23/03/2021
Filme mostra invasão da Universidade de Brasília
Vera Perfeito – Diretora de Cultura e Lazer da ABI
O Cineclube Macunaíma exibe nessa terça-feira, 23 de março, o documentário Barra 68 – sem perder a ternura, o terceiro filme do mês na Mostra Vladimir Carvalho, seguido de debate, às 19h30, com o diretor do filme, o cineasta Silvio Tendler, o cineasta e crítico de cinema Dermeval Netto, a jornalista Maria do Rosário Caetano e Ricardo Cota (mediador). A partir das 10h00, o longa estará disponível no canal da Associação Brasileira de Imprensa do YouTube até a próxima terça-feira. No dia 30, o quarto e último filme da Mostra será Conterrâneo Velho de Guerra com 3 horas de duração e, por isso, não haverá debate.
O documentário colorido de 2001, com 82 minutos, exibe o histórico sobre a luta de Darcy Ribeiro para criar a Universidade de Brasília, as inovações que eram propostas, a perseguição a seus criadores com o regime militar de 1964, até sua invasão pelo Exército brasileiro, em 1968, quando foram detidos cerca de 500 estudantes e quase todo seu corpo docente se demitiu em protesto. Em 1977, a instituição sofreria mais uma onda de manifestações que foram reprimidas, novamente, pelo Exército. Narrado pelo ator Othon Bastos, conta com depoimentos de Oscar Niemeyer, Roberto Salmeron, Jean-Claude Bernardet, Ana Miranda, Marcos Santili, Cacá Diegues, José Carlos de Almeida Azevedo. entre outros, além de familiares de líder estudantil Honestino Guimarães, preso e assassinado durante a ditadura.
O cineasta Vladimir Carvalho, de 86 anos, é de Itabaiana na Paraíba, mas fez faculdade de Filosofia em Salvador onde conheceu Caetano Veloso e Glauber Rocha, integrando o Cinema Novo e sendo parte da vertente documentarista do movimento. Ao mesmo tempo, influenciado e influenciando o cineasta baiano com sua cinematografia documentária inovadora. Em 1964, quando foi instalada a ditadura militar no país, Vladimir e o cineasta Eduardo Coutinho foram surpreendidos quando filmavam Cabra marcado para morrer, no engenho Galiléa, em Pernambuco. Entraram na clandestinidade porque sabiam que seriam presos quando filmavam o tema explosivo das Ligas Camponesas. Passou a usar o nome de José Pereira dos Santos e como Zé dos Santos, tornou-se escultor de santos de madeira, em um sítio no interior da Paraíba.
Ao sair do esconderijo, veio para o Rio de Janeiro onde conheceu Arnaldo Jabor, aprendendo com o cineasta carioca a forma descontraída de filmar, indo também trabalhar como repórter no Diário de Notícias quando cobriu as passeatas contra a ditadura e a dos cem mil, além de entrevistar líderes estudantis. Em 1969, faz seu curta A Bolandeira, ganhando um dos prêmios do Festival de Brasília, cidade onde se instalou, realizando documentários sobre as questões sociais. Ganhou diversos prêmios como a Margarida de Prata, da CNBB.
Em 1971, seu longa metragem O País de São Saruê foi retirado do Festival de Brasília pela censura federal. Convidado para exibição no Festival de Cannes não pode aceitar porque só havia uma cópia que não podia sair do país. Em 1979, com a abertura da ditadura, São Saruê é exibido no Festival de Brasília, ganhando o Prêmio Especial do Júri. Na década de 1980 filmou os longa O Homem de Areia (1981), a realidade dos candangos com uma chacina de operários num acampamento de uma das empreiteiras da construção de Brasília.
Em 1990, Conterrâneos Velho de Guerra surpreende o Festival de Brasília e sai com diversos prêmios, revertidos na construção da Fundação Cinememória e, em 2004, torna-se embaixador cultural da cidade. Em 2005, filma o Engenho de Zé Lins já como presidente da Fundação Astrojildo Pereira de divulgação da cultura brasileira. De sua filmografia constam 24 documentários.