Entrevista – Villas-Bôas Corrêa


09/12/2008


Seis décadas de imprensa


Cláudia Souza
10/12/2008 

Luiz Antonio Villas-Bôas Corrêa nasceu em 2 de dezembro de 1923. Aos 85 anos, o analista político mais antigo em atividade no Brasil se autodefine como o “último sobrevivente da geração que cunhou o modelo de reportagem política que ainda hoje se pratica”. Com espírito crítico e observador, o veterano repórter relata mais de meio século da história da imprensa, que emolduram sua brilhante carreira marcada pela análise imparcial, o ineditismo e a credibilidade.

ABI OnlineComo foi o início de sua carreira na imprensa?
Villas-Bôas Corrêa — Eu me formei em 1947 pela Faculdade Nacional de Direito. Era funcionário público do Serviço de Alimentação da Previdência Social (Saps) e estava casado desde o 4º ano da faculdade. Meu segundo filho nasceu de cesariana e eu não tinha como pagar os 13 contos de réis das despesas com o hospital. Na verdade, só tinha 5 ou 6 contos de réis para o parto normal. Com o salário de funcionário público, jamais conseguiria saldar a dívida. Então, tive a idéia de tentar um emprego na imprensa junto ao meu sogro, o jornalista Bittencourt de Sá, na época aposentado. Ele me orientou a procurar o colega Silva Ramos, homem forte do jornal A Notícia, de propriedade de Cândido de Campos. 

A pequena redação ficava na Avenida Rio Branco, entre a ruas da Carioca e Sete de Setembro, mas o jornal era composto e impresso nas oficinas do Diário de Notícias, próximo à Praça Tiradentes. “Bittencourt de Sá está dizendo aqui que você é Bacharel em Direito. Mas isso não quer dizer que você seja totalmente analfabeto. Tira o paletó e começa”, disse Silva Ramos ao ler o bilhete de apresentação. Esta foi a minha formação acadêmica em Jornalismo. 

 Villas-Bôas com 3 anos de idade

ABI OnlineQuais eram suas atividades no jornal? 
Villas-Bôas — Comecei na imprensa em 1948, escrevendo pequenas notas. Ao lado de José Rodrigues, nosso único fotógrafo, cobria diversas pautas por dia, inclusive policiais. Os jornais eram divididos em matutinos e vespertinos. No primeiro grupo, entre outros, estavam o Correio da Manhã, maior jornal da época, o Diário de Notícias, onde surgiram inovações como o copidesque e o lead, e O Jornal. Entre os vespertinos, figuravam O Globo e A Notícia.

ABI OnlineQual foi a sua primeira matéria importante?
Villas-Bôas — Eu tinha ido ao bairro da Glória para pegar o “boneco” de um suicida. Entrei num pequeno hotel procurando uma cabine telefônica para avisar ao pessoal da redação que não existia o tal “boneco”. Como as ligações telefônicas eram ruins, as pessoas gritavam para serem ouvidas. Além disso, por causa do forte calor, as portas das cabines telefônicas ficavam abertas. Foi neste cenário que acabei escutando a conversa de um homem que narrava a um provável sócio do Paraná as dificuldades que vinha enfrentando para fechar a venda de batentes para a Estrada de Ferro Central do Brasil e as pressões que sofria para aceitar propina. O negócio, dizia ele, envolvia o tabelião Hugo Ramos — irmão do então Vice-presidente da República Nereu Ramos — e o Ministro da Viação e Obras Públicas, Clóvis Pestana. O homem avisou ainda que no dia seguinte denunciaria o caso ao General Canrobert Pereira da Costa, então Ministro da Guerra e candidato à Presidência. Encerrada a ligação, apresentei-me ao sujeito que se chamava Ivo Borcioni. Combinei que o acompanharia no encontro com o General na qualidade de advogado dele. Foi a única vez em que o diploma de Direito me serviu para alguma coisa. (risos) 

Após tomar conhecimento do fato, o Canrobert nos garantiu que encaminharia a denúncia ao Presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra. Encerrado o encontro, parti para a redação comboiando o Ivo Borcioni. “Escreve!”, aconselhou-me Silva Ramos ao saber os detalhes da história. A reportagem ganhou as manchetes e páginas principais da Notícia ao longo de vários dias, com estrondosa repercussão em todo o País. Com apenas seis meses de redação, passei direto para a reportagem política. 

ABI OnlineQual era o cenário político da época?
Villas-Bôas — Foi a fase de ouro da reportagem política. Um período marcado por grandes debates parlamentares, imediatamente após a Constituinte de 1946. Com o fim da ditadura Vargas e dos anos de violenta censura à imprensa, havia crescente interesse por assuntos políticos e vendia-se muito jornal com este tema. 

ABI OnlineQual era a sua rotina de trabalho?
Villas-Bôas — Durante 12 anos, meu local de trabalho foi a Câmara, no Palácio Tiradentes. Como não havia gabinetes privativos, à exceção da Presidência e de algumas lideranças, o ambiente facilitava o convívio. Os jornalistas passavam o dia acompanhando o processo político e os debates. O primeiro escalão dos jornais cobria as subcomissões; o repórter veterano, em geral, acompanhava as comissões; e o segundo ou terceiro escalão cobria o plenário, onde acontecia o real jogo do poder.

Os grandes jornais, em sua maioria, se subdividiam em udenistas e antigovernistas. O PSD representava o partido do Governo, com estrutura fincada nas bases rurais e no legado da ditadura. Nereu Ramos, Gustavo Capanema e Israel Pinheiro eram os grandes oradores. A UDN, partido libertário, dos bacharéis, dos lenços brancos, reunia em seus quadros figuras como Prado Kelly, Carlos Lacerda, Afonso Arinos. Os repórteres buscavam isenção e imparcialidade diante desta divisão, respeitando a orientação do jornal. Um modelo de reportagem política foi se impondo a partir da nossa luta por um espaço neutro e independente. Eu, por exemplo, nunca declarei voto, nem em casa. Nunca assinei manifesto; nunca entrei em partido; nunca declarei apoio a ninguém — requisitos fundamentais para a minha credibilidade como analista. 

ABI OnlineEm que período o senhor começa trabalhar em O Dia?
Villas-Bôas — Eu trabalhei durante 30 anos em A Notícia e me aposentei em 1979. Bem antes disso, no início da deda de 50, o Chagas Freitas assumiu A Notícia e decidiu lançar o matutino O Dia, cujo primeiro secretário era o jornalista Santa Cruz Lima, que costumava repetir a máxima: “Jornal é primeira página, o resto não interessa!” Afeito ao estilo popular, ele fazia questão de ostentar na capa um cadáver, um caso de amor violento e espiritismo: “Ô, Villas, esse negócio de reportagem política, PSD, UDN… Isto é coisa pra grã-fino. Vê se inventa aí uma coisa mais popular”, sugeriu.

ABI OnlineFoi a senha para os “Comandos parlamentares”? 
Villas-Bôas — Sim. Na verdade, segui a idéia do Heráclito, que, ao lado do Deputado Café Filho, visitava locais públicos sem aviso prévio. Adaptei para um perfil mais popular e criei os “Comandos parlamentares”. 

ABI OnlineComo o senhor pautava as matérias?
Villas-Bôas — Selecionava o assunto e convidava três parlamentares, em geral dois deputados e um senador. Os políticos estavam sempre à disposição, até porque aproveitavam para cavar votos também. Fui onde quis sem nunca ser barrado; percorri favelas, penitenciárias, delegacias, sempre denunciando os problemas da população. Aquiles Camacho, um grande fotógrafo, foi contratado para aquele trabalho. As visitas aconteciam às quartas-feiras e a matéria saía no domingo. Em pouco tempo, os “Comandos” se tornaram um enorme sucesso. Passei a receber inúmeras denúncias e ganhei muita credibilidade dentro do jornal. Vários casos resultaram em CPIs e demissões.

ABI OnlineQuais foram os episódios de maior repercussão?
Villas-Bôas — Certa vez, recebi uma denúncia de maus-tratos e violência em um abrigo para moças no Engenho de Dentro, que era vinculado ao Serviço de Assistência a Menores (SAM). Convidei o então Ministro da Justiça Tancredo Neves para me acompanhar ao local com dois deputados. O Ministro levou o Chefe da Casa Militar e dois policiais. Encontramos um cenário dantesco. Moças de todas as idades, algumas grávidas, se amontoavam em um ambiente insalubre. Tancredo, horrorizado, exigiu a presença da diretora do abrigo, que foi trazida de casa. Aparentemente, não havia sinais de violência, até que uma das moças se aproximou e, em tom de voz baixo, pediu que eu olhasse embaixo de um colchão. Encontramos vários porretes, alguns com marcas de sangue e cabelos grudados. O fotógrafo fez as imagens e o Tancredo fechou o local na hora. 

                             O jornalista em visita ao Xingu

Os “Comandos parlamentares” aconteceram em um momento em que existiam alguns códigos para se entrar em favelas, mas tudo era resolvido com tranqüilidade. Os moradores nos recebiam, comentavam os casos, convidavam para almoçar, traziam lanche. Jamais tivemos receio de sofrer qualquer tipo de agressão. Naquela época, vale lembrar, não havia ponto de drogas, só jogo do bicho. 

ABI OnlineO ambiente de trabalho também era mais tranqüilo?
Villas-Bôas — Sim. As redações antigas eram muito alegres e bem menores. A maioria dos jornais ficava no Centro da cidade, o que nos aproximava. Tínhamos o hábito de sair da Câmara direto para um bar que ficava na Rua São Bento, embaixo do Diário Carioca. Ali a gente se preparava para enfrentar a noite, pois o fechamento dos jornais era muito tarde.

ABI OnlineSua atuação no Jornal do Brasil vem de longa data. Como foi a trajetória neste veículo?
Villas-Bôas — Trabalhei duas vezes no JB. Saí a primeira vez em 1961, quando houve a mudança da capital para Brasília e fui convidado a trabalhar na sucursal de lá. Como também trabalhava na sucursal carioca do Estadão, fui conversar com eles, que me convenceram a ficar com o seguinte argumento: “Se você pensa que o Rio de Janeiro vai esvaziar, está enganado. Basta ver o exemplo de Washington, nos EUA. O Rio continuará a ser um centro político importante e nós vamos manter a sucursal exatamente como está.”

Evidentemente, as equipes que cobriam os trabalhos na Câmara e no Senado tiveram que partir, mas a política no Rio de Janeiro sobreviveu durante um longo tempo, especialmente com o Senadinho, ao contrário da Câmara, que foi desativada. Como o Senado ficava no Centro, perto dos hotéis, os senadores e deputados que fugiam de Brasília batiam o ponto por lá. Era um lugar que a gente freqüentava habitualmente para conversar, pegar informações, fazer matérias e entrevistas.

  Villas no dia do casamento com Regina

Só retornei ao Jornal do Brasil mais tarde, com o Walter Fontoura na Direção e o Paulo Henrique Amorim na Chefia. Nessa época, vivia desesperado, porque tinha saído do Estadão devido à fusão do jornal e estava desempregado há cinco meses. Até que, certo dia, o Paulo Henrique me convidou para ir à casa dele, no Leblon. A reunião foi à noite e a casa estava cheia. Por volta de uma da manhã, fui me despedir. Ele me acompanhou até o portão e disse: “Olha, Villas, eu te chamei aqui porque o Walter Fontoura me autorizou a convidar você…”, começou. “Aceito!”, respondi. “Mas, peraí, Villas, você não sabe nem o que é!” E eu garanti: “Não faz mal. Se for para ser varredor da redação, eu aceito.” (risos)

O convite era para a Chefia de Reportagem da editoria de Política. Um cargo que eu não queria, mas aceitei na hora. Algum tempo depois, o Paulo comentou comigo que estava procurando um lugar para o Xico Vargas: “Pode dar meu cargo!”, fui logo dizendo. “Mas…”, ele se espantou. “Estou louco para largar a Chefia. Sou jornalista, quero ser repórter, quero escrever!”, expliquei. “Você está falando sério, Villas?” Estou até hoje. (risos) Ao longo de quase 20 anos, o jornal mudou muito, atravessou séria crise, trocou de dono, e eu continuo por lá, escrevendo três artigos por semana. 

ABI OnlineO que determinou a crise no JB?
Villas-Bôas — Assim como os outros jornais, o JB acreditou no milagre brasileiro que toda a mídia propagou e saiu investindo loucamente. Um exemplo foi aquela sede suntuosa. Certa vez, um jornalista italiano foi visitar o prédio e, depois de percorrê-lo inteiro, já na portaria, perguntou: “Além do Jornal do Brasil, o que mais vocês editam neste prédio?” E o cicerone respondeu: “Mais nada.” Ao que o italiano comentou: “Ih… vai quebrar.” 

Em televisão, trabalhei a partir de meados da década de 60, primeiramente no “Jornal de vanguarda”, que foi de vários canais e saiu do ar com a decretação do AI-5, apesar de ter patrocínio. Atuei também na TV Bandeirantes e depois na Manchete, do início da década de 90 até o fechamento da emissora.

ABI OnlineComo era a sua rotina de trabalho na TV?
Villas-Bôas — Eu analisava a pauta e escolhia um assunto para fazer os comentários. Não comunicava a ninguém o tema e falava sempre de improviso. Esta experiência de liberdade de escolha seria impossível nos dias de hoje. 

                                      Com o Presidente Lula

ABI OnlineEm relação ao jornalismo político, quais foram as principais mudanças que o senhor vivenciou?
Villas–Bôas — A transferência da capital do País para Brasília foi a principal mudança neste cenário. A inauguração da cidade foi um circo. Quando a imprensa chegou por lá, não havia lugar para morar, nem para trabalhar. Foi difícil transferir os quadros de funcionários. Na prática, representou o fim da cobertura de páginas inteiras sobre a movimentação do plenário, das comissões, da política em geral. O modelo precisou ser reformulado e surgiram as matérias especiais, introduzidas por uma nova geração de repórteres em Brasília, como Fernando Pedreira, Carlos Chagas e Evandro Carlos de Andrade. Uma fase inicial de efervescência que durou até os governos de Jânio Quadros e João Goulart, que tinham péssimas relações com a imprensa. O Jânio não conversava com ninguém, mas tinha um bom assessor de imprensa; o Jango só falava com os jornalistas que conhecia. Em seguida, chegaram os militares, em sua maioria inacessíveis.

ABI OnlineComo o senhor enfrentou o período da ditadura e a censura imposta à imprensa?
Villas-Bòas — Ressalto a minha experiência no jornal O Estado de S. Paulo, no qual ingressei no final da década de 50 e me aposentei em 79, atuando como chefe da editoria de Política e, mais tarde, na Direção da sucursal Rio. Tenho orgulho de ter trabalhado no período da ditadura no Estadão, que teve corajosa postura de resistência, especialmente ao rechaçar a autocensura. Era necessário ter grande habilidade profissional para driblar a repressão e buscar a melhor maneira para informar o leitor. Inicialmente, o Estadão deixou espaços em branco no lugar das matérias censuradas. Como esta prática foi proibida pelos censores, o jornal passou a publicar versos de “Os Lusíadas”, de Camões, no lugar das matérias censuradas. O Jornal da Tarde, também do Grupo Estado, chegou a estampar desenhos de flores nos espaços censurados, mas os leitores não entenderam o aviso e acharam que se tratava de um recurso estético. Então, o JT passou a publicar “Os Lusíadas” e receitas de bolos e doces nos espaços vazios.

ABI OnlineO senhor atuou em campanhas políticas de figuras importantes. Qual era a estrutura desta atividade na época?
Villas-Bôas — Trabalhei nas campanhas de Juscelino Kubitschek, Juarez Távora e Jânio Quadros, entre outras. Minha participação foi mais intensa na campanha do Jânio, porque atendia a um interesse político do jornal. Naquela época não havia marketing, pesquisa eleitoral, televisão. O termômetro da situação era medido pelas articulações políticas e os comícios. Contudo, este tipo de avaliação muitas vezes incorria em erros. 

 Villas-Bôas com os netos

ABI OnlineComo o senhor analisa a evolução do jornalismo brasileiro nas últimas seis décadas?
Villas-Bôas — Hoje em dia nós vemos esta coisa curiosa que é fazer jornal sem jornalista. Os chefes das editorias de Política, por exemplo, trabalham com algumas sucursais e agências e meia dúzia de repórteres em Brasília. A cobertura do Rio é irrelevante. Não se cobre Assembléia Legislativa, não se cobre Câmara de Vereadores. “Ah, mas aquilo é uma porcaria”, retrucam. Então vai lá e cobre a porcaria, faz uma sessão crítica. Mas não; simplesmente preferem colocar a tampa na lata de lixo sem jogar o lixo fora. Alguns jornais ainda tentam fazer uma cobertura mais ampla, mas acabam caindo no exagero e transformam a matéria em uma coisa monótona com quatro, cinco páginas. O leitor tem outras atividades em sua vida, não pode passar o dia inteiro lendo jornal.

ABI OnlineAté a década de 60 não existia a exigência do diploma para exercer a profissão de jornalista. Na sua opinião, qual o papel dos cursos de Comunicação?
Villas-Bôas — Para quem tem a vocação, o curso certamente ajuda. Mas nenhuma faculdade vai transformar em jornalista um indivíduo que não tem a garra necessária à profissão. É preciso ainda ter intimidade com a língua portuguesa e o computador para enfrentar o mercado de trabalho, que hoje está muito mais difícil.

ABI OnlineO que mudou neste mercado?
Villas-Bôas — Quando eu comecei na imprensa, havia cerca de 17 jornais no Rio. Hoje o número de veículos caiu drasticamente e as redações ficaram muito enxutas. A internet, outra mudança, é uma ferramenta que veio para ficar, mas o jornalista não pode depender apenas deste instrumento. A informação virtual não substitui a imprensa escrita.

Na minha área, por exemplo, tenho que me valer dos telefonemas para Brasília, da leitura de jornais e das conversas com várias pessoas para fechar a minha análise. Uma rotina muito diferente do tempo em que eu chegava na Câmara às 14h e só saía às 18h, abarrotado de informações. O jornalista de hoje não sai de casa, prefere apurar tudo pela internet ou pelo telefone. Como a redação diminuiu, recebe uma pauta enorme com quatro ou cinco matérias, não tem tempo para fazê-las e se vê obrigado a apurar tudo de afogadilho. Além disso, o jornal de domingo sai no sábado. E o de sábado sai que dia? Como a maior parte dos jornais são dirigidos por empresários e não por jornalistas, a Gerência de Marketing e a Publicidade impõem a hora do fechamento e tudo o mais em função do caixa. Este modelo precisa ser reformulado com urgência. O jovem que está se formando hoje faz parte da geração laptop e tem a chance de remontar uma rede nacional que devolva à imprensa o status de cobertura nacional.

ABI OnlineHá 60 anos acompanhando a cena política no Brasil e no mundo, de que forma o senhor analisa a recente vitória do Senador Barack Obama nas eleições norte-americanas?
Villas-Bôas — Recebi a notícia como todo o mundo. Um fato inacreditável, que justificou eu ter vivido o tanto quanto vivi para presenciar a vitória do primeiro negro à Presidência dos Estados Unidos. Um negro assumido, com sua bela família. A eleição aconteceu de forma natural, pois ele não foi eleito por ser negro ou branco, e sim por ser o Obama.

ABI OnlineO senhor está comemorando seis décadas de carreira no mesmo ano em que a ABI festeja o centenário de fundação.
Villas-Bôas — Tenho uma relação curiosa com a Casa. Lembro da gestão de Herbert Moses, que tinha postura conveniente para enfrentar as agruras do Estado Novo. Ele se dava muito bem com Getúlio, agregava uma boa rede de relacionamentos e esteve sempre atento aos casos de violência imposta a uma imprensa sob a censura do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Acompanhei à distância a grande fase de Barbosa Lima Sobrinho, de quem eu gostava muito e que também me queria bem. Sem falar no filho, Fernando Barbosa Lima, com quem trabalhei durante muito tempo. Destaco ainda o Presidente Prudente de Moraes, neto, meu companheiro no Estado de S.Paulo e a quem eu adorava. Maurício Azêdo, também meu colega no Estadão, é o Presidente perfeito para esta fase da Associação. Mantém uma linha política extremamente coerente, que reflete as tendências majoritárias da classe e não impede a conversa, o diálogo. Uma administração exemplar.

ABI OnlineSua trajetória recebeu recentemente uma bela homenagem, com o lançamento de uma fotobiografia pela coleção “Álbum de retratos”.
Villas-Bôas — A publicação foi organizada por meus filhos, o jornalista Marcos Sá Corrêa e o produtor musical Marcelo Sá Corrêa. As fotos estavam guardadas há muitos anos, dentro de uma mala. Algumas revelam um Brasil e um jornalismo que já não existem mais.

ABI OnlineO senhor é autor de “Casos da Fazenda do Retiro” (1981), “Conversa com a memória — A história de meio século de jornalismo público” (2002) e “Palácio Tiradentes — Fiel à democracia”(2002). Além de preparar uma nova publicação, a que outras atividades está se dedicando?
Villas-Bôas — Estou organizando o lançamento do meu blog e realizando uma pesquisa para escrever sobre os erros grotescos cometidos pelos nossos dirigentes, que resultaram nas sucessivas crises que assolaram o País, a partir de Getúlio e do Estado Novo.