Dos álbuns de família para a imprensa


05/07/2007


Rodrigo Caixeta
06/07/2007

Luciana Tancredo não se lembra ao certo como começou a fotografar. Porém, guarda na lembrança que sempre foi a fotógrafa das viagens da família — “carregava a máquina para todo lado e lembro que minha mãe vivia reclamando que não tinha uma foto legal minha para colocar no porta-retrato”, diz a fotojornalista, que ganhou do pai, dentista e professor da UFRJ, a primeira câmera, uma Nikon F2, que ele usava para fotografar dentes:
— Ele fotografava todos os casos complicados do consultório para usar nas aulas da faculdade. Foi o máximo o dia em que ele percebeu que eu gostava mesmo de fotografar e me presenteou com sua máquina.

A carreira profissional começou na Tribuna da Imprensa, primeiramente como estagiária, depois como contratada. O ingresso no jornal se deu de forma curiosa, como ela conta:
— Naquela época, a Tribuna não tinha fotógrafo para cobrir o dia-a-dia da editoria de Esportes, à exceção de quando havia jogo no Maracanã. Um amigo meu, repórter de lá, sabia que eu estava me formando e me convidou para acompanhá-lo na cobertura da chegada do Botafogo ao aeroporto do Galeão. Segundo ele, eu poderia fotografar e, se os editores gostassem das fotos, haveria a possibilidade de eu ficar como estagiária. Às 5h eu estava no aeroporto… Eles publicaram três fotos minhas e me chamaram para fazer estágio no Esporte.

No Tribuna Bis, suplemento do mesmo jornal, Luciana assinou uma coluna de fotografia, escrevendo sobre exposições e lançamentos de livros e entrevistando fotógrafos como Sebastião Salgado e Walter Firmo. Em seguida, trabalhou para a revista Casa & Jardim, até retornar para os diários, na sucursal carioca do Estadão. Passou ainda por uma assessoria de imprensa e pela Caras, antes de conhecer Eny Miranda, hoje sua sócia na agência Ciadafoto.

Para a Tribuna, Luciana fotografou dois GPs de Fórmula 1, Copa América no Maracanã, shows do Rolling Stones e de Sting e festivais de música como Free Jazz, Rock in Rio e Hollywood Rock, entre outros. Para a Caras — em que exercitou o lado paparazzo — fez “viagens incríveis, dentro e fora do Brasil, que renderam fotos e matérias muito legais”:
— Acompanhei a visita do Papa João Paulo II e do ator Harrison Ford, em sua estada na Bahia para uma conferência de ecologia; participei duas vezes do Festival de Parintins e fiz a cobertura de viagens do então Presidente Fernando Henrique a Washington e Madri.

Curiosidade e ousadia

O fotógrafo, de acordo com Luciana, tem que ser um eterno curioso, rápido e ousado. Deve ainda estar atento ao que acontece ao seu redor, e, ao mesmo tempo, ter paciência para esperar o momento certo de apertar o botão da máquina:
— Ser uma pessoa bem-informada e antenada com os fatos do dia-a-dia também é uma vantagem para quem quer ser um bom fotojornalista.

Contrapondo-se à opinião de alguns profissionais que dizem que a fotografia digital acabou com o charme de processos tradicionais como o corte e a revelação, Luciana afirma que o fotógrafo criativo encontra uma forma própria de criar e fazer arte dentro da nova linguagem:
— Em qualquer profissão a tecnologia muda, evolui e temos que acompanhar isso sem preconceito, senão ficamos velhos e ultrapassados. Aprendi a fotografar com negativo preto e branco, revelando e ampliando fotos dentro do quarto escuro, mas hoje curto tratar uma imagem no Photoshop.

Ainda que reconheça o talento dos fotojornalistas atuais — “que têm um olhar diferenciado e se destacam no mercado” —, Luciana se inspira mesmo no trabalho das gerações mais antigas. Embora não tenha participado de nenhuma exposição, já teve suas fotos publicadas em “O Rio sob a lente de seus fotógrafos”, um projeto da Prefeitura realizado para a Conferência Rio 92, e no “Livro do ano da Agência Estado”, com as melhores imagens de 1991. Sobre novos projetos, fala modestamente:
— Nunca fui de planejar muito… As coisas sempre aconteceram naturalmente na minha vida profissional, mas confesso que hoje, quando não estou trabalhando, o que eu mais gosto de fotografar e mais me dá prazer é a natureza, principalmente de flores e pássaros. Perco horas — ou melhor — ganho horas do meu dia, fotografando uma orquídea que acabou de florescer numa árvore no meu sítio, uma saíra-de-sete-cores comendo nêsperas, ou um beija-flor tranqüilo em seu ninho. Essa é a minha forma de reciclar a cabeça, de espairecer do estresse do dia-a-dia corrido que a gente leva. Acho que esse é o meu projeto de vida… 

 

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