Por Cláudia Souza
06/07/2015
As ONGs Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Artigo 19, e Feedown House condenaram os assassinatos de Filadelfo Sánchez Sarmiento, no dia 2, em Oaxaca, de Juan Mendoza Delgado, cujo corpo foi localizado na mesma data, em Veracruz , dois dias após ter sido sequestrado, e de Gerardo Nieto Alvarez, morto no último dia 26, em Guanajuato.
Em comunicado oficial Lucie Morillon, representante da RSF, exigiu das autoridades mexicanas das regiões de Oaxaca, Veracruz e Guanajuato, nas quais os três assassinatos foram registrados, rigor na apuração das mortes:
— As investigações dos crimes contra profissionais de imprensa precisam ser conduzidas de forma imparcial, independente e exaustiva para que os responsáveis por estes crimes hediondos sejam punidos, e para tomarmos conhecimento se os assassinatos estão relacionados ao exercício do jornalismo.
Parentes de Filadelfo Sánchez Sarmiento, diretor da rádio La Favorita, denunciaram que o jornalista estava recebendo ameaças de morte e de ataques à emissora desde setembro de 2014, possivelmente por pessoas ligadas ao prefeito de Mahuatlán, Oaxaca, mas que, entretanto, a polícia não deu início à investigação. Sarmiento foi atingido por sete tiros disparados por dois homens, na noite do último dia 2, quando saía da rádio, ao final do expediente.
O governo de Oaxaca solicitou ao Ministério Público “uma investigação diligente que conduza à prisão dos responsáveis pelo assassinato do radialista”.
No mesmo dia o corpo do jornalista Juan Mendoza Delgado foi localizado em um necrotério na região de Veracruz. Delgado, que dirigia o site jornalístico “Medellin de Bravo” havia desaparecido um dia antes do crime.
A ONG RSF afirmou em nota oficial que o jornalista foi assassinado dias após criticar o governador de Veracruz, Javier Duarte, que afirmara que os jornalistas da região teriam ligações com o crime organizado.
Juan Mendoza Delgado desapareceu na última terça-feira, dia 30. O corpo foi localizado dois dias depois com sinais de tortura e marcas de quatro tiros no pescoço. A polícia acredita na hipótese de o jornalista ter sido morto por atropelamento intencional, após o espancamento.
A ONG Artigo 19, que atua em defesa da liberdade de imprensa, considera a morte de Delgado como “um caso de assassinato para censurar o direito à liberdade de expressão”.
No último dia 26, foi localizado o corpo decapitado do jornalista Gerardo Nieto Alvarez no município de Comonfort, em Guanajuato. Ele era diretor do jornal “The Gadfly”.
O Escritório dos Direitos Humanos do Estado de Guanajuato (PDHEG), lamentou a morte do jornalista Gerardo Nieto Alvarez. Em um comunicado oficial, o Procurador de Justiça Gustavo Rodriguez Junquera instou as autoridades estaduais e municipais a investigarem o crime:
— A privação da vida é um fato condenável em todas as circunstâncias e, neste caso particular, falamos de um jornalista cujo trabalho simboliza um dos grandes valores da nossa democracia que é a liberdade de expressão. O Escritório de Direitos Humanos vai monitorar a investigação durante o tempo que for necessário, e emitirá uma resolução nos termos da legislação aplicável.
Impunidade
De acordo com dados da RSF, em 2014, o México foi apontado como a região mais letal das Américas para a atuação dos jornalistas, passando a ocupar a 148ª posição no ranking dos 180 países do mundo que mais desrespeitam a liberdade de imprensa.
Dados da entidade mostram que mais de 80 profissionais de imprensa foram mortos e outros 17 desapareceram no México na última década.
O jornalista Javier Garza, especialista em gestão de risco na ONG Freedom House, com sede em Washington(EUA), fundada em 194, por Eleanor Roosevelt, entre outros defensores das liberdades e do jornalismo independente, afirmou que a impunidade é responsável pela onda de violência que avança contra profissionais de imprensa no México há mais de uma década.
— Muitos atores políticos e criminosos ainda acreditam que a eliminação de jornalistas é a solução para os seus problemas, e que estão licenciados para matá-los. Mais da metade dos casos de assassinato de jornalistas foram registrados nas regiões de Veracruz e Oaxaca, cenário das mortes de Filadelfo Sánchez Sarmiento e Juan Mendoza Delgado.
Segundo Garza, os assassinatos no México, em geral, são precedidos pelos crimes de sequestro e/ou tortura, e não culminam em punição para os responsáveis:
— Sob essas condições o exercício da liberdade de expressão representa uma utopia em áreas do México como Tamaulipas e Veracruz, onde os jornais locais evitam publicar matérias relacionadas ao narcotráfico. É a chamada lei do silêncio e aquele que ousa rompê-la paga com a própria vida.
*Fonte: RSF, Freedown Hosuse, Artigo 19