27/04/2006
José Reinaldo Marques
28/04/2006
Paciência, mais até do que frieza e concentração, e uma boa dose de coragem são qualidades convenientes a quem faz cobertura de Cidade, devido ao alto índice de violência nos grandes centros urbanos. Porém, para o repórter-fotográfico Adriano Pereira, o perigo, com as devidas ressalvas, não é motivo de preocupação:
— Tenho vários projetos, entre eles cobrir uma guerra. Sempre gostei do perigo.
Paulistano, 34 anos de idade e dez de profissão, Adriano diz que as câmeras fotográficas sempre estiveram presentes em sua vida. O pai foi cinegrafista da extinta TV Tupi e trabalhou com o cineasta Hector Babenco, mas ele preferiu a fotografia tradicional ao cinema:
— O objeto de captura de imagem sempre esteve ao alcance das minhas mãos. A fotografia mexeu mais comigo pelo fato de eu poder ficar olhando durante horas e descobrir novas leituras de uma mesma imagem.
A primeira câmera fotográfica (uma Ektar 20 da Kodak) foi presente do pai, no 10º aniversário. Quando entrou para a faculdade de Jornalismo — formou-se pela PUC de Campinas, em 1996 — Adriano já sabia que queria trabalhar com fotografia:
— Quem se arrisca a ser repórter-fotográfico sem saber se realmente tem aptidão para a profissão desiste no primeiro mês. É o que acontece com muitos recém-formados quando terminam a faculdade, pois acreditam que serão logo pautados para fazer grandes reportagens. Então, se são convocados pelo editor para uma matéria sobre um buraco na rua, ficam desolados, achando que é o fim do mundo.
Adriano começou a fotografar profissionalmente em 1996, em Campinas:
— Antes de entrar para o Correio Popular, fiz alguns frilas na sucursal de Campinas da Folha de S. Paulo. Depois passei rapidamente pelo jornal Todo Dia, de Americana, e atualmente trabalho no diário Valeparaibano, de São José dos Campos.
Ele elogia o fotojornalismo que começou a se desenvolver no Brasil nos anos 60, principalmente em revistas como O Cruzeiro:
— A Fatos e Fotos, por exemplo, era um paraíso para o repórter-fotográfico, mas grandes nomes no fotojornalismo trabalharam tanto em revistas como jornais e fizeram história, como Evandro Teixeira, Jorge Araújo, Pedro Martinelli e Maurício Lima.
Entre os estrangeiros, sua preferência é o húngaro Robert Capa:
— Ele me marcou muito com sua característica de procurar o que ninguém procura numa notícia. É espetacular. Capa foi o único profissional que fotografou camponeses russos trabalhando nas lavouras em plena Segunda Guerra e também a estar presente no desembarque das Forças Aliadas na Normandia, no Dia D. Seu trabalho, além de inusitado, tem arte, técnica e muita sensibilidade.
Para Adriano, é fundamental não esquecer o papel social da fotografia:
— O mundo chegou num ponto em que as barbaridades e injustiças estão na nossa cara e não temos mais como ficarmos cegos diante delas. Boas fotos podem render ótimas novas reportagens de denúncia e investigação.
Estar filiado a alguma associação de classe também deveria ser requisito indispensável para o fotojornalista, em sua opinião:
— Mas isso só acontece na grande imprensa, a maioria dos profissionais fica fora desse processo. A digitalização da fotografia também mudou muito o cenário, hoje todo mundo se acha fotógrafo com uma câmera digital na mão. Alguns veículos chegam ao absurdo de abrir espaço para os leitores aparecerem como repórteres-fotográficos. Isso nivela a profissão por baixo, como se o fotojornalismo fosse fruto apenas de um equipamento.
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