07/08/2024
Por Geraldo Cantarino, conselheiro da ABI
No ano em que o golpe civil-militar de 1964 completa 60 anos, dois livros sobre a ditadura (1964-1985) foram vencedores na cerimônia de premiação da primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, realizada na terça-feira (06/08), no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
Na categoria Antropologia, Sociologia, Demografia, Ciência Política e Relações Internacionais, o primeiro lugar foi compartilhado pelos livros A torre: o cotidiano de mulheres encarceradas pela ditadura (Companhia das Letras, 2023), da jornalista Luiza Villaméa, e Entre risos e perigos: artes da resistência e ecologia quilombola no Alto Sertão da Bahia (7Letras, 2023), de Suzane de Alencar Vieira. Na categoria História e Arqueologia, a obra vencedora foi As comissões da verdade e os arquivos da ditadura militar brasileira (Editora Universidade de Brasília, 2023), da historiadora e arquivista Mônica Tenaglia.
O Prêmio Jabuti Acadêmico, nova premiação dedicada às áreas científicas, técnicas e profissionais, contou em sua edição inicial com quase duas mil obras inscritas num total de 29 categorias, distribuídas nos eixos de Ciência e Cultura e Prêmios Especiais. Além de receberem uma estatueta dourada, os autores premiados em cada categoria ganharam um prêmio de R$ 5 mil. Confira aqui a lista completa dos vencedores.
Promovido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) com o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o prêmio visa reconhecer o valor das produções acadêmicas que impulsionam o avanço do conhecimento no país. O tradicional Prêmio Jabuti, instituído em 1958, destaca-se hoje como a maior distinção literária no Brasil.
A Torre
O livro A torre: o cotidiano de mulheres encarceradas pela ditadura, da jornalista Luiza Villaméa, aborda a participação de centenas de mulheres em organizações clandestinas nos anos de chumbo. Boa parte delas foi presa e ao menos 43 morreram durante a resistência à ditadura, muitas vezes em decorrência das bárbaras torturas a que foram submetidas.
Amparada por extensa pesquisa documental e por cem entrevistas, a autora apresenta um minucioso panorama da experiência das mulheres encarceradas na Torre, uma construção centenária que fazia parte de uma das alas do Presídio Tiradentes, em São Paulo. No decorrer de quatro anos, entre 1969 e 1973, pelo menos 132 mulheres passaram pelo local.
Luiza Villaméa é formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em história pela Universidade de São Paulo. De 2012 a 2017, foi repórter especial da revista Brasileiros. Antes disso, trabalhou no jornal O Globo e nas revistas Veja e IstoÉ. Recebeu diversos prêmios, entre eles o Esso pela série Filhos do Brasil e o Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo pela reportagem Quando meninos são fichados como terroristas.
Comissões da Verdade
O livro As comissões da verdade e os arquivos da ditadura militar brasileira, de Mônica Tenaglia, explora o contexto histórico-legal das comissões da verdade no Brasil e no mundo, e reconstrói as estratégias e ações das comissões brasileiras para o acesso aos arquivos da ditadura militar (1964-1985).
A partir da análise da emergência do reconhecimento dos arquivos para as investigações sobre violações dos direitos humanos e a efetivação do direito à informação, à verdade e à memória, a obra discute o fenômeno da criação de comissões da verdade em todo o território nacional brasileiro e as relações dessas comissões com os arquivos.
Nesse sentido, evidenciam-se a insuficiência das políticas de gestão documental e um quadro de negação, ocultamento e destruição dos arquivos do período da ditadura militar. No entanto, identifica-se que, apesar dos problemas e limitações, as comissões da verdade conseguiram criar estratégias e implementar ações para superar essas dificuldades, dentre elas, parcerias com as universidades, especialmente com os cursos de Arquivologia.
Mônica Tenaglia é professora adjunta no curso de Arquivologia e no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Pará. Possui doutorado em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, com período sanduíche na Escola de Informação da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, além de mestrado em Arquivologia pela University College London, na Inglaterra.