12/12/2008
Eliane Martins |
Cícero Sandroni, Cláudio Murilo, Laura Sandroni, Alessandro Molon e Geancarlo Summa |
Foram duas as comemorações que reuniram no Casarão do Cosme Velho gente como os acadêmicos Afonso Arinos de Melo Franco, Candido Mendes e Cícero Sandroni, o cartunista Ziraldo, a escritora Ana Arruda e a cantora Clara Sandroni. Em cerimônia realizada na manhã desta sexta-feira, dia 12, eles festejaram os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o 110° aniversário de nascimento de Austregésilo de Athayde, que, como Delegado do Brasil, participou da III Assembléia da ONU, em Paris, e integrou a comissão que redigiu a Declaração. O “Casarão”, como é conhecido o número 599 da Rua Cosme Velho, foi o endereço do imortal por mais de 50 anos e hoje é um Instituto Cultural batizado com seu nome.
Emocionada, a escritora Laura Sandroni, filha de Austregésilo e de Dona Maria José, comentou:
— A comemoração de hoje é a estréia oficial do Instituto Cultural Austregésilo de Athayde, que já funcionava com pequenos eventos e divulgação pela internet, porque não tínhamos conseguido ainda o alvará de funcionamento. Abrigamos também o Centro Cultural Casarão Austregésilo de Athayde, que tem várias atividades, especialmente musicais, e pretende abrigar, no futuro, um Centro de Direitos Humanos com biblioteca especializada e também com livros voltados para o público infantil.
Clara, Cícero e Laura Sandroni |
Ao falar dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, Laura relembrou:
— Em 1948, meu pai foi convidado pelo Presidente da República (General Eurico Gaspar Dutra) e o Ministro das Relações Exteriores (Raul Fernandes) a ser o Embaixador brasileiro trabalhando na terceira Comissão que iria redigir a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Isto porque toda vida, como jornalista, ele lutou pelos direitos humanos de toda a forma aqui no País. Foi contra a ditadura de (Getúlio) Vargas, foi exilado, preso… Infelizmente, uma história muito comum no Brasil e na vida de muitos de seus grandes homens. E ele foi para a Europa, então, com minha mãe e comigo, de navio. A Conferência começou no fim de setembro e terminou no dia 10 de dezembro, quando, exatamente, ele assinou a Declaração. A Comissão era presidida pela Senhora Anna Eleanor Roosevelt, mulher do Presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt. Entre os representantes de 68 países, meu pai foi o escolhido para fazer o discurso de apresentação da Declaração perante a ONU inteira reunida.
Orgulho
Laura Sandroni e Molon |
Aos 14 anos de idade na época, Laura Sandroni recorda que ficou muito orgulhosa do pai:
— Foi muito bom para mim e para minha mãe. Senti uma grande emoção ao ver meu pai falando diante daquela multidão de pessoas vestidas com as roupas mais extraordinárias da África, da Ásia, falando as línguas que eu nunca tinha ouvido. Não tinha o discernimento que tenho hoje, mas percebia que aquilo era uma coisa muito importante e achava meu pai um homem muito importante. A gente sabe que até hoje a Declaração nem sempre é cumprida. Mesmo nos países que a assinaram, muitas vezes há tortura, prisão, discriminação de raça e classe, enfim, todas essas coisas que não dignificam o homem e o desconsideram como a coisa mais importante do Universo.
Para a escritora, ainda há muito a se fazer para se chegar perto do que a Declaração dos Direitos Humanos propõe:
— É como se fossem os dez mandamentos, que o homem tenta seguir e, por vezes, não segue. Apesar de tudo, acho que meu pai teve grande importância, porque trabalhou muito como jornalista na redação da Declaração e lutou para que o nome de Deus fosse posto nela, porque a maioria dos países era católico — ele próprio dizia que já não era, embora tivesse sido seminarista. Vamos ver se um dia a gente consegue pôr em ação todos os artigos da Declaração.
Mesa
A celebração incluiu uma mesa de debates, em que Laura recebeu seu marido, Cícero Sandroni, Presidente da Academia Brasileira de Letras; o Deputado Alessandro Molon, Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro; Geancarlo Summa, Diretor do Centro de Informação da ONU no Brasil; e Cláudio Murilo, Presidente do PEN Clube do Brasil.
Em seu discurso, Alessandro Molon expressou a indignação geral com a absolvição do policial militar que matou o menino João Roberto, em julho passado:
— Vejo com profunda tristeza que no aniversário de 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos a sentença do tribunal tenha sido incompatível com a gravidade do resultado da ação policial. É como se o Estado não tivesse a obrigação de nos oferecer uma policia treinada para nos proteger e nos dar segurança.