Nesse 1º de Maio, recomendamos o livro Ditadura, a cumplicidade da Volkswagen e a resistência dos trabalhadores, organizado pela Associação Heinrich Plagge, com pesquisa de Rosana Gonçalves e entrevistas, pesquisa e texto final de Solange do Espírito Santo e Gonzaga do Monte, que está sendo lançado pela Alameda Editorial.
A Associação Heinrich Plagge é o resultado do amadurecimento de reuniões realizadas entre os trabalhadores da Volkswagen do Brasil que, desde 2015, discutem memória, verdade, justiça e reparação na busca por Direitos Humanos.
Heinrich Plagge foi uma das vítimas da colaboração da Volkswagen com a ditadura militar. Na época militante sindical e integrante das lutas de resistência democrática, ele foi preso dentro da fábrica onde trabalhava e mantido sequestrado nas câmaras de tortura do DOPS por mais de três meses.
Durante a ditadura militar, as prisões aconteciam dentro das fábricas e já a tortura começava para depois prolongar-sse nos orgãos de repressão. Humilhações eram constantes, com “chiqueirinhos” para os que não se curvavam à intolerância e endereços eram fornecidos com as fichas funcionais. Era a cumplicidade entre a ditadura e as empresas transnacionais.
Décadas se passaram e as páginas dessa história ficaram escondidas. Até que as provas da cumplicidade foram reveladas pelas Comissões da Verdade. Os trabalhadores perseguidos, presos e torturados, que não pararam de lutar, finalmente viram a luz da justiça acender. O resultado da luta, no caso da Volkswagen, maior montadora de veículos no Brasil daquela época, foi vitorioso, com o reconhecimento das violações aos direitos humanos que cometeu na ditadura. Este livro resgata todo esse percurso e deixa registrada a verdadeira história do que os trabalhadores na Volkswagen viveram nos anos de chumbo. E, ainda que tardiamente, mostra que o sonho daqueles jovens não era impossível.
No livro, pesquisadores mostram como a empresa emprestou e depois doou carros para a Operação Bandeirante, que depois se tornou o Doi-Codi, o mais letal centro de tortura e repressão política do regime militar. A Volks também mantinha um departamento interno que delatava funcionários considerados subversivos ou comunistas. Nas dependências de sua fábrica, no ABC paulista, ocorreram casos de tortura, como o de Lúcio Belentani, preso em 1972.
Fruto das ações da Associação Heinrich Plagge, o livro consolida as pesquisas feitas pelo Ministério Público, que firmou acordo, recentemente, com a Volkswagen por suas atividades golpistas, abrindo a porta do necessário processo de responsabilização da empresa.
A colaboração da Volkswagen com a ditadura militar no Brasil foi tema do filme Cúmplices? A Volkswagen e a ditadura militar no Brasil, lançado pela TV pública alemã. O filme é centrado na história de Lúcio Bellentani, figura central no inquérito que corre no Ministério Público Federal. A produção está tendo grande repercussão na Alemanha por apresentar a cumplicidade da empresa com o regime de torturas e opressões que se instalou no Brasil em 1964. Os documentos apresentados no filme são fruto do trabalho da Comissão Nacional da Verdade, continuado pelo IIEP. Além da Volks, outras empresas serão investigadas. O filme, com legenda em português, pode ser visto aqui.