21/05/2007
José Reinaldo Marques
Uma grande polêmica, para quem se interessa tanto pelos bastidores da imprensa quanto pelas teorias sobre ela, é o descompasso entre os que pensam o jornalismo na sociedade e os que efetivamente fazem as notícias que chegam à sociedade diariamente. O diálogo entre os campos prático e teórico praticamente inexiste e o resultado deste distanciamento é perceptível nos estudos que analisam a prática e na prática que muitas vezes carece de um aprofundamento teórico. Enquanto permanece a divisão, é difícil avaliar o que se perdeu e o que se ganharia com a aproximação das duas áreas.
A grande dificuldade para se resolver o impasse parece estar na falta de convergência de opiniões entre os pesquisadores e os jornalistas, embora ambos os lados concordem que o dissenso precisa ser resolvido o quanto antes, em benefício do próprio jornalismo. Nos encontros de pesquisadores e nos encontros de jornalistas, o tema não fica totalmente ausente da pauta de prioridades, mas é visto com reserva pelos dois lados.
Os pesquisadores lutam para que o Jornalismo seja reconhecido como uma área específica das Ciências Humanas, mas falta unidade nas interpretações e na adoção e aplicação dos conteúdos e conceitos que classificam a Teoria do Jornalismo como fonte de investigação científica.
Competição
Muniz Sodré |
Muniz Sodré, professor titular da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acha muito difícil haver um consenso entre jornalistas e pesquisadores. Ele acredita que a divergência de opiniões é “um mal-estar necessário que afeta o jornalismo — e não somente ele”. Em sua opinião, o jornalista vive imerso em sua prática, dominando o texto e os meios de produção da notícia, e “se comporta com onipotência e com raiva da universidade”, numa espécie de competição pela transmissão da informação:
— Na imprensa, o profissional é obrigado a se expressar com simplicidade, sobre as aparências imediatas, com um ideal de clareza que às vezes sacrifica a verdade. Mas a realidade é mais complexa e o jornal tem limitações, da mesma forma que a universidade tem as dela.
Muniz diz que é preciso ressaltar que o jornalista e o pesquisador, apesar de aparentemente terem os mesmos interesses, atuam em frentes de trabalho diferenciadas. Por isso, a falta de clareza sobre o assunto não é questão de “burrice dos jornalistas e nem obtusidade dos pesquisadores”: — A resistência que o jornalista tem contra o pesquisador é porque ele domina melhor seu instrumento de trabalho, mas os dois atuam em níveis de discurso diferentes. Eu, por exemplo, teria dificuldade em definir teoricamente o que é notícia. Na prática, sei fazer, mas a singularidade da notícia é difícil explicar. Como já disse, o jornalista vive no império da clareza, enquanto o pesquisador lida com o pensamento não atual e, às vezes, com o que é obscuro.
Joseti Marques |
Para Joseti Marques, Doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-Diretora de Jornalismo da ABI, a pesquisa em Jornalismo não tem como principal objetivo tornar mais eficiente a técnica profissional da construção da notícia, e sim pensar a inserção da prática jornalística na sociedade:
— Todo jornalista deveria ter consciência da real dimensão do seu papel como agente social. Assim como em qualquer outra profissão, o aprimoramento e a ampliação do conhecimento são uma necessidade. Aliás, para o jornalista, deveria ser uma obrigação.
O professor e pesquisador Gerson Luiz Martins, membro da Sociedade Brasileira dos Pesquisadores de Jornalismo (SBPJor), diz que é preciso deixar claro que uma atividade profissional voltada para as ciências humanas só se desenvolve com o estudo e a pesquisa, que, por sua vez, não podem ficar restritos à academia:
— É preciso acabar com esse descompasso geral. Podemos divergir na questão política da democratização da comunicação, mas somos parceiros na busca da qualidade do jornalismo, da ética, da liberdade de imprensa e outros temas. Temos que convergir esforços e, fundamentalmente, entender que a relação, em mão dupla, é muito importante para o alcance do nosso objetivo comum.