A capa do jornal venezuelano El Nacional, na edição desta quarta-feira, 18 de agosto, aparece com um espaço em branco, onde deveria estar “uma foto de um pai chorando por um filho que não tem mais”. No lugar da imagem está escrito “censurado”, em protesto contra a proibição do Presidente Hugo Chávez de o veículo publicar fotos de morte e violência. O fato chamou a atenção da mídia em todo o mundo.
“Proíbem a publicação de imagens e notícias sobre a violência”, diz a manchete da primeira página do El Nacional. Junto a um outro espaço em branco, o jornal apresenta o seguinte texto: “Se aqui houvesse outra imagem, você veria dirigentes políticos exigindo que a CICPC (polícia científica) desse cifras que não se pode publicar”.
Segundo a agência Reuters, a decisão de proibir a publicação das fotos foi tomada por um Tribunal da Venezuela, depois de o jornal ter sido denunciado pela Defensoria Pública de Caracas, pela publicação de uma foto de cadáveres amontoados em um necrotério, na capa da edição da última sexta-feira, 13 de agosto.
A imagem que ilustra a reportagem é de dezembro do ano passado, mas o diretor do El Nacional, Miguel Otero, disse que a sua publicação foi uma forma de chamar a atenção do Governo para a onda de violência que atravessa o país, cujo resultado é a superlotação dos necrotérios.
A reportagem foi considerada pelo Governo como uma manobra oposicionista contra o Partido Socialista do Presidente Hugo Chávez, visando às eleições legislativas de 26 de setembro.
Para o tribunal, a foto “viola os direitos de crianças e adolescentes”. Enquanto editores e jornalistas acusam as autoridades venezuelanas de praticarem uma “censura prévia” absurda, com a proibição das imagens.
Conforme noticiou a Folha Online, o Colégio Nacional de Jornalistas da Venezuela emitiu um comunicado dizendo que a medida judicial que proíbe a publicação de fotos de violência pode “gerar autocensura” nos veículos afetados. Eles criticam o Governo também por se utilizar de “uma causa nobre, os direitos dos jovens e crianças, para silenciar a imprensa nacional”.
* Com informações da Reuters e da Folha Online.