18/07/2014
Morreu na madrugada desta sexta-feira, 18 de julho, de embolia pulmonar, o jornalista, colunista e cientista político João Ubaldo Ribeiro, de 73 anos. Sétimo ocupante da cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras (ABL), ele faleceu em sua casa, no Leblon, na Zona Sul do Rio. O corpo do imortal, que deixou uma obra de mais de 20 livros, publicados em 16 países, foi velado na manhã desta sexta, no Petit Trianon, sede da ABL, e enterrado durante a tarde, no Mausoléu da Academia, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Atualmente, Ubaldo trabalhava como colunista dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo. Entre suas principais publicações estão “Sargento Getúlio” (1971), “Viva o Povo Brasileiro” (1984) e “O Sorriso do Lagarto” (1989). Ele recebeu, em 2008, o Prêmio Camões, concedido pelos governos de Portugal e do Brasil para autores que contribuem para o enriquecimento da língua portuguesa.
Ubaldo também venceu, por duas vezes, o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro. Em 1972, conquistou o Jabuti de Melhor Autor, por “Sargento Getúlio”. Em 1984, venceu na categoria Melhor Romance, com “Viva o Povo Brasileiro”.
Entre suas obras mais famosas está também “A Casa dos Budas Ditosos” (1999), que se tornou um sucesso no teatro em formato de monólogo com a atriz Fernanda Torres, na pele de uma senhora de 68 anos que narra, sem pudores, suas peripécias sexuais. O último romance de Ubaldo foi “O Albatroz Azul”, lançado pela editora Nova Fronteira em 2009.
De acordo com a secretária do escritor, Valéria dos Santos, ele começou a sentir-se mal às 3h. Trinta minutos depois, foi dado como morto pela equipe médica. Ela lembrou, ainda, que o autor vinha escrevendo um novo romance há dois anos. Ele se levantava diariamente às 4h e escrevia até as 10h, “quando os telefones começavam a tocar e o interrompiam”, conta Valéria.
Em maio passado, o escritor esteve internado durante cinco dias no Hospital Samaritano por causa de dificuldades respiratórias. Os médicos aconselharam que ele parasse de fumar imediatamente. Desde então, João Ubaldo vinha diminuindo a quantidade de cigarros. “Não chegava nem a um maço por dia”, segundo Valéria, que trabalhava com o escritor há dez anos.
Vida e Carreira
Nascido em Itaparica, na Bahia, em 23 de janeiro de 1941, João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro morou ao longo da vida em Sergipe, Lisboa, Berlim e Rio de Janeiro, onde acabou se fixando. Formado em Direito pela Universidade da Bahia em 1962, não chegou a exercer a profissão. Ele fez pós-graduação em Administração Pública pela mesma instituição e mestrado de Administração Pública e Ciência Política pela Universidade da Califórnia do Sul, nos EUA.
Entre outras atividades, o romancista, cronista, jornalista e tradutor foi professor da Escola de Administração e da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e professor da Escola de Administração da Universidade Católica de Salvador.
Seu primeiro emprego foi como repórter no Jornal da Bahia, onde também viria a atuar mais tarde como redator, chefe de reportagem e colunista. Ele também escrevia para o diário alemão Frankfurter Rundschau. E já colaborou com publicações como o jornal Diet Zeit (Alemanha), The Times Literary Supplement (Inglaterra), O Jornal (Portugal), Jornal de Letras (Portugal), Folha de S. Paulo e A Tarde.
Em 1993, foi eleito para a ABL em 1993 para a cadeira número 34, no lugar do jornalista e escritor Carlos Castello Branco (1920-1993).
João Ubaldo Ribeiro deixa mulher, Berenice de Carvalho Batella Ribeiro, e quatro filhos: Bento e Francisca (do casamento atual) e Manuela e Emília (de seu primeiro casamento, com Mônica Maria Roters).
Depoimentos
O presidente da ABL Geraldo Holanda Cavalcante contou que, nos quatro anos de presidência, encontrou com Ubaldo apenas uma vez, por conta de problemas de saúde do escritor. “Ele deixa uma marca profunda na história do romance, com ‘Viva o povo brasileiro’ . Só estive com ele uma vez. Mas sei que ele era uma pessoa jovial, alegre, amigo e muito companheiro. Ele revolucionou o romance brasileiro com ‘Viva o povo brasileiro’ e ‘Sargento Getulio'”, disse o presidente.
O poeta maranhense Ferreira Gullar, de 83 anos, lamentou a morte de João Ubaldo Ribeiro, “sem dúvida um dos mais importantes escritores brasileiros”, afirmou. “Fiquei surpreso porque, pelo que sabia, ele estava bem de saúde. Havia atravessado um período de dificuldade, mas se recuperado. Foi uma notícia chocante”, disse Gullar.
“Um romancista de nível muito alto, enorme qualidade, de obras maravilhosas como ‘Viva o povo brasileiro’, ‘O sorriso do Lagarto’ e ‘Sargento Getúlio’, além de ser um cronista sensacional, com muito senso de humor. Eu era leitor dele; toda semana lia João Ubaldo. Não era um amigo frequente, de estar sempre com ele, mas éramos amigos de muitos anos”, disse o poeta.
A escritora Nélida Piñon, que como João Ubaldo é imortal da ABL, destacou o grande narrador que era o amigo. “Eu destacaria dois livros: ‘Sargento Getúlio’, que é uma pequena epopeia do Nordeste brasileiro, na qual encarna o autoritarismo, o poder e a servidão dos pobres; e também esse painel formidável que é o ‘Viva o povo brasileiro’, um romance que abrange a nossa formação ao longo dos séculos”, disse.
Nélida, que conhecia João Ubaldo há mais de 30 anos, enalteceu as qualidades do amigo: “Eu lhe devotava uma admiração enorme. Um homem muito engraçado, divertido, de sólida cultura que devia à imposição paterna. João Ubaldo era um homem apaixonado pelas conquistas humanas do pensamento”, disse. Assim como Gullar, Nélida contou ter ficado surpresa com a notícia da morte, e muito triste.
“Lamentamos a sua morte porque morreu moço, aos 73 anos, tendo ainda tanto a dar à língua do Brasil”, completou Nélida Piñon. A presidente Dilma Rousseff emitiu uma nota de pesar pelo falecimento do escritor. “A literatura brasileira perde um grande nome com a morte de João Ubaldo Ribeiro. Neste momento de dor, presto minha solidariedade aos familiares, amigos e leitores.
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgou uma nota em que lamenta a perda do escrito. “O setor editorial perde, neste dia, um dos grandes romancistas e cronistas da atualidade. Mas suas obras sempre permanecerão vivas na memória dos brasileiros”, disse o comunicado.
*Com informações de O Globo, EBC, Estado de Minas, O Estado de S. Paulo, e G1.