02/10/2017
O presidente do Equador Lenín Moreno denunciou, na última semana, que a Secretaria Nacional de Inteligência do Equador (Senain) vigiou a sociedade civil durante o mandato do ex-presidente Rafael Correa. Moreno chegou a encontrar uma câmera escondida ativa no gabinete presidencial.
Segundo o “El País”, a Senain tinha um plano de trabalho minucioso e individualizado para vigiar o entorno pessoal, familiar e profissional de políticos de oposição, jornalistas, empresários, organizações sociais e indígenas, influenciadores digitais e até membros de seu próprio governo, com a finalidade de controlar os opositores e defender a estabilidade do governo.
“Documentos internos desse órgão demonstram que a Senain espionou a Assembleia Nacional, manteve sob vigilância o entorno (pessoal, familiar e de negócios) dos opositores mais destacados, rotineiramente emitia relatórios sobre alianças e estratégias da oposição, província por província, e pôde desempenhar um papel importante na estratégia eleitoral do movimento Pais durante a campanha de 2013”, informa o jornal equatoriano “Diario Expreso”.
Os documentos, com datas entre 2010 e 2014, não incluem o conteúdo de grampos telefônicos, de e-mails nem de conversas em salas de bate-papo. Mas mostram que esse tipo de averiguação era feito, para que o Governo pudesse se antecipar aos fatos. Segundo a publicação, foram investidos até 44,4 milhões de dólares (cerca de 142 milhões de reais) para implantar o Centro Nacional de Inteligência, com gastos em obras de infraestrutura e na compra de equipamento para monitoramento telefônico e de redes sociais.
A Senain, que anda não se pronunciou sobre as denúncias também mirava membros internos da plataforma governista. O vice-presidente Jorge Glas, então ministro e depois vice-presidente de Correa, figura na lista de monitoramentos e agora está ligado, por associação ilícita, à trama de corrupção da Odebrecht. Também foram investigados o ex-ministro Richard Espinosa, à frente do Instituto Equatoriano da Seguridade Social e o ex-governador de Guayas pela Aliança Pais, Rolando Panchana. Fora da esfera política, o jornalista crítico ao regime Carlos Vera e a advogada ambientalista Inés Manzano também têm suas fichas de acompanhamento.
O prefeito de Quito, Mauricio Rodas se pronunciou sobre as denúncias. “Estamos falando de ações de perseguição, de espionagem, que não somente se opõem à lei e aos direitos das pessoas, mas também afetam a democracia”. Para o ex-vice-presidente León Roldos se trata de peculato, pois um órgão que opera com dinheiro público não pode ser usado com fins partidários.
Fonte: El País