Emoção marca velório de Niemeyer


07/12/2012


Depois do velório em Brasília, que contou a com presença da Presidenta Dilma Rousseff, o corpo do arquiteto Oscar Niemeyer chegou na madrugada desta sexta-feira, 7 de dezembro, ao Rio de Janeiro, onde foi novamente velado no Palácio da Cidade, em Botafogo, em cerimônia aberta ao público. O evento contou com a participação de políticos, artistas e profissionais da imprensa.
 
Entre os presentes estiveram o Governador do Rio, Sérgio Cabral; o Prefeito da cidade, Eduardo Paes; o Governado de Minas Gerais, Antônio Anastasia; o Prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda; o ex-Governador do Paraná e também arquiteto, Jaime Lerner, além do jornalista Merval Pereira, do cartunista Ziraldo e do escritor Zuenir Ventura.
 
Ziraldo lembrou a militância de Niemeyer em defesa dos ideais comunistas. “Para minha geração, para meus amigos, para o pessoal que combateu as coisas que a gente combateu, foi um privilégio ter a presença de Niemeyer nas nossas vidas”, disse.
 
Já Zuenir Ventura destacou a longevidade do mestre, que se manteve ativo até os últimos anos de vida. “Niemeyer nos acostumou tanto com a ideia de que, além de gênio, era imortal, que a morte acabou pegando a gente de surpresa. Fiquei com a esperança de que alguém ia desmentir a morte dele.”
 
O jornalista Roberto D’Ávila também apontou a longevidade de Niemeyer. “Os grandes gênios viveram muito tempo, como Picasso e Miró, mas ninguém chegou aos 104 anos trabalhando. Ele deixou uma grande escola, mas a arquitetura dele não é repetível. Era um homem extraordinário. Ele se preocupava com a questão humana de tudo, ele tinha uma bondade incrível.”
 
O poeta maranhense Ferreira Gullar lamentou a perda irreparável para o País e para a arquitetura mundial. “Ele tinha uma arquitetura poética. Introduziu não só a forma curva, mas também a leveza. Os prédios parecem flutuar. Para nós, amigos, é uma dor irreparável”, afirmou.
 
Luís Carlos Prestes Filho, que esteve presente junto com a mãe, Maria Prestes, lembrou a amizade do arquiteto com seu pai. “Ambos foram os grandes comunistas do Brasil. A população não perde apenas um grande artista, mas também um grande homem. Sempre foi muito solidário com os ideais do meu pai”, lembrou.
 
Na opinião da socióloga Maysa Machado, fundadora do Movimento de Mulheres do PDT e do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, a longevidade de Niemeyer era reflexo não apenas de sua genética, mas de seu amor pela vida e pelos valores que defendia. “Para mim, ele era a síntese do que o orgulho de ser brasileiro. Com ele, vai-se um pouco da pujança que a minha geração herdou de lutar pelas causas que acreditamos”, comentou.
 
A professora Marilda Campos, também uma das fundadoras do PDT no Rio, lembra um episódio ocorrido enquanto ainda era diretora do Ciep Avenida dos Desfiles, no Sambódromo, uma das obras projetadas por Niemeyer.
 
“Nós queríamos fazer pequenas mudanças, como a criação de jardins, hortas, além de pintar linhas na avenida para que as crianças pudessem usar como quadra esportiva. A resposta das autoridades era sempre negativa, pois afirmavam que Niemeyer jamais autorizaria mudanças em seu trabalho. Entrei em contato com o arquiteto, pedindo que ele me recebesse, e para minha surpresa, ele agendou nosso encontro já para o dia seguinte. Ele não só autorizou nossos projetos, como ainda proferiu uma frase que eu jamais esquecerei: se a arquitetura não serve ao homem, então ela não serve a nada.”
 
Mas não foram apenas pessoas que conheceram pessoalmente o arquiteto que estiveram presentes para prestar uma última homenagem. A artista plástica e professora de história da arte Ana Cristina Nadruz se declarou uma grande fã de Niemeyer. “Ele foi um dos maiores gênios da Humanidade. Um carioca, um brasileiro de convicções. Ele irá continuar presente na memória de todos por meio de seu legado”.
 
Na opinião do administrador Jorge Luiz Reis Kudsi, a grande marca deixada por Niemeyer é seu compromisso com a beleza, seja de suas obras ou de seus ideais. “Ele lutou por mais igualdade, foi um visionário. É uma perda irreparável, mas acredito que ele cumpriu com sua missão”, acredita. 

* Com informações de O Globo e Uol Notícias.