Elza Cansanção: uma mulher que fez história


11/12/2009


A morte da Major enfermeira reformada do Exército Brasileiro Elza Cansanção Medeiros, aos 88 anos, abre uma lacuna nas áreas da História, do Jornalismo, das artes e principalmente no patriotismo, deixando muitas saudades. Primeira voluntária para servir na Segunda Guerra Mundial pelo Brasil, se alistou no dia 18 de abril de 1943, logo após terminar o curso de Enfermagem das Samaritanas da Cruz Vermelha. Ela atendeu prontamente ao chamado patriótico que a nação urgia quando do torpedeamento dos navios da Marinha Mercante brasileira. A militar dizia que cumpria um dever, porque seu pai, o sanitarista Tadeu de Araújo Medeiros, auxiliar direto de Oswaldo Cruz na campanha contra a febre amarela, já estava com mais de 60 anos e seu único irmão já havia falecido. 

Elza Cansanção Medeiros nasceu em 21 de outubro de 1921, no Rio de Janeiro, filha de pais alagoanos. Com a criação do Quadro de Enfermeiras da Reserva do Exército, a jovem de 22 anos participou da primeira turma do Curso de Emergência de Enfermeiras do Exército, em 1944. Em 25 de março daquele ano, ela estava formada nas primeiras colocações, junto a Maria do Carmo Correa e Castro e Berta Moraes, todas com notas 9,5. Elza ficou em terceiro lugar devido ser a mais nova do grupo. Porém, teve a honra de ser a oradora da turma e, quando do envio das tropas brasileiras à Itália, foi a primeira convidada para integrar o Destacamento Precursor de Saúde, que foi enviado àquele país, em 9 de julho de 1944. 

No dia 16 de julho, dia seguinte à chegada a Nápolis, Elza foi para a seção hospitalar brasileira do 45th Field Hospital, recebendo cerca de 300 brasileiros que chegaram feridos e que para aquele hospital haviam sido encaminhados. Distribuídos nas várias enfermarias que compunham o hospital, os pracinhas ficaram também sob os cuidados das enfermeiras e dos médicos norte-americanos. Dado que os brasileiros e os norte-americanos não compreendiam o idioma um do outro, a enfermeira Elza foi também intérprete, tendo seu nome bradado pelos alto-falantes do hospital inúmeras vezes. O Comando Militar do Leste ressaltou que nenhum dos feridos cuidados por ela veio a falecer.
Com o fim da guerra, em 8 de maio de 1945, a ainda tenente Elza foi licenciada do Exército no mês de julho. Mas ela foi uma das 24 das 67 enfermeiras promovidas rapidamente da Segunda para a Primeira categoria. Ela passou dois anos viajando e em 1947 ingressou, por concurso público, no Serviço Médico do Banco do Brasil, onde ficou por 12 anos. Já formada jornalista pela antiga Faculdade Nacional de Filosofia, ela se filou à ABI, e em 1955 publicou seu primeiro livro, “Nas barbas de Tedesco”, contando sobre a atuação da Força Aérea Brasileira nos campos da Itália. 

Em 1957, Elza Cansanção foi convocada por força de Lei no mês de setembro, voltando ao Exército como adida à Diretoria Geral de Saúde. Daquele ano até 1962, serviu em várias unidades e chegou a ser condecorada pelo Governo do Paraguai. Ela colecionou, em sua passagem pelo Exército Brasileiro, 36 medalhas, sendo considerada a decana das mulheres militares do Brasil. Ela é autora de outros livros, além de “Nas barbas de Tedesco”: “E foi assim que a cobra fumou”, “Dicionário de Alagoanês”, “Eu estava lá” e “1…2…Esquerda…Direita…Acertem o passo”. Elza no ano passado estava à procura de uma editora para publicar “Mulheres: alicerce de uma pátria forte”, sobre o perfil de 110 personagens femininas cujas vidas foram marcadas pelo pioneirismo.

Artista plástica com produções premiadas em escultura, pintura, tapeçaria, artes cênicas e também cantora de rádio, a múltipla personalidade de Elza Cansanção Medeiros soube, ao longo de todos os papéis que tem representado na vida, dignificar o Brasil não só como heroína de guerra e inquebrantável preservadora da Memória Histórica da FEB, mas, sobretudo, como a aguerrida mulher brasileira, da mesma fibra e estirpe de Maria Quitéria de Jesus, Sóror Joana Angélica, Ana Néri, Ana Lins de Vasconcelos, Ludovina Portocarrero e Rosa Fonseca, mulheres que, na luta pelos seus sonhos e ideais, fizeram e ilustraram a história de nosso País.
A Major Elza morreu no dia 8 de dezembro, no Rio de Janeiro, de complicações de uma fratura no fêmur.