Filme de Capovilla hoje no Macunaíma


22/06/2021


Por Vera Perfeito, conselheira e Diretora de Cultura da ABI


Bebel garota propaganda no Cineclube de hoje

O Cineclube Macunaíma exibe nesta terça-feira, a partir das 10hs e até a próxima segunda-feira, o filme Bebel, garota propaganda, de Maurice Capovilla, estrelado pela atriz Rossana Ghessa (Bebel) que ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília de 1968.  Foi o primeiro longa-metragem de ficção em preto e branco do diretor e, no lançamento, houve problemas com a censura da época da ditadura devido a uma sequência em que um dos atores, Maurício do Valle, agride um deputado.

Com 1h48 de duração, o drama foi lançado em 1967 e teve o Guarujá (SP) como locação. Estão ainda no elenco John Herbert (Marcos), Paulo José (Bernardo), Geraldo del Rey (Marcelo), além de Joana Fomm; a música é de Carlos Imperial. Às 19h30, terá início o debate do jornalista Ricardo Cota com convidados: o cineasta Cavi Borges, o crítico de cinema Rodrigo Fonseca e a viúva de Capovilla, Marília Alvim. O filme e o debate serão transmitidos pelo canal da ABI no YouTube.

Filme

No enredo, Bebel nasceu em um bairro popular de São Paulo e vem de uma família pobre. Devido à sua beleza é contratada por um astuto promotor de vendas, Marcos (John Herbert), para ser o símbolo de um novo sabonete a ser lançado. A imagem de Bebel chega ao topo do país através dos jornais, revistas, televisão e cartazes, e, com isso, ela encontra o sucesso e o dinheiro. Um dia, porém, a campanha acaba e Bebel tem de retornar ao ponto de partida.

O diretor do filme, Maurice Capovilla, morreu no mês passado, aos 85 anos em decorrência de uma doença pulmonar. Foi ator, roteirista, produtor e diretor de cinema paulista .  Um cineasta que retratou as condições de vida da população brasileira em documentários e filmes de ficção. Ele sofria de Alzheimer há cinco anos.

Nascido em 1936, em Valinhos, São Paulo, Capovilla mudou-se para a capital paulista aos 21 anos. Frequentador do cineclube do Museu de Arte Moderna de São Paulo, conviveu com nomes do cinema na cena paulistana como Jean-Claude Bernardet e Gustavo Dahl. Em 1961, dirigiu seu primeiro curta-metragem, União, semi-documentário filmado em 16mm. Cinco anos mais tarde, chamou atenção com dois documentários que inovavam ao retratar os bastidores do esporte, Subterrâneos do Futebol e Esportes do Brasil. O primeiro  mostrava a rotina dos jogadores por um ângulo pouco glamouroso.

Foi em 1967 que Capovilla se lançou na ficção. Adaptado de um conto do escritor Ignácio Loyola de Brandão, Bebel, Garota Propaganda deu a Rossana Ghessa o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília naquele ano. Mais uma vez, ele explorava um cenário conhecido – o mundo da moda e do cinema – com uma abordagem inovadora. A trama mostra como uma garota pobre é consumida pela sociedade em troca de um lugar no show business.

O longa seguinte, O profeta da fome (1967), consolidou-o entre os grandes cineastas de sua geração. Realizado com poucos recursos financeiros, é inspirado no manifesto de Glauber Rocha, a estética da fome, e dialogo diretamente com o cinema marginal.Traz José Mojica Marins no papel de um faquir decadente que é expulso de um circo após ser incapaz de representar um número de canibalismo. Ao pegar a estrada, torna-se ídolo religioso de uma pequena cidade. Trata-se de um raro trabalho de Mojica fora de Zé do Caixão, seu icônico personagem. Anos depois, Capovilla e Mojica trocariam de lugar, com o primeiro trabalhando como ator em O ritual dos sádicos, um dos mais celebrados filmes de Zé do Caixão.

Outro filme importante é O jogo da vida (1967), adaptação do conto Malagueta, perus e bacanaço, de João Antônio, sendo um dos dez filmes mais bonitos feitos por aqui. Com música de João Bosco, Aldir Blanc e Radamés Gnatalli, traz atuação inspirada de Lima Duarte, Gianfrancesco Guarnieri e Maurício do Valle como um trio de malandros que ganham a vida com trapaças de sinuca.

Já no Globo Repórter, Capô, seu apelido, assinou com Rudá de Andrade a biografia de Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Oswald de Andrade para o documentário Do Sertão ao Beco da Lapa (e o mundo de Oswald), exibido no dia 27 de novembro de 1973. Seu último longa como diretor foi Harmada, em 2003, no qual também fez o roteiro. Como ator, seu último trabalho foi em 2005, no filme Donde comienza el camino.

Seu filme Meninos do Tietê (1963) foi eleito o melhor filme na 1ª Semana Latino-Americana de Cinema Documental, em Buenos Aires. O filme O Profeta da Fome (1969, mas comercialmente em 1970), conquistou várias categorias no Festival de Brasília, entre elas: de melhor argumento e roteiro. Outros filmes de destaque dirigidos por ele foram: Vozes do MedoAs Noites de IemanjáJogo da Vida Copa 78, o Poder do Futebol. Ele também atuou na TV e fez parte da equipe que criou os programas Globo Shell e Globo Repórter para a Rede Globo. Em 2005, foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural do então Ministério da Cultura.