07/03/2008
Novas publicações direcionadas ao público infanto-juvenil relatam a chegada da família real ao Brasil, que está completando 200 anos. Com uma visão alegre e irreverente, os livros mostram como Dom João VI gostou do Brasil — o que agradou ao povo — e seu retorno a Portugal, em 1821.
São histórias de diferentes perspectivas, como a caricata versão em quadrinhos publicada pela Cia. das Letras, “D. João Carioca”. Ou a alegre trajetória — mais infantil — de um D. João gorducho e de pele morena, que é recebido com festa pela população e ainda participa de algumas tarefas populares em “De quintal a capital”, da série “Brasil: só ama quem o conhece”, da Zit Editora. Também infantil é “Dom João, um nobre amigo do Brasil”, da Muiraquitã, que acompanha as transformações do Brasil Colônia narradas por personagens peculiares como a Palmeira Real e o Raio de Sol.
Para a colunista da ABI Cecília Costa, especialista em jornalismo cultual, iniciativas como essas “podem aproximar a criança da História que nós brasileiros mal conhecemos”. Ela apóia a idéia e comenta:
— Essa é uma nova oportunidade de envolver a criança numa narrativa interessante e também de rever e conhecer a história da nação. Quando a História do Brasil se torna gostosa de ser ler, como se fosse uma narrativa de ficção, o público se prende à leitura e aprende muito mais.
Pai e filhos
A série “Brasil: só ama quem o conhece” é fruto da união de uma família que tem por objetivo narrar nossa História e fazer com que as crianças cresçam com orgulho do País. Os irmãos Beatriz, Elizabeth e Ruyter Ribeiro — elas, pedagogas; ele, designer — e seu pai, João Guilherme — ilustrador — apresentam um ponto de vista tranqüilo, social e simpático da relação do povo brasileiro com seus descobridores e colonizadores.
A idéia de relatar a História do Brasil em livros infantis partiu de João Guilherme, que, viajando por países como México e Estados Unidos, encantou-se com o patriotismo das crianças, que freqüentemente via segurando a bandeira nacional:
— Quando fui visitar a Estátua da Liberdade, encontrei centenas delas no meio da multidão, de bandeirinha em punho e a postos para cantar o hino do país. Lá fora, a bandeira significa algo muito sério, algo que é cultivado até na mídia, como se vê nos filmes e na TV.
Movido pelo nacionalismo infantil, ele decidiu publicar os livros dando um molde especial para o público brasileiro. E contou com a ajuda dos filhos, que trabalham em meios convenientes para a realização do projeto:
— De volta ao Brasil, estava reunido com minhas duas filhas, que são professoras, e aproveitei para contar sobre o que tinha me impressionado. Daí surgiu a idéia de narrar a História do nosso País com personagens com que as crianças pudessem se identificar.
Em “De quintal a capital”, os traços de João Guilherme transformam Dom João VI em um príncipe barrigudo, simpático, esperto e cheio de gentilezas. Um verdadeiro líder da Colônia e de todos os habitantes, além de um apreciador da boa arte. Entre tantas características, destaca-se também uma apenas física: a cor da pele, de tom moreno, quase mulato, exibida por D. João.
O livro inclui ainda uma carruagem para a criança montar e brincar enquanto aprende sobre fatos históricos, um elemento que “ao mesmo tempo une pais e filhos, tem o aspecto lúdico e dispõe de um aprendizado muito prático”, segundo João Guilherme, que ressalta que brindes como este estão presentes em todos os livros da série.
Testemunhas naturais
A natureza brasileira presenciou todos os acontecimentos que se passavam na costa e dentro da floresta. Em “Dom João, um nobre amigo do Brasil”, da professora e historiadora Maria da Conceição Vicente de Almeida, personagens como o Menino Vento, a Palmeira Real e o Raio de Sol narram a história da corte portuguesa no Brasil. As mudanças e contradições são contadas como se se originassem de um ponto de vista neutro, direcionado diretamente para as crianças, “um público que valoriza o sonho e encanta-se com a fantasia”, segundo a autora:
— Acredito que possibilitando o contato de nossas crianças com acontecimentos significativos do País é possível abrir portas para que elas compreendam melhor a construção da memória histórica e da identidade peculiar do povo brasileiro.
Quadrinhos
Já “D. João Carioca”, apesar de ser apresentada no formato de HQ (história em quadrinhos) — com texto da historiadora Lilia Moritz Schwarcz e desenhos do cartunista Spacca —, propõe um conteúdo mais maduro e apresenta uma face caricata dos ilustres personagens que chegaram ao Brasil há 200 anos.
Fã de histórias em quadrinhos, o jornalista Rogério Durst, da revista Veja Rio, comenta a publicação:
— “D. João Carioca” é fonte de entretenimento refrescante no meio da enxurrada de publicações sobre a vinda da família real para o Brasil. Isso pela combinação do rigor da pesquisa histórica da autora com o traço marcante e caricato de Spacca. A narrativa em quadrinhos instrui sem entediar o leitor, criando uma simpática representação de Dom João VI, que nos acostumamos a ver retratado como tolo ou indolente.
O discurso, os hábitos, as expressões, tudo no livro é característico da época, fruto não apenas de pesquisa documental e historiográfica, como também fielmente pautado na iconografia da época. Mergulhando nas imagens coloridas, podemos descobrir um D. João gorducho e autoritário, que se esquece da guerra e aproveita o clima e as frutas tropicais, e uma Carlota Joaquina degenerada, que prefere morar em Botafogo, enquanto o marido se encanta na Quinta da Boa Vista.