“Fotografia tem de ser na rua. Sentir as coisas, sentir a vida. Olhar, principalmente olhar. Você tem se observar muito bem. Tem de ser o grande observador. Observar e clicar.”
Erno Schneider
O Correio da Manhã foi um matutino carioca fundado por Edmundo Bittencourt em 15 de Junho de 1901 teve como característica fazer oposição crítica a quase todos os presidentes brasileiros durante sua existência. Esse foi o motivo das sucessivas perseguições e de seu fechamento no dia oito de julho de 1974 durante o período militar. A sua importância na produção de imagens que ficaram para a história foi principalmente na “Era Erno Schneider”, durante a primeira fase dos governos militares. Erno chegou à sede do Correio na Avenida Gomes Freire, Centro do Rio, logo depois do Golpe de 1964. Gaúcho da cidade de Feliz nasceu em 1935 e já rapaz foi para Caxias do Sul em busca de novos horizontes. Aprendiz de fotografia foi para Porto Alegre em busca de um sonho. Em depoimento à pesquisadora Silvana Louzada declarou “Meu sonho era trabalhar em um jornal, eu olhava as fotos e pensava, eu vou trabalhar em um grande jornal”. O jovem Erno tentou o Correio do Povo não deu, tentou o Diário também não aceitaram, então resolveu ir até o jornal de Leonel Brizola, O Clarim, então chefiado por Carlos Contursi que resolveu apostar no jovem e disse “Pega a máquina e vamos fazer uns trabalhos”.
Erno já no Rio de Janeiro começou a ficar conhecido por suas fotografias no Jornal do Brasil em especial na foto definitiva do presidente Jânio Quadros que lhe valeu o prestigioso “Prêmio Esso de Fotografia” em 1962. A fotografia foi feita em 21 de abril de 1961 quando o presidente Jânio Quadros resolveu atravessar a pé a ponte que liga a cidade de Uruguaiana a Los Libres na Argentina. A imagem teve muita repercussão e suas fotos começam a ser analisados pela imprensa de todo o país, todos desejavam contar com ele em seu departamento fotográfico. Depois de ser sondado por vários jornais e revistas, resolve aceitar o convite de Niomar Moniz Sodré para dirigir com plenos poderes o departamento fotográfico do Correio da Manhã. Começou aí a fase de ouro do Fotojornalismo no Brasil. No período 1964/1969 os fotojornalistas do Correio produziram com suas imagens uma narrativa que ficará para sempre como um precioso documento de nossa história. Páginas gráficas vinham mostrar a qualidade, e principalmente a coragem de uma equipe sem igual. Fica aí mais do que provado a importância do editor de fotografia e a máxima que parece redundante: “Quem conhece fotografia acima de todos é o bom fotógrafo”, um recado aqueles que foram colocados na função sem nunca terem efetuado o essencial trabalho de campo, que nunca sujaram os sapatos importados em um dos recantos cheios de lama de um campinho de várzea, ou em uma das 950 favelas cariocas.
No laboratório fotográfico uma placa chamava atenção: “Aqui se Matam os Cobras”.
Sob a orientação de Erno Schneider os repórteres fotográficos Luiz Pinto, Milton Santos, Manoel Gomes da Costa, Rodolpho Machado, Osmar Gallo, Rubens Seixas, Sebastião Marinho entre outros, aliados à experiência de Luiz Bueno Filho e a qualidade de Luiz Vilhena no laboratório fotográfico colocaram a equipe do Correio em um patamar ao nível internacional. Vilhena tinha um olhar fotográfico sem igual e com seus cortes no ampliador dava destaque a um pequeno detalhe que às vezes poderia passar despercebido. Muitos jovens que tiveram passagem pelo Correio tremiam quando entregavam seus filmes para ser revelados, um lembrete para controlar o Ego de muitos profissionais, principalmente porque o foco automático ainda não tinha sido inventado. Na porta giratória do laboratório havia uma placa com os seguintes dizeres: “Aqui se Matam os Cobras”.
O Correio pagou o preço de sua autonomia, então a censura começa a fechar o cerco. Uma série de acontecimentos vão acelerar o declínio do jornal da Gomes Freire. Primeiro um atentado a bomba no dia 7 de dezembro de 1968, logo seguido pela invasão do jornal horas depois de decretado o AI-5 no dia 13 de dezembro do mesmo ano. A prisão de sua proprietária Niomar Moniz Sodré e de vários jornalistas acabou levando o jornal a um declínio gradual, a seu arrendamento para um grupo empresarial e a mudança de sua linha editorial até o seu fechamento em 1974. Erno com o declínio do jornal tanto pelo poder dos censores, quanto pela fuga dos anunciantes recebe um convite para ser editor de fotografia do Globo, convite feito pelo próprio Roberto Marinho. Aceita, mas com a condição de levar sua equipe de confiança, de não ter de demitir nenhum dos fotógrafos e principalmente ter autonomia na edição das fotografias.
O gaúcho Erno Schneider com seu jeito suave, mas extremamente exigente e criterioso cobrava muito de sua equipe, e não admitia nenhuma desculpa por não ter sido efetuada a melhor imagem, e para isso confrontava as edições do Globo com os outros jornais. Erno conseguiu renovar o equipamento fotográfico e aumento salarial para sua equipe que contava com todos os recursos necessários para obter a melhor imagem. Ele soube deixar sua marca de qualidade nos jornais onde passou, seja como repórter-fotográfico no Jornal do Brasil ou como editor de fotografia, função que exerceu com a maior dignidade, seja no Correio da Manhã e posteriormente no Globo onde ficou por mais de uma década sempre fiel a seus princípios de mostrar através de imagens que os jornais são principalmente o olhar crítico da sociedade em que vivemos.