30/03/2022
Millôr Fernandes faria piadas ácidas do governo Bolsonaro
Se vivo fosse hoje, Millôr Fernandes teria com um farto material desse governo de República das Bananas para suas incríveis piadas rascantes. Imagino o que Bolsonaro não sofreria com o desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Uma pena que nos deixou há dez anos, completados no último domingo.
Esse texto está saindo porque o cineasta Silvio Tendler (meu colega no Cineclube Macunaíma da ABI junto com Zezé Sack) cobrou hoje, de manhã, que eu não postara no site da ABI um texto sobre a data. Putz, falha minha! Que Diretora de Cultura mais desatenta! Para me defender também acuso a imprensa de não lembrar que em 27 de março de 2012 nos deixou um dos nossos maiores ou talvez o maior artista brasileiro. Ele conquistou notoriedade por suas colunas de humor gráfico em publicações como Veja, O Pasquim e Jornal do Brasil.
Eu descobri Milton Viola Fernandes (o Millôr Fernandes) bem criança porque meu avô foi jornalista. Escrevia e desenhava (como Millôr no início da carreira) para o jornal Diário da Noite, assinando Lydio. E ainda encontrava tempo para ser caixeiro-viajante já que precisava sustentar mulher, três filhas solteiras e as duas netas da filha casada nas suas guloseimas. A semente da profissão foi plantada em mim por ele que comprava a revista O Cruzeiro onde eu, criança, lia e amava os desenhos da coluna Pif paf de Emmanuel Vão Gogo (uma brincadeira com Van Gogh), pseudônimo de Millôr que, na verdade, já tinha um. É que por um erro do escrivão na certidão de nascimento parecia estar escrito Millôr, ao invés de Milton. E ele adotou este nome.
Millôr foi um artista completo (não gostava de ser chamado de gênio) e, em seus 88 anos, escreveu 39 livros, um de artes visuais, foi co-roteirista em quatro filmes nacionais, fez ou traduziu 73 textos teatrais, sendo que 17 se tornaram livros, traduziu ainda dois romances e uma fábula, escreveu 11 espetáculos musicais, além de todos seus textos de humor publicados em revistas e jornais. Aos 17 anos fazia composição de quadras para a seção “As garotas”, de Alceu Penna. O trabalho atrai a atenção de Frederico Chateaubriand, que o chama para ajudar na revista A Cigarra. Daí, Millor não parou mais e morreu com mais de 70 anos de profissão. O humor ácido e crítico era sua marca.
Não cabe aqui colocar toda a vida de Millôr que boa parte dos jornalistas com mais de 60 anos conhece bem. E sua vida está em vários textos na internet. A turma nova deve ir até lá e se informar. Millor foi um dos nossos maiores jornalistas. E mais uma vez peço desculpas pela minha falha em deixar passar data tão importante. Obrigada, Silvio Tendler!
_____________
foto migalhas.com