A ABI sediou nesta quinta-feira, 15, o lançamento do “Ano Marighella”, em comemoração ao centenário de nascimento de Carlos Marighella, líder revolucionário, ícone da luta contra a ditadura militar no Brasil. Para resgatar a memória do guerrilheiro serão realizados ao longo do ano seminários, debates, palestras e exposições.
O evento na ABI foi realizado no auditório Oscar Guanabarino, com a presença de mais de 500 pessoas. Formaram a mesa de honra o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, o Presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, Cecília Coimbra, do Grupo Tortura Nunca Mais, Carlos Eugênio Clemente, da Rede Democrática, Ivan Pinheiro, da Fundação Dinarco Reis, Secretário Geral do Partido Comunista Brasileiro(PCB), Iara Xavier Ferreira, representando Zilda de Paula Xavier, Rafael Martinelli, Amanda Matheus, do MST, e Luiz Rodolfo Ribeiro de Castro, coordenador da comissão organizadora do “Ano Marighella”.
A solenidade teve início com a exibição do documentário “Carlos Marighella – Quem samba fica, quem não samba vai embora”, do cineasta Carlos Pronzato, que reúne depoimentos sobre a trajetória do revolucionário brasileiro. Participam dezenas de militantes políticos históricos que atuaram junto a Marighella, além de jornalistas, pesquisadores e historiadores entre os quais Rubem Aquino, Rômulo Noronha, Edileuza Pimenta, Alípio Freire, Fernando Santana, Carlos Augusto Marighella, Clara Charf, viúva de Marighella, Muniz Ferreira, Aton Fon, Takao Amano, Sílvio Tendler.
Pronzato apresenta uma narrativa linear sobre o baiano –filho do operário Augusto Marighella, imigrante italiano, e da baiana Maria Rita dos Nascimento, descendente de escravos africanos do Sudão, Haussás-, estudante de Engenharia; sua luta no PCB; o enfrentamento à ditadura Vargas; a eleição para deputado constituinte em 1945; a dissidência do Partido Comunista; a fundação da ALN e a adoção da luta armada; resistência, perseguição, tortura e morte.
Após a sessão do filme e a execução do Hino da Independência do Brasil e de “A Internacional”, Luiz Rodolfo Ribeiro de Castro conduziu a formação da mesa. Maurício Azêdo proferiu o discurso de abertura:
—Companheiros e companheiras, membros da mesa, em especial o Presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, representante da instituição que tem papel relevante na luta pela abertura dos arquivos da ditadura, pelo aprofundamento das conquistas de um verdadeiro estado democrático de direito como aquele pelo qual lutamos durante mais de duas décadas. E Cecília Coimbra, do Grupo Tortura Nunca Mais, que teve uma ação de extremo desvelo em defesa das vítimas da ditadura militar. A Associação Brasileira de Imprensa sente-se muito confortada e à vontade para dividir com a Fundação Dinarco Reis que celebra um dos grandes combatentes pelo progresso social do Brasil, neste ato que homenageia o centenário deste admirável líder revolucionário que foi Carlos Marighella, diante do qual nós assumimos aqui manter a luta indormita, corajosa e desprendida que ele teve até ser vítima de uma armadilha da ditadura em 4 de novembro de 1969, na Alameda Casa Branca, em São Paulo. Enaltecendo Carlos Marighella vamos ouvir agora o depoimento radiofônico no qual ele expôs suas idéias, que ainda hoje mantém o viço de atualidade.
Em seguida, Wadih Damous falou sobre a importância de Marighella para a história nacional:
—Estou honrado em participar deste ato histórico que valoriza a História do Brasil e sublinha a atividade de um líder revolucionário brasileiro. Durante a ditadura militar, membros da OAB desceram aos porões para defender aqueles que estavam sendo perseguidos e torturados. Alguns de nós jamais saíram mais de lá. Uma bomba foi explodida em nossa sede em 1980, vitimando uma funcionária, o que justifica a nossa presença em uma solenidade como esta.
Wadih sublinhou a luta da OAB pela abertura dos arquivos da ditadura:
—Ao longo dos últimos quatro anos empregamos esforços, ainda que modestos, ainda que isolados do âmbito do sistema interno da OAB. Por incrível que pareça, os advogados estão longe de formar uma classe revolucionária. Aliás, Lenin já dizia o seguinte: -“Olha, cuidado com esse negócio de advogado…”(risos). Posso até mesmo ser criticado por estar aqui em um ato no qual se cultua a imagem de um terrorista, pois é esta a imagem que se quer passar para as gerações vindouras. Estou aqui honrando Sobral Pinto, Evandro Lins e Silva, Fernando Fragoso, Modesto da Silveira, Eny Moreira, e todos os homens e mulheres que em uma determinada fase de sua vida foram chamados a prestar seu depoimento perante a História e não desonraram o povo brasileiro.
O Presidente da OAB assinalou a relevância da Campanha pela Memória e pela Verdade:
—Nosso objetivo é que as novas gerações saibam o que aconteceu no Brasil e que aqueles fatos jamais se repitam. Logo depois do lançamento da campanha tivemos um revés com a decisão do STF, que considerou anistiados os torturadores brasileiros. Hoje, os torturados são os negros, pobres, favelados. Precisamos afirmar o cumprimento da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, contra esta realidade. Queremos os torturadores e assassinos no banco dos réus. A juventude brasileira precisa saber pelos livros escolares quem foram Carlos Marighella, Sérgio Fleury, Cabo Anselmo. Queremos dar sequência à Comissão pela Memória e pela Verdade a partir, inclusive, da composição de seus membros para evitarmos que nomes que deveriam estar sendo convocados a depor estejam, na verdade, integrando a comissão. No âmbito do Rio de Janeiro, vamos analisar a participação de juízes e promotores nos processos da ditadura. Uma história que ainda não foi contada neste País. Juízes e promotores que deixaram de cumprir com seu ofício para mandar para as masmorras e para a morte diversos combatentes e perseguidos políticos.
Na sequência, Cecília Coimbra reforçou a relevância dos trabalhos da Comissão pela Memória e pela Verdade:
—Hoje reli o “Rondó da Liberdade”, de Marighella. Há uma frase muito atual: “É preciso não ter medo. É preciso ter a coragem de dizer”. Precisamos ter coragem de dizer e acabar com o medo. Para isso queremos uma comissão autônoma, independente, que não mantenha o sigilo, que se responsabilize e, efetivamente, promova no Brasil um processo de reparação, de acordo com o conceito da ONU, que é investigar, averiguar e responsabilizar pelos crimes cometidos em nome da segurança nacional. Queremos que todos os assassinatos sejam investigados, esclarecidos e responsabilizados. Para isso não podemos ter medo. Há um ano a Comissão Interamericana deu uma sentença ao Estado brasileiro que até hoje não foi cumprida. Vou repetir uma frase dita por Carlos Eugênio no livro “Carlos- a face oculta de Marighella”, de Edson Teixeira da Silva Júnior, que é a seguinte: “Tenho orgulho de pertencer ao lado que não se calou”. O Grupo Tortura Nunca Mais também tem orgulho de pertencer ao lado que não se cala.
Inimigos
Amanda Matheus, representante do MST, destacou a participação dos movimentos sociais nas homenagens ao líder revolucionário:
—Queremos agradecer a nossa presença aqui. É muito significativo para o Movimento Sem Terra. O MST fez uma homenagem ao líder Marighella há algum tempo. Nosso companheiro Ademar Bogo escreveu um texto que eu gostaria de ler. Diz o seguinte: “Carlos Marighella mesmo depois de assassinado ainda amedronta os inimigos. Comanda, mesmo no silêncio, através das idéias e dos exemplos um exército de gerações que acreditam nas mudanças revolucionárias. Aprendera nos combates que para cada ofensiva do inimigo, devia abrir outra frente política. Procurar caminhos alternativos e diversificados, pois é na ação que se faz a orquestração para acompanhar o movimento das mudanças. A geração de Marighella foi de rupturas e é universal porque o imperialismo também o era. Golpeava em todos os lugares do mundo: naqueles já vendidos e nos que ainda haveria de vencer. A geração de Marighella se recolheu e guardou os fuzis. As massas foram ensinadas a empunhar bandeiras. Encheram as alamedas e avenidas ouvindo o próprio grito dos aflitos; e o barulho permitiu que o algoz se juntasse a nós. Carlos Marighella nunca deixará de ser uma lembrança combativa. Sua imagem continuará viva em nossa memória e em nossos corações. Seus exemplos renascem da consciência das novas gerações.” Marighella é um exemplo para o MST porque ele veio do povo e permaneceu junto à classe trabalhadora. Ele faz parte da história da luta de classe no Brasil. Mesmo na clandestinidade resistiu e lutou. Nós do MST trazemos viva a memória de Marighella.
Rafael Martinelli, que foi dirigente ferroviário e integrante da ALN, assinalou a onda de violência que marcou o golpe de 64:
—Milhares e milhares de camponeses foram torturados, não apenas pelo Exército, mas pela polícia e pelos latifundiários. Tive muitos companheiros que morreram na cadeia em 1964. A ditadura também odiava a categoria dos jornalistas. As crianças e os jovens estudantes precisam aprender o que foi a ditadura e o que representa a luta pela democracia. Estou falando aqui para mais de 500 pessoas. Não tem tanque de guerra, não tem pau-de-arara, não tem cadeira de dragão. Precisamos aproveitar a democracia para realizarmos atos como este. Quero deixar aqui a minha solidariedade e dizer ,com os meus cabelos brancos, que cheguei a ter 150 companheiros da ALN presos, que nunca disseram que eu era dirigente, e é por isso que eu estou aqui vivo.
Após o depoimento de Martinelli, Luiz Rodolfo Ribeiro de Castro leu uma nota sobre a instalação na Câmara dos Deputados da Comissão Parlamentar de Acompanhamento dos Trabalhos da Comissão da Verdade, sob a coordenação da Deputada Luíza Erundina. Em seguida, passou a palavra para Iara Xavier Ferreira, irmã de Iuri e Alex Xavier Pereira, assassinados pela ditadura.
—Falo aqui em nome de minha mãe, Zilda Xavier, de meu pai e meus irmãos. Uma família que desde o início esteve engajada na luta e na organização proposta por Marighella contra a ditadura militar. Falo em nome de companheiros e companheiras da ALN que não podem falar, mas que estão aqui presentes na nossa lembrança hoje e sempre. Poderia falar dos companheiros e companheiros que resistiram às campanhas de cerco e aniquilamento promovidas pelo regime militar contra a ALN e morreram lutando. Alex, Iuri, Arnaldo Cardoso, Élcio Pereira, Gelson Reis, Luis José da Cunha, Luis Afonso Miranda, entre outros. Peço licença para falar sobre o início da Ação Libertadora Nacional na Guanabara. É uma história até hoje pouco conhecida e divulgada. Ao contrário do que aconteceu em São Paulo, onde Marighella contou com o apoio vários companheiros homens como Joaquim Câmara Ferreira, nosso comandante Toledo, para estruturar a ALN. Na nossa Guanabara Marighella contou com o apoio de um grupo de mulheres guerreiras que foram fundamentais na formação e sustentação da ALN no Rio. Maria Antonieta Gomes, Maria Cerqueira, Maria do Carmo, Ednéa Vieira, Zilda Paula Xavier Pereira, que organizava e liderava este grupo. Algumas eram militantes desde a década de 40. Lutaram contra a ditadura de Vargas e mais tarde contra a ditadura militar de 64 a 85. Participaram do Socorro Vermelho em solidariedade aos presos políticos da ditadura de Vargas. Foram importantes nas eleições de 46, participaram da campanha pela paz, da campanha O Petróleo é Nosso, e da liga feminina, da eleição de JK e de João Goulart, o Comício da Central, que antecedeu o golpe.
Quando Marighella resistiu à prisão, após o golpe, sinalizando que rompera com a postura pacifista do PCB, e levantou a bandeira da guerrilha contra a ditadura militar, as mulheres foram as primeiras a se alistarem, recorda Iara, que citou também a grande mobilização dos militantes Domingos Fernandes, Carlos Eugênio, Carlos Fayal, Ronaldo Dutra, Paulo Henrique, Jorge Raimundo, Rômulo Noronha.
—Essas companheiras que nós na época chamávamos de velhas, tinham entre 40 e 60 anos. Elas estavam na retaguarda montando os aparelhos de apoio, na segurança, no transporte de armas e dinheiro. Elas também participaram e fizeram a guerrilha urbana e por esta participação foram presas, torturadas e resistiram, sobreviveram e continuaram na luta pela anistia ampla, geral e irrestrita e pela democracia no País.
Zilda Xavier Ferreira, presente no evento, foi responsável pela estrutura e montagem do aparelho onde Marighella ficava no Rio. Fazia o contato entre os diversos grupos da ALN, no Rio e em São Paulo, e organizava a ida e a volta dos militantes que se deslocavam para treinamento no exterior. Uma função estratégica dentro da ALN, segundo Iara, que falou também sobre a sua convivência pessoal com Marighella:
—Nossa relação foi ao mesmo tempo afetiva e política. Conheci-o quando criança. Ele era um dos dirigentes do PCB que se reuniam em nosso apartamento no Flamengo. Nasci, cresci e me eduquei entre comunistas. Quando Marighella passou da palavra à ação, segui seus passos, ou melhor, seu comando. Meus primeiros tempos de militância foram sob as ordens do comandante Marighella. Cumpri várias tarefas. Marighella sempre dizia que não há uma tarefa menor ou maior. Uma delas foi o projeto da Rádio Libertadora, a rádio clandestina da revolução. Com a censura e o cerco à Marighella, ele começou a pensar em formas para se comunicar e fazer chegar ao povo sua proposta de luta. Fui para o exterior fazer treinamento militar, onde já estavam meus irmãos Iuri e Alex. Retornaram também minha mãe e Câmara Ferreira, que quando Marighella foi morto estavam cumprindo missão no exterior. Retornaram para reestruturar a guerrilha urbana e desencadear a guerrilha rural tão sonhada por Marighella.
Com emoção, Iara citou a participação da mãe neste contexto:
—Minha mãe não vacilou e retornou ao País para servir à ALN. Presa e barbaramente torturada, não entregou ninguém. Buscando uma forma de fugir, simulou uma crise de loucura e foi internada no Hospital Pinel. O PCB, através de David Capistrano Filho, conseguiu chegar ao hospital e ofereceu apoio para a fuga de Zilda. Ela agradeceu, mas recusou, e altiva informou que tinha uma organização, a Ação Libertadora Nacional, que a iria resgatar. E assim, no dia 1º de maio, conseguiu fugir e foi enviada ao exterior, onde ficou responsável por organizar a volta dos companheiros que tinham terminado o treinamento, inclusive seus filhos. Os tempos atuais são tempos de memória que devem ser fiéis aos tempos das idéias, da luta, da vida e da morte de Marighella. Devemos lembrar daqueles que deram suas vidas à luta pela revolução e o socialismo.
Filho de Marighella, Carlos Augusto revelou que quando o pai morreu, foi chamado à redação de um jornal na Bahia para reconhecê-lo em uma fotografia enviada por telex, registrada no momento em que ele foi assassinado, e lembra que ficou chocado também com as manchetes sensacionalistas sobre o crime:
—Tenho participado de vários encontros como este e percebo que aos poucos está se dissipando a imagem de bandido e criminoso que sempre foi feita de meu pai. Recentemente ele recebeu o título de Cidadão de São Paulo. A Comissão Nacional de Anistia, em 5 de dezembro, reconheceu a condição dele de anistiado. Nesse ato estavam presentes várias autoridades importantes do País, que apontaram meu pai como um heroi nacional. Todos os brasileiros podem se orgulhar, como aqui na ABI, uma instituição importante, simbólica, da qual foi Presidente Barbosa Lima Sobrinho, que dedicou a vida a denunciar a opressão e a tirania no Brasil, cujo trabalho Maurício Azêdo está dando continuidade. Este ato na ABI resgata a memória de Marighella e o apresenta como o homem que lutou a favor do povo brasileiro, pelo qual ele nutria grande paixão, aceitando aqui ficar para lutar. Quero compartilhar este momento com todos vocês e com Zilda, que simboliza toda esta emoção. Precisamos continuar a luta de Marighella. Estamos tendo aqui uma prévia da Comissão pela Memória e pela Verdade, que necessita do nosso apoio para apontarmos os criminosos que sufocaram o nosso País e saudarmos os nossos herois.
Ivan Pinheiro também frisou a dimensão nacional do papel de Marighella na construção do Brasil:
—A juventude precisa ser educada com este exemplo de luta. Ele louvou a história do nosso partido. Não é correto dizer que a luta armada atrapalhou o processo de abertura política e não é correto dizer que só aqueles que pegaram em armas lutaram pela ditadura. As formas de luta foram muitas com os sindicatos, os movimentos estudantis, os intelectuais, artistas, a advocacia de Modesto da Silveira em nossas vidas. Rubens Paiva foi assassinado, Manoel Fiel Filho foi assassinado, Vladimir Herzog foi assassinado, dezenas de companheiros do Comitê Central do PCB que não aderiram à luta armada foram assassinados. Então, vamos celebrar a unidade que tivemos na luta contra a ditadura. Marighella usou todas as formas de luta que um revolucionário usa. Digo isto com muita emoção. Tenho orgulho em dizer que sou da Geração de 68, fiz parte do MR 8 e do PCB. Somos comunistas como Marighella porque a nossa luta não acabou. Vamos comemorar a nossa pequena vitória contra o capitalismo, que hoje promove uma ditadura ainda mais cruel, mais violenta. Se Marighella estivesse aqui não ficaria contando história, ele nos convocaria para a guerra contra o imperialismo. Estou muito emocionado e quero dizer que aqui há duas presenças na plateia que me fazem balançar e quase chorar: Zilda Xavier e o companheiro Eliseu, que também está comemorando aqui o seu aniversário de cem anos. Ele foi vereador do Rio na maior bancada comunista nos anos 40, e líder de sindicalista.Vamos aplaudi-lo!
Em seguida, Ivan Pinheiro convidou Dinarco Reis Filho para subir ao palco e fazer a entrega da Medalha Dirnaco Reis ao filho de Marighella.
—Anualmente entregamos esta condecoração aos cidadãos que honraram o PCB. Este ano estamos homenageando Marighella, que morou um período na casa de Dinarco Reis Filho, no Catete. Dinarco Reis, como Marighella, usou todas as formas de luta. Colocamos o nome dele em nossa fundação pela sua combatividade. Ele pegou em armas em 1935, no Levante Comunista, na Resistência na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa. Concedemos esta medalha, independente das armas e das formas de luta, aos revolucionários brasileiros que honraram o nosso partido e ajudaram a construir o socialismo. No ano passado, concedemos a medalha a Gregório Bezerra e a Ana Montenegro, dois brasileiros que usaram a arma mais poderosa contra a opressão que é a arma da palavra.
Após a homenagem, Carlos Eugênio, que foi dirigente da ALN, iniciou seu discurso revelando a satisfação em fazer parte da cerimônia:
—Como o samba diz que quem samba fica e quem não samba vai embora, lembrei de outro samba que diz que é hoje o dia da alegria. Estamos aqui, não para falar de morte, mas para falar de vida, exemplo de vida. Estou alegre em pertencer a um povo que originou Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira, Rafael Martinelli, Fayal, Jonas, Wilson Silva. O alto comando das Forças Armadas em conluio com o Governo norte-americano condenou muitos companheiros à morte. Em 1964 eu tinha 13 anos de idade e vi nas ruas apenas um time, o time da direita, das Forças Armadas. Nós na ALN começamos a luta cercados, em situação de cerco tático e estratégico. Eles tiveram 21 anos para criar um modelo e tirar da cabeça das nossas crianças a solidariedade e colocar no lugar a competitividade. Imaginem a força criativa de Marighella sendo usada para construir uma sociedade no lugar ser usada para destruir uma ditadura!
Antes do encerramento do encontro, os Deputados Paulo Ramos e Geraldo Moreira anunciaram a futura homenagem da Assembléia Legislativa do Rio à Carlos Marighella e militantes políticos que serão condecorados com a Medalha Tiradentes.