26/01/2017
Criado em 2005, o jornal Voz das Comunidades, que até agora só tinha versão na internet, passará a ser distribuído, em fevereiro, em dez favelas do Rio de Janeiro, em versão impressa. A primeira edição, com 10 mil exemplares, terá 24 páginas com reportagens de colaboradores das favelas da Kelson, do Boréu, Formiga, Cantagalo, Pavão/Pavãozinho, Cidade de Deus, Fumacê, Vila Kennedy, da Penha, além do Complexo do Alemão.
Um dos fundadores do jornal, Renê Silva, disse que a novidade é que ele trará informações de muitas comunidades ao mesmo tempo. “A gente está criando conteúdo em todas as favelas. Em cada comunidade há um correspondente que nos ajuda a pensar nas pautas, o que vai ter. Os jornalistas do Voz, da equipe do Alemão, vão às comunidades, porque nem todas elas têm colaboradores”, disse à Agência Brasil.
Os recursos para custear a versão impressa virão de anúncios de comerciantes locais, mas a equipe está buscando patrocinadores externos em agências de publicidade. A primeira edição terá o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
O começo
Quando surgiu há quase 12 anos, o jornal se chamava Voz da Comunidade e era restrito ao Complexo do Alemão, na zona norte do Rio.
À frente do grupo de jovens fundadores estava Renê Silva, com apenas 11 anos. A ideia de criar a página em uma rede social surgiu de um trabalho que fez na escola pública. O projeto do garoto era mostrar tudo o que ocorria no lugar onde morava e facilitar a vida de todos do local.
“A gente consegue trabalhar inovação, tecnologia. A gente não fica muito preso ao passado no tradicional. A gente quer fazer coisas novas e tentar mudar a comunidade de alguma forma. Com o passar dos anos, acho que o legado que a gente construiu foi muito de um exemplo de como a gente mora dentro desses espaços e ainda assim consegue fazer coisas muito legais”, contou.
A internet foi fundamental para a divulgação do Voz da Comunidade e o trabalho de Renê ultrapassou os limites do Alemão. Passou a ser conhecido em outras comunidades e a inspirar outros jovens que, como ele, querem aumentar as trocas de informações nos locais onde moram.
Tecnologia e internet
Isso fica evidente toda vez que Renê é convidado para fazer palestras em eventos para contar sua experiência. Um deles foi o Favela On, organizado pela Central Única das Favelas (Cufa), na sede da entidade em Madureira, zona norte do Rio, com o apoio do Sebrae.
No encontro, a internet era o centro dos debates e Renê falou sobre a expansão do jornal que criou. “Há muita curiosidade entre os jovens. Querem saber como começou, quais foram as dificuldades. Muitos me perguntaram como podem criar uma plataforma, como esta, nas suas comunidades. Eu expliquei como utilizo essas ferramentas e como eles também podem usar a internet como uma forma de negócio. Eles não têm noção do que podem fazer e de que isso é possível”, disse.
Uma das fundadoras da Cufa, a ativista Nega Gizza, disse que o encontro mostrou como a internet pode mudar o dia a dia de cada um, desde a comunicação entre moradores até o desenvolvimento de projetos de empreendedorismo. “O jovem de favela, às vezes, é disperso ao mesmo tempo em que é ligado em algumas coisas. A gente vai ter que dar um suporte, por conta dos questionamentos que eles ficaram na mente”, revelou à Agência Brasil.
Os jovens presentes discutiram projetos que pudessem solucionar problemas das favelas. Dois deles, o Tá Ligado e o SOS Empreendedor, terão consultoria do Sebrae para se organizarem e saber como devem atuar para serem rentáveis. “Os dois foram soluções pensadas para comerciantes e empreendedores de favela. O primeiro, muito na linha da capacitação e como melhorar a gestão desses empreendedores para que tenham mais sucesso e renda e o segundo, na linha da comercialização, como divulgar o que existe na sua favela”, disse a coordenadora de Comunidades Sebrae, Carla Teixeira.
Morador no Conjunto do Quitungo, em Brás de Pina, o fotógrafo Marcelo Souza Dias criou o SOS Empreendedor, com uma jovem de uma comunidade do Lins e outro da Vila Cruzeiro, na Penha, todos na zona norte. O fotógrafo disse que o projeto vai dar suporte para os comerciantes da região e estimular a atividade econômica existente, como bares, academias, restaurantes. “É um mundo dentro de outro mundo. O projeto é para auxiliar as empresas da comunidade, que não têm muito conhecimento de administração financeira e até de gerir o seu comércio. Pode até, por exemplo, no caso de alguém que recebeu uma indenização, quer se tornar um microempreendedor e não sabe o que fazer. Então, o projeto pode orientar”, afirmou.
“Nós temos academias, temos pizzarias, então, porque precisamos ir lá fora para buscar isso? [em outras regiões]. As empresas precisam se organizar na administração para poder praticar preços mais baixos”, acrescentou.