17/07/2022
Por Ascânio Seleme, em O Globo
Sem qualquer legitimidade política ou institucional, o general Paulo Sérgio Nogueira deve ouvir um “alto não” às suas ideias eleitorais mirabolantes, às suas pretensões esquistoides e claramente golpistas. A proposta de fazer uma urna paralela para aleatórios votos em papel não é só absurda, ela é burra. Aliás, são tolas, estúpidas e inócuas quase todas as ideias emanadas do Ministério da Defesa desde que ele foi equivocadamente convidado a participar da comissão de transparência do TSE. Apenas uma meia dúzia de considerações feitas pelos representantes de Paulo Sérgio na comissão foram consideradas, nenhuma dizia respeito à segurança das urnas eletrônicas.
Não é por outra razão que muitos generais da ativa não escondem o desapontamento com o ministro da Defesa, como revelou ontem a repórter Bela Megale aqui no GLOBO. Além da sabujice explícita (Paulo Sérgio virou linha acessória de Bolsonaro no seu ataque ao processo eleitoral), as ideias de jerico produzidas em escala industrial no seu gabinete constrangem os comandantes militares. O general reformado, que comanda a Defesa na condição de um civil, deve ser imediatamente recolocado no seu lugar, longe do debate eleitoral, longe das urnas eletrônicas, longe dos palanques. Se quiser fazer política, que renuncie ao cargo executivo que tem de maneira provisória.
É preciso dizer não a Paulo Sérgio. Mais do que isso, é necessário isolar o ministro. O Congresso deve parar de convidá-lo a discutir o processo eleitoral, o TSE deve mandar um ofício ao seu gabinete informando que está satisfeito com a colaboração e que sua participação na comissão está definitivamente suspensa. Claro, o tribunal pode ser educado com Paulo Sérgio, mas não precisa. O ministro tem sido abusado, agressivo, tem adotado postura beligerante e poderia ser tratado da mesma maneira. O não que ele necessita ouvir pode ser dito de forma dura e firme, posto que legal.
Malicioso é o jogo que o ministro da Defesa tenta fazer. Suas propostas obviamente serão recusadas, mas um grande estrago já foi produzido. Basta entrar nas redes bolsonaristas para ver suas falas obtusas e mentirosas disseminadas aos quatro cantos como verdadeiras. Não vai demorar para pipocarem fake news sobre a manipulação do código dentro do TSE, certamente sendo feita sorrateiramente, na calada da noite, pelos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Claro que isso dará em nada mais uma vez, mas causa um enorme mal-estar e fadiga à democracia.
A Paulo Sergio não deve ser permitido que se movimente na direção da disrupção institucional nem um centímetro a mais. Ministro da Defesa deve sempre proteger a nação, nunca sobressaltá-la. Jamais assaltá-la. É preciso, portanto, dizer não ao general. Um não categórico. É urgente recolocar o ministro no quadrado que lhe pertence. Se ele ficar insatisfeito com o rechaço, dane-se. Que chame as tropas, que alinhe os tanques, que marche contra o TSE se tiver força e for ouvido. O que não se pode é permitir que um homem só se julgue capaz de interferir no processo eleitoral brasileiro. Digam não ao general. Já!