05/07/2006
Rodrigo Caixeta
07/07/2006
Márcia Foletto começou a fotografar no primeiro ano da faculdade de Jornalismo, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde Fotojornalismo foi a única matéria em que tirou nota 10 durante todo o curso. Na mesma época, estreou em um jornal semanal, escrevendo:
— Trabalhei com texto por pouco tempo, como repórter do Expresso, publicação de Santa Maria hoje extinta. Porém, logo percebi que tinha mais habilidade com a imagem do que com as palavras. Comecei então como fotógrafa em A Razão, na mesma cidade.
Antes de se formar, Márcia mudou-se para Caxias do Sul e foi trabalhar no Pioneiro, hoje da RBS. Depois de um ano, e já formada, entrou no Diário Catarinense, em Florianópolis, onde teve a primeira experiência em um grande jornal, com páginas coloridas e coberturas nacionais. No entanto, quis ir ainda mais além. Montou um portfolio, pegou alguns contatos com amigos e veio para o Rio de Janeiro:
— Fui às redações do Dia, do Globo e do Jornal do Brasil pedir uma oportunidade aos editores de Fotografia. No Globo, quem estava à frente do setor era o Aníbal Philot, que me contratou como freelancer na editoria Jornal de Bairros, em 1991. E lá estou desde então, agora na editoria Rio.
O fundamental para fotografar, diz Márcia, é saber observar e tentar ser invisível na cena, pois é isso que pode “deixar a imagem sem interferência e, assim, mais forte, interessante e provocante”. Recomenda também ao interessados em ingressar na profissão muita leitura, estar bem informado e ter consciência de seu papel como jornalista. Outra advertência é sobre a tendência de os brasileiros acharem que apenas o que faz sucesso lá fora é bom e de qualidade:
— Isto é um grande equívoco. No Brasil temos ótimos profissionais, alguns trabalhando há anos em jornais, outros seguindo o caminho da fotografia documental fora dos veículos tradicionais… Destaco o trabalho daqueles que conseguiram, mesmo com as adversidades da profissão, imprimir um estilo e uma qualidade estética nas fotografias. E, acima de tudo, desenvolver um trabalho ético, com preocupação social.
No Globo, Márcia cobre assuntos de cidade e polícia, que, segundo ela, é uma das coberturas mais difíceis. Diz que é comum estar numa favela, começar um tiroteio entre policiais e traficantes e a equipe ficar na linha de tiro, “sem saber ao certo como se comportar”:
— É um risco que dificilmente dá uma boa foto. Geralmente a melhor imagem é feita um pouco mais distante, onde os moradores tentam se proteger das balas, por exemplo.
Márcia diz que o assunto tem sido freqüente nas discussões entre fotógrafos:
— Não é exatamente uma cobertura de guerra, não temos treinamento, não usamos coletes, não temos seguro e principalmente, não optamos por estar ali. Mas nos vemos no meio do conflito. Na última ocupação do Exército no Morro da Providência, no Rio, em março deste ano, eu e alguns colegas estávamos no meio de um descampado quando começou o tiroteio e ficamos no meio do fogo cruzado. Tivemos que ficar deitados no chão até os tiros acalmarem e podermos correr por um abrigo em pouco melhor.
Adaptada à tecnologia, a fotógrafa diz que o único problema da imagem digital é a falta de qualidade, mas afirma ter certeza de que isso não é definitivo:
— Ninguém sabe ao certo aonde a tecnologia vai nos levar. E há grandes vantagens no trabalho com a câmera digital: você pode ver a imagem na hora, não tem o limite dos fotogramas do filme e é mais fácil armazenar a produção. Mesmo assim, não pretendo me desfazer da minha analógica; ela vai ficar guardada para trabalhos pessoais, feitos com tempo e carinho.
Em sua carreira, Márcia acumula o Prêmio Finep de Fotojornalismo — por “Revista no morro Dona Marta”, em que são mostradas crianças com as mãos encostadas na parede, sendo revistadas por soldados do Exército na entrada da favela, na volta da escola —, o Prêmio CNT — “Vôo duplo” —, o Prêmio IBCCRIM de Fotojornalismo, do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais — por “Infância na favela” —, e o terceiro lugar no Concurso “Veracidade — um olhar sobre o meio ambiente urbano” — pela foto “Rua Santa Clara”. Também participou de várias exposições e orgulha-se especialmente da última, a primeira individual, intitulada “Quando o ofício encontra a arte”, em que fez uma retrospectiva de sua vida profissional, a convite do Centro Cultural Telemar.
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