Dia Nacional do rádio e da radiodifusão


25/09/2024


Por Bernardo Sarmento, em Facha, em todo lugar 

Roquette Pinto, criador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (Foto: Reprodução)

Nesta quarta-feira (25) se celebra uma data marcante para a comunicação no Brasil: o Dia Nacional do Rádio. A escolha desse dia homenageia um de seus maiores pioneiros, Edgard Roquette-Pinto, nascido em 25 de setembro de 1884, que foi responsável por inaugurar as primeiras transmissões de rádio no país em 1922, durante as comemorações do Centenário da Independência. Desde então, o rádio se consolidou como um dos meios de comunicação mais populares, adaptando-se constantemente às inovações tecnológicas e às novas demandas de um público cada vez mais diversificado. Presente em todos os cantos do Brasil, o rádio não apenas se firmou como uma fonte confiável de informação, mas também como um meio ágil e próximo do ouvinte, que dá voz às comunidades e promove a troca entre culturas e pessoas.

A primeira transmissão 

A celebração pelo Dia da Independência em 1922 foi diferente.

No dia 7 de setembro de 1922, a programação da abertura da histórica e suntuosa Exposição Internacional do Centenário da Independência incluía um acontecimento inédito: a primeira transmissão oficial de rádio em solo brasileiro.

Apenas 80 receptores, conectados a estações com transmissores de 500 watts na Praia Vermelha e no Corcovado, conseguiram captar o discurso histórico do então Presidente da República, Epitácio Pessoa, que abria a Exposição. Mais tarde, foi possível ouvir também a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, transmitida ao vivo do Teatro Municipal. Sob efusivos aplausos de membros de delegações de mais de 50 países, que vieram para o evento, os alto-falantes do chamado “radio-telephone” ainda eram ruidosos e distorcidos.

Nem isso desanimou o organizador da façanha, Edgar Roquette-Pinto. Considerado o “Pai do Rádio”, Roquette-Pinto foi um dos mais respeitados intelectuais brasileiros e se debruçou sobre muitas áreas da ciência para além da ‘latinha’: médico de formação, foi antropólogo, estudou indígenas na Amazônia, dirigiu o Museu Nacional e até ocupou cadeira na Academia Brasileira de Letras. Sua data de nascimento, 25 de setembro, se tornou, também o Dia Nacional do Rádio.

Hoje, a historiografia não considera mais essa transmissão como a primeira em si realizada no Brasil, mas sim como a primeira oficial. É que o inventor e padre gaúcho Landell de Moura já tinha realizado uma transmissão pública de som por meio de ondas hertzianas em São Paulo, no ano de 1893, antes mesmo da divulgação do sucesso das experiências do italiano Guglielmo Marconi, considerado inventor do rádio.

Mas é importante destacá-la pois ela foi a semente inicial para o rádio se tornar um meio de comunicação de massa. A estação provisória, montada na Praia Vermelha e no Corcovado, se transformou na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro que, anos depois, foi doada ao Ministério de Educação e Cultura e hoje é a Rádio MEC, da Empresa Brasil de Comunicação.

As Cantoras do Rádio

O rádio se popularizou muito no Brasil a partir dos anos 30. Grandes personalidades foram reveladas pelo rádio, que passou a veicular programas educativos, de informação, de humor e, especialmente, de música. Foi nesse momento que fomos apresentados para as Cantoras do Rádio, que marcaram um período que perdurou até os anos 50 e que deixou marcas profundas na cultura popular.

Grandes programas de auditório, especialmente na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, davam espaço para grandes vozes femininas, que embalavam o público com canções que misturavam samba, choro e marchinhas. Em uma época em que a imagem dos artistas ainda não tinha tanta relevância, essas cantoras se tornaram ícones pela força de suas vozes, conquistando a fama e o imaginário dos ouvintes.

Uma delas era Carmem Miranda. Com sua mistura de malícia e carisma, brilhou tanto no Brasil quanto no exterior, sendo levada ao cinema americano e apresentando a música brasileira a todo mundo.

Outras cantoras como Aracy de Almeida, Isaurinha Garcia, Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Dircinha Batista e Dalva de Oliveira se tornaram extremamente populares nessa época e se destacaram por suas interpretações poderosas, imortalizando compositores como Noel Rosa e Ary Barroso. Ao lado de cantores como Francisco Alves e Orlando Silva, as mulheres davam voz à nova música brasileira que ali nascia graças ao poder do rádio como veículo de massas.

O rádio AM popular e o rádio FM musical

Com a popularização da televisão como meio de comunicação, o rádio passou por um grande processo de reinvenção de seu conteúdo. Enquanto as Cantoras do Rádio, os humoristas e os programas de auditório ganhavam espaço nas telas, o rádio trocou os grandes espetáculos por uma programação intimista, informativa e mais próxima do ouvinte. Com comunicadores no microfone, o foco passou a ser o chamado “rádio amigo”, trazendo informações de utilidade pública, prestação de serviço, radiojornalismo, transmissões esportivas e a música de sucesso dos discos da época.

Mais do que isso, o rádio, a partir do final dos anos 60, ganhou o interior do Brasil: cidades em todo o país ganharam uma estação de rádio, ressignificando o papel desse meio de comunicação como um amplificador de vozes voltado à comunidade e como propagador da cultura. Desse modo, o rádio também preencheu uma lacuna fundamental em lugares em que não existia nenhum meio de comunicação.

Transmitido até então apenas em Amplitude Modulada (AM), a chegada da Frequência Modulada (FM), no fim dos anos 70, representou uma revolução no modo de consumo do veículo, oferecendo qualidade de som superior, livre das interferências e ruídos que prejudicavam as transmissões em AM.

O rádio em FM se tornou rapidamente o preferido para a transmissão de músicas devido à sua clareza sonora e ao alcance mais estável, atraindo um público jovem e permitindo a popularização de gêneros como a música pop, o rock e a MPB. O rádio em AM, então, fortaleceu sua vocação como rádio popular e voltado para a comunidade.