30/04/2010
A íntegra do texto tem o seguinte teor:
“Adoro viajar pelo mundo, lendo os cadernos turísticos dos jornais, nos fins de semana. É lindo, é maravilhoso conhecer tantos lugares onde a felicidade se esconde e algumas de suas delícias nos são apresentadas a cores. Por incrível que pareça, nenhum governo, em todo o mundo, oferece duas semanas de férias remuneradas para os trabalhadores, em algum lugar de nossa escolha…
Por isso, o jeito é viajar de metrô, aqui mesmo, no único vagão melhorado, mas espaçoso e (viva!), com ar-condicionado. Em cada comboio tem um vagão assim. Lembra até o maquiavelismo dos políticos, às vésperas de eleições, construindo poucas casas, à vista de todos.
Resolvi ir à Madureira via linha 2. Portanto, saltei na Central e aguardei o “Pavuna”, no qual iria até Irajá e lá viajar de ônibus até meu destino. Claro, não havia lugar para sentar, mas à tarde dá para entrar e ficar olhando a janela e vendo lugares bem conhecidos.
Foi então, após algumas estações, a vez de ficar contente, lembrando ter visto ônibus urbanos, até luxuosos – e caros, mas confortáveis, circulando na cidade. E lembrei o metrô atual, um pouco melhor. Também, como os ônibus, oferecido aos cariocas uns cinqüenta anos depois de trafegarem nos melhores países do mundo.
Aí voltei a olhar pela janela, para os bairros tão conhecidos e tão abandonados. Depois de tantos anos e de tantas favelas nos morros, ficou bem nítida a favela urbana. E não só ali, nas janelas do metrô. Vide Avenida Brasil, as encostas, todos os viadutos, dutos, cavernas, até nas calçadas…
E o Brasil, tão rico, a ponto de o Governo determinar à Polícia Federal a vigilância dos diamantes de Rondônia. E alguns bem intencionados pedirem a reforma agrária.
Diga-se como ponto positivo a instalação em Volta Redonda, da siderúrgica, início da industrialização do Brasil e começo do fim da escravidão rural (quase toda).
O surgimento de fábricas e a necessidade de trabalhadores “inspiraram” as leis trabalhistas. Surgiu aí o movimento trabalhista e as lutas históricas por direitos sempre negados, muitas vezes à bala.
Estudando o que aconteceu no País nos últimos duzentos anos, não vemos apenas as conseqüências do fim da escravidão (“vocês são livres, podem ir embora”. E os negros indo embora à procura de um lugar para morar e dar de comer a eles mesmos e a sua família, naquele mesmo dia).
Na História do Brasil aprendemos que o pior de Portugal veio para cá. Em nossa opinião, “o pior” foram os nobres da corte e seus acólitos, expulsando os habitantes de suas casas (PR – ponha-se na rua), os quais subiram os morros.
O tratamento dado aos índios, aos judeus “cristãos novos”, aos negros e agora aos nordestinos no Rio e São Paulo foi o mais bárbaro possível (os últimos, vítimas de jovens bárbaros, que os odeiam apenas por terem bastante sangue judaico).
O dinheiro do orçamento, sabemos pela primeira vez, foi dividido pelos congressistas para os seus currais eleitorais. Se pelo menos prestassem assistência de verdade…
A prestação de contas recusadas por evidentes trapaças e até mesmo as constantes violações às leis, inclusive a eleitoral, são outros danos à democracia.
Tudo isso impede o bom uso do dinheiro público, o qual também é usado para formar um curral eleitoral de funcionários de salário mínimo.
Conseqüência disso: o comércio e a indústria se defendem, aumentando os preços, já que aumentaram os impostos sobre eles. Assim mantêm seus lucros normais e honestos, caso contrário teriam de aumentar as demissões.
Falando dos negros, lembro que este ano teremos o centenário da revolta, na Marinha, dos marinheiros açoitados diariamente, embora a chibata já não existisse em nenhum outro país do planeta.
É preciso uma imediata conscientização, não apenas entre a oficialidade, mas principalmente no alto comando da Armada. Até por um simples raciocínio honesto e elementar: houve uma revolta de marinheiros contra um abuso monstruoso (como foram todos os abusos em qualquer época, em toda parte).
O marinheiro João Cândido assumiu a direção de toda a Armada. O Rio de Janeiro foi ameaçado de ser bombardeado, se as condições dos revoltados não fossem aceitas. O Governo aceitou as condições. Logo após a entrega da armas e dos navios, mataram alguns marinheiros, outros foram feridos.
Tá bem, isso é passado. Mas é preciso ter dignidade. É necessário, no centenário desse evento moralizador (na época não havia como recorrer aos tribunais), reconhecer o fato de toda a Armada ter estado sob as ordens do Almirante João Cândido. Este fato foi reconhecido de fato pelo Governo. E as negociações o transformaram em Almirante de direito.
Clamo ao ministro da Marinha para tomar as providências para a aceitação desta verdade e o Almirante João Cândido tenha a patente reconhecida oficialmente e orgulhosamente no centenário do fato histórico. Tenho certeza de que em todo o mundo civilizado isto será visto como mais uma prova da maturidade das autoridades deste País.”
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*Froim Icek Baumwol, jornalista, é sócio da ABI.