Por Cláudia Souza*
01/03/2014
O mês de fevereiro de 2014 foi o mais letal para a imprensa nacional. Em três semanas, foram registrados sete assassinatos de jornalistas, além de casos de agressão. O Brasil se tornou o país com o maior número de jornalistas mortos nas Américas, segundo o relatório anual da organização Repórteres SemFronteiras (RFS). Em 2013, cinco jornalistas mortos no País; já em 2014, sete jornalistas foram mortos em apenas 20 dias.
Nesta quinta-feira, 27, o corpo do jornalista Hélton Souza, de 28 anos, foi encontrado com sinais de estrangulamento, no Centro de Exposições da cidade de Valentim Gentil, região de Fernandópolis, no interior de São Paulo. O crime de latrocínio (roubo seguido de morte) já foi descartado pela Polícia Civil.
De acordo com o jornal Região Noroeste, os investigadores trabalham com a hipótese de que o jornalista teria ido ao local para um possível encontro. Os policiais vão solicitar a quebra do sigilo telefônico do celular do jornalista para tentar identificar a última pessoa com quem ele entrou em contato.
Hélton Souza, que era assessor de imprensa da Santa Casa de Fernandópolis, estava desaparecido desde às 10h desta quarta-feira, 26, quando saiu de sua casa, em Pedranópolis, para ir à academia, de acordo com o jornal O Estado de S. Paulo.
O carro do jornalista foi abandonado a três quilômetros de distância do local onde um pintor, que trabalha nas obras da guarita do Centro de Exposições, encontrou o corpo do jornalista, que estava com uma camisa enrolada no pescoço e com a calça comprida abaixada. Segundo a polícia, o local que está em obras é usado por usuários de drogas e mendigos.
Crime
Também nesta quinta-feira, 27, o jornalista e radialista Geolino Lopes Xavier, conhecido como Geo Lopes, de 44 anos, foi morto a tiros, por volta das 21h, na região central de Teixeira de Freitas, cidade localizada a 900 km de Salvador (BA). Geo Lopes deixa mulher e um filho, o também jornalista Joris Xavier Bento.
Geo Lopes era um dos diretores do portal N3 e foi assassinado no interior de seu veículo, que apresentava o logotipo do portal. Os criminosos atiraram de dentro de um carro, e ainda não foram identificados.
Momentos antes do crime, o jornalista estava na companhia do colega Djalma Ferreira, na Rua da Saudade. Djalma disse ter ouvido tiros após Geo Lopes chegar em casa, e que teria visto o veículo dos assassinos sair em alta velocidade.
Radialista desde 1989, Lopes atuou como apresentador de TV, foi vereador do município de Teixeira de Freitas, entre 2004 a 2008, e era pré-candidato a deputado federal pelo PL para as próximas eleições.
Morte cerebral
No dia 6 de fevereiro, o cinegrafista da Band Santiago Andrade, foi atingido por um rojão na cabeça, quando fazia a cobertura de manifestação contra o aumento das passagens de ônibus no Rio de Janeiro. O profissional teve morte cerebral.
O locutor de rádio Carlos Dias, e o proprietário de uma sucata foram assassinados a tiros no início da tarde do dia 17 de fevereiro, em Patu, no Rio Grande do Norte. Morador da cidade de Lucrécia, e funcionário da Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern), Carlos Dias apresentava o programa ‘Juventude Agora’ na Rádio Juventude de Messias Targino.
O delegado Sandro Régis, titular da delegacia de Patu, informou que os dois foram atingidos por vários disparos de armas de fogo vindos de um carro que passava na avenida principal da cidade.
Para o delegado, os tiros tinham como alvo Nílson da Sucata, que segundo o titular da Delegacia de Polícia Civil de Patu, já respondeu a inquéritos por crimes na região e tinha inimigos na cidade. “O locutor de rádio estava no lugar errado na hora errada. Nílson tinha envolvimento com roubos de carros e até homicídios. Ele tem uma sucata na entrada da cidade e também revendia carros”, afirma Sandro Régis.
Carlos Dias negociava a compra de um carro com Nílson no momento em que os suspeitos passaram no local. “Foram vários tiros de diversos calibres. Estou aguardando a perícia do Itep (Instituto Técnico-Científico de Polícia), mas já identificamos disparos de pistolas ponto 40 e 9 milímetros, de uso restrito das Forças Armadas, e de espingarda calibre 12”, disse o delegado.
Apagão
Em 11 de fevereiro, o radialista Edy Wilson da Silva Dias, 34 anos, foi morto a tiros por dois adolescentes, durante o apagão que atingiu a cidade de Pinheiros, no Espírito Santo. Edy era locutor na Rádio Explosão Jovem FM, em Pinheiros, e apresentava um programa aos domingos, das 9h ao meio-dia.
A polícia chegou aos acusados através de uma testemunha que presenciou o crime. Um dos assassinos, um menor de 16 anos, foi preso na sexta-feira, dia 14 de fevereiro. O outro criminoso, de 15 anos, foi preso na manhã do dia 17, por policiais militares. Os assassinos tinham registro na Polícia por roubo, furto e tráfico de drogas. A polícia investiga agora o mandante e a motivação do crime.
Segundo informações da Polícia Militar, o radialista estava em frente ao mercado municipal, quando os dois menores se aproximaram em uma moto e fizeram quatro disparos, atingindo Edy Wilson na cabeça, no abdômen e no tórax.
Oposição
Em 13 de fevereiro, o jornalista Pedro Palma, de 47 anos, foi morto com três tiros, na porta de casa, quando chegava do trabalho. Dois homens passaram em uma moto, chamaram por ele e fizeram os disparos, acertando dois tiros no peito e um no ombro da vítima.
Pedro Palma era dono e único repórter do jornal semanal “Panorama Regional”, que circula em dez municípios do Centro-Sul Fluminense. Nos últimos cinco meses, o jornal passou a fazer oposição à gestão do prefeito de Miguel Pereira, Cláudio Valente (PT).
Outro crime registrado em fevereiro foi o do câmera da TV Cabo Mossoró (TCM), José Lacerda da Silva, 50 anos, morto a tiros na noite de domingo, dia 16, no bairro Belo Horizonte, em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado ao Hospital Regional Tarcísio Maia, onde morreu. O enterro foi realizado na tarde de segunda-feira, 17, em Luís Gomes(RN), cidade natal de José Lacerda.
Relatório
A Secretária de Direitos Humanos (SDH), da Presidência da República, ministra Maria do Rosário, informou que pretende lançar, ainda neste mês de março, um relatório que reunirá mais de 200 casos de agressões contra os profissionais de imprensa no Brasil. A SDH pretende criar um observatório para acompanhar os casos de violência contra os profissionais.
Os dados do relatório sobre a violência estão sendo apurados pela SDH, em conjunto com o Grupo de Trabalho Comunicadores, do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH).
O GT Comunicadores vem monitorando há um ano os casos de violência contra os jornalistas e comunicadores. “Se um indivíduo for morto por ser jornalista, vamos acompanhar para que os culpados sejam punidos exemplarmente. Identificamos a existência de grupos de extermínio contratados para atacar os profissionais que desafiam e desequilibram as relações de poder. Isso é uma afronta à liberdade de expressão e de imprensa”, disse Tássia Rabelo, Coordenadora do CDDPH.
*Com Portal Imprensa