27/11/2006
Claudio Carneiro
01/12/2006
A regra três do futebol permite que um jogador machucado seja substituído por outro em melhores condições. Na fotorreportagem, basta o titular faltar para o reserva entrar em campo. Foi assim que começou a carreira de Lorena Manarim. Corria o ano de 86, a carreira de dois anos como laboratorista do jornal O Paraná, da cidade de Cascavel, deu um salto no dia em que o fotógrafo da casa não apareceu na redação. Ela foi convocada para fotografar uma rodovia e entrou em campo um tanto temerosa. O receio era compreensível: nunca tinha fotografado em toda a sua vida.
Ao voltar da missão com a Olympus do jornal, Lorena foi direto para o laboratório para revelar e ver o “estrago” que havia feito. As melhores fotos ela deixou na mesa do dono do Paraná, Emir Sfair:
— Saí de fininho. Logo, ele mandou me chamar. Fiquei gelada. E ele me disse: “Você será nossa fotógrafa de agora em diante”.
Pelo jeito, a ex-laboratorista continua dando conta do recado. É fotógrafa do mesmo jornal há 20 anos. Depois de pôr “o pé na rodovia”, ela já cobriu tudo o que o estômago de um fotógrafo de Geral pode agüentar. Foram diversos acidentes, envolvendo crianças inclusive, e outras tragédias. A morte de Teixeirinha, líder dos sem-terra, assassinado por policiais militares do Paraná, dentro do próprio acampamento, em 93, foi um dos mais marcantes:
— Uma outra vez, fui à Cidade do Leste, no Paraguai, para cobrir um protesto contra políticos. O episódio teve o envolvimento de policiais e o clima ficou quente. Noutra ocasião, também na fronteira, há 12 anos, eu cobria um comício quando, de repente, o ginásio desabou, matando inúmeras pessoas.
Aos 47 anos, 22 deles dedicados ao jornal, Lorena Manarim acha que a fotografia é fundamental para se fazer uma boa matéria. Indagada sobre quais fotos são a marca registrada de seu trabalho, ela tem a humildade de dizer que não tem um estilo definido, uma vez que considera todas as pautas igualmente importantes.
— A fotografia é parte essencial de uma reportagem. Dependendo da pauta que recebo, consigo demonstrar emoções dos envolvidos no fato e até mesmo a minha.
Crianças
A fotógrafa tem seus temas preferidos. Acidentes e matérias policiais revelam seu gosto pela ação e movimento. A área agrícola também a atrai:
— Mas gosto mesmo é de fotografar crianças. As crianças exercem um encanto especial por sua ingenuidade, naturalidade e pureza. Não há interesse de aparecer por aparecer. Elas têm uma delicadeza toda especial e trazem um conteúdo emocional — isento de maldade — que serve ao jornalismo. Crianças não transferem seus problemas; transmitem o que sentem com um sorriso, com um gesto.
Lorena considera irrelevante o fato de ser mulher para exercer a atividade que escolheu. Não parece ter sofrido com preconceitos, mas também não recebeu qualquer tipo de ajuda por pertencer ao que poucos ainda chamam de “sexo frágil”:
— Ser mulher nunca atrapalhou o exercício da minha profissão. Mas também não posso dizer que tenha colaborado.
Ser fotojornalista, para Lorena, é transformar o equipamento que se tem nas mãos em uma extensão da própria visão. Aos novos fotógrafos e fotógrafas, ela dá um conselho:
— Sigam em frente com os seus sonhos. Todos devem lutar para alcançar seus objetivos. Acredito que, nessa carreira, não há discriminação entre os sexos. Todos têm as mesmas chances de obter sucesso.
Sobre os avanços tecnológicos aplicados à profissão, ela tem suas resistências:
— Hoje a máquina disponibiliza todos os recursos necessários. É só chegar e apertar o botão. Assim, qualquer pessoa pode fazer uma foto digital. Por isso, prefiro as máquinas com filmes e no modo manual, pois há como trabalhar melhor a fotografia.
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