam de um monopé que, supostamente, atingira a cabeça do pobre goleiro. Dei várias entrevistas, em que descortinei todos os mistérios que envolviam a existência deste, agora famoso, objeto.
Concursos
Paulo Toscano nunca inscreveu suas fotos em concursos, o que considera uma grande falha. Inclusive, acha tão importante um prêmio que diz que as empresas deveriam ter um departamento que cuidasse especialmente de selecionar e enviar para as principais premiações as melhores fotos de seus funcionários.
Quando se fala, porém, de tecnologia, o fotógrafo tem visão crítica sobre as facilidades que o digital oferece:
— Acho que o tempo que se usava para raciocinar sobre uma imagem caiu bastante em função da falta do medo que existia de ficar sem filme para o próximo disparo. Todos estão fotografando tudo o que vêem, sem a contemplação que dá o ritmo que o espírito e o coração necessitam. Mas, o artista o é, independentemente, do suporte a ser usado.
De acordo com ele, o fotojornalismo brasileiro está evoluindo bastante, mas precisa assumir o seu importante papel no contexto noticioso. Toscano diz que os profissionais estão cada vez mais capacitados intelectualmente e, portanto, devem exigir mais respeito e valorização. E, aos interessados em ingressar na profissão, adverte:
— Aconselho a entender como funciona uma redação de jornal, suas nuances e seus obstáculos. Não esbarrar em questões pouco convencionais, mas muito presentes no cotidiano da profissão, como a vaidade, a falta de ética e a ausência de companheirismo. As notícias de bastidores são as mais destrutivas, executam profissionais sem dó nem piedade. E aqueles que não se envolvem, apenas se divertem com a desgraça alheia, se esquecem que alimentam o leão que, um dia, poderá feri-los.
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