Em 16 de julho de 2000, Barbosa Lima Sobrinho encerrava sua participação em um capítulo histórico da História do Jornalismo e da democracia do Brasil, onde se destacou pela cultura, competência e afinidade com os princípios éticos que fizeram dele uma das figuras mais proeminentes da imprensa do País, e também pelo compromisso com que sempre tratou as questões de cidadania, direitos humanos e de afirmação do Estado Democrático de Direito.
Com a sua morte abria-se uma lacuna na vida política e cultural do Brasil, que dificilmente será preenchida, devido ao carisma e ao respeito conquistados pelo Doutor Barbosa, por um longo período dos seus 103 anos de vida, tanto na esfera pública — onde exerceu os cargos de Governador de Pernambuco (1948-1951), Deputado federal (1935-1937 e 1946-1948) e Procurador do Rio de Janeiro, quando este era Capital do País —, quanto nos meios acadêmico e jornalístico, sempre com a mesma desenvoltura.
Devido à sua grande atuação na vida política do Brasil, mereceu o seguinte comentário da economista Maria da Conceição Tavares: “Com ele morre também o século XX, pois Barbosa Lima Sobrinho estave atuante em todos os fatos da nossa vida política nesse período. Era defensor do Estado nacional em favor da coisa pública e a memória viva de uma geração inteira”.
Em 1926, Barbosa Lima Sobrinho foi eleito o sétimo Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, em substituição a Raul Pederneiras (1915-1917 e 1910-1926). O primeiro mandato foi curto, de 1926 a 1927, mas não impediu que ele, com a sua característica de reformador, logo tenha convocado uma assembléia-geral para a realizar mudanças no Estatuto da entidade. Em seguida, promoveu a regulamentação da carteira de jornalista e do título de sócio, além do estabelecimento de convênios com outras associações de imprensa em outros estados do País.
Barbosa Lima Sobrinho voltou à Presidência da ABI em dois outros mandatos: 1930 a 1932 e 1978 a 2000, este último interrompido com a sua morte. O editorial “103 anos de um imortal”, publicado na primeira página do Jornal da ABI, nº 279 (julho/agosto de 2000), que homenageava o eterno Presidente, ressalta que “enquanto uma pessoa é lembrada ela nunca morre”.
Essa foi realmente uma das principais características que marcaram a vida de Barbosa Lima Sobrinho. Ele jamais será esquecido, assim como a sua imagem está eternizada e se confunde com a da ABI, instituição cujo status de “trincheira da liberdade” ajudou a projetar, dando continuidade ao projeto do fundador Gustavo de Lacerda, em 1908, e de outro grande Presidente da Associação, Herbert Moses, que presidiu a ABI entre os anos de 1931 e 1964.
Por ocasião das comemorações do Centenário da ABI, celebrado em 7 de abril de 2008, durante uma cerimônia na Academia Brasileira de Letras, o então Presidente da Academia, Cícero Sandroni, lembrou o tempo em que trabalhava com Barbosa Lima Sobrinho, e falou sobre a emoção em conviver “com a bravura cívica e o espírito pacifista e conciliador do ex-Presidente da ABI, que segundo ele, somente era abalado quando o Fluminense perdia: “Ele é eterno pelas palavras que deixou escritas, muito melhores do que eu poderia fazer”. Cícero Sandroni disse que um dia questionou Barbosa Lima Sobrinho em relação à sua jornada de trabalho, por causa da sua idade, e ouviu dele o seguinte:”O tempo que perdemos na ABI ganhamos pelo Brasil”.
Igualdade
Convidado a falar sobre o amigo, o jornalista Hélio Fernandes, em um artigo publicado na página 16, daquele número especial do Jornal da ABI, escreveu o seguinte: “Começa hoje mesmo a glorificação e a consolidação das idéias de Barbosa Lima Sobrinho. Veremos todos que tanta luta não foi, nem poderá ser mesmo, esquecida ou desperdiçada”. Idéias essas que Barbosa Lima Sobrinho, tão brilhantemente e com um estilo próprio, apresentava à sociedade brasileira por meio de textos que foram publicados inicialmente no jornal Diário de Pernambuco, em 1915.
Seu último artigo foi publicado no Jornal do Brasil — do qual durante mais de sete décadas foi um dos principais articulistas — na edição de 16 de julho de 2000. Sob o título “A exclusão da classe média”, o texto é uma reflexão do Doutor Barbosa sobre as constantes alternâncias de crise que o País viveu desde o golpe militar de 1964, com recorrentes “confiscos e desilusões”, que ameaçavam a sobrevivência da democracia.
No texto ele cita o desequilíbrio econômico daquele período que provocava tanta desesperança na população de maneira geral, em um processo que, segundo ele, provocou inclusive a exclusão da classe média do debate e do cenário econômico. “A igualdade é pressuposto básico da democracia, que, sem ela, não tem condições de sobreviver”, afirma Barbosa Lima Sobrinho no artigo que escreveu para o
JB.
Biografia
Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho nasceu em Recife, em 22 de janeiro de 1897. Advogado, jornalista, ensaísta, historiador, professor e político foi eleito em 28 de abril de 1937, para a Cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Graduou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, na Faculdade de Direito do Recife, em 1917. No mesmo ano, logo em seguida à sua formatura, exerceu a advocacia e foi adjunto de Promotor na sua cidade natal.
Colaborou na imprensa pernambucana no Diário de Pernambuco, Jornal Pequeno, e principalmente no Jornal de Recife, onde manteve uma coluna aos domingos, entre os anos de 1919 e 1921. Foi também colaborador da Revista Americana, Revista de Direito, Jornal do Commercio (RJ), Correio do Povo (RS), e da Gazeta (SP).
Ao se transferir para o Rio de Janeiro, trabalhou para o Jornal do Brasil, onde ingressou em 1921, inicialmente como noticiarista e depois, de 1924 até 2000, como um dos principais redatores políticos, função que exerceu até a sua morte escrevendo um artigo semanal para o jornal.
Entre as principais obras que escreveu no campo da literatura figuram “Árvore do bem e do mal” (1926), “O vendedor de discursos” (1935). Sobre os temas Direito, História e Jornalismo foram os livros “O problema da imprensa” (1923), “A verdade sobre a Revolução de Outubro” (1934), “Pernambuco: da Independência à Confederação do Equador” (1979), “Estudos nacionalistas” (1981) e “Assuntos Pernambucanos” (1986).
Barbosa Lima Sobrinho foi um dos críticos mais combatentes contra a ditadura militar instalada no País com o golpe de 1964. Em 1973, candidatou-se à Vice-presidente da República, filiado ao MDB. Em 1992, foi uma das principais lideranças do movimento civil que resultou no impeachment do então Presidente Fernando Collor de Mello. /DIV>
Esse foi Barbosa Lima Sobrinho, um ícone nacional, sobre o qual o amigo e jornalista Villas-Bôas Corrêa, que o conheceu em 1948 afirmou: “Barbosa Lima Sobrinho foi uma das maiores figuras do século que não pôde ver terminar”.