21/12/2021
Por Alcyr Cavalcanti, conselheiro da ABI e presidente da ARFOC
“Vale a pena correr um risco calculado por uma foto”
Fabio começou como laboratorista no Jornal “O Fluminense”, de Niterói, mas aos poucos passou a correr atrás da notícia pelas ruas, desde a Ultima Hora, passando pelo Jornal do Brasil, O Globo e O Estado de São Paulo onde atuou como coordenador de Fotografia na sucursal carioca durante doze anos. Sua experiência em laboratório ajudou em muito sua noção de enquadramento, que nas ruas, a maioria das vezes é feito em frações de segundo. Acompanhou as mudanças profundas, desde a extinção de duas atividades que exerceu a de laboratorista e de operador de telefoto às novas tecnologias digitais nas modernas câmeras fotográficas. A troca de informações com outros profissionais tem sido da maior importância.
Fabio tem vasta experiência internacional, cobriu as Paraolimpíadas de Atlanta em 1996, Sidney 2.000, Atenas 2004 e no Brasil em 2016. Foi o coordenador da equipe do Jornal Estado de São Paulo na Copa do Mundo de 2014 no Brasil e dos Jogos Olímpicos 2016 no Rio de Janeiro. Obteve também alguns prêmios como o Prêmio CNT na 25ª edição com a foto “Caminhoneiros” e recentemente com o Prêmio ANAMATRA da Associação Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho com a imagem de um sepultamento durante a Pandemia.
A cobertura de um protesto em 2013 foi a que mais lhe sensibilizou, tinha sofrido um acidente que o deixou lesionado e com dificuldades de locomoção, não tinha como correr da violência policial que atirava bombas de gás e jatos d’água indiscriminadamente e da atitude desesperada de alguns manifestantes que atacavam tudo que estivesse pela frente. Fabinho já havia sofrido na carne os efeitos da violência do aparelho repressivo, tinha sido atingido por bomba de gás durante a funesta Privatização do Sistema de Telefonia, no leilão na Bolsa de Valores em que o protesto durou horas e se estendeu por todo o Centro da Cidade. Na época eu fiz parte da equipe do Estadão e fui testemunha das dificuldades que passamos para obter as imagens. Ao chegar à sede do Estadão para entregar os filmes, vim saber dos ferimentos na perna do amigo , que felizmente já estava medicado.
A lembrança dos protestos de 2013 traz um relato emocionado: “Eu tinha de fazer minhas fotografias, sabia que iria correr todos os riscos, mas teria de ter habilidade para controlá-los. Tive de procurar um lugar que pudesse controlar toda a cena e também me proteger e tive a sorte de conseguir. Do alto registrei tudo que pude, as bombas de gás, a pancadaria, o descontrole de tudo e de todos. Uma das bombas quase atingiu uma professora que corajosamente que em vez de correr foi para cima dos policiais dizendo” Vocês querem bater em mim, eu estou aqui, podem bater”. A imagem feita para o jornal O Estado de São Paulo ganhou o Prêmio Libero Badaró de Fotojornalismo na 11ª edição, com o título “Em Defesa da Democracia”. O risco calculado valeu a foto.