14/06/2021
Por Alexandre de Santi, vice-editor do The Intercept Brasil
Esta foi a manchete da Folha de S.Paulo, ao noticiar o inquérito policial aberto contra Leandro Demori, editor-executivo do Intercept: “Polícia do Rio intima jornalista, e Intercept Brasil diz que nao irá se curvar”.
Esse título foi muito comemorado por nossa redação. Ficamos realmente felizes com a afirmação “Intercept Brasil diz que não irá se curvar” porque ela é a cara do TIB.
Não vamos nos ajoelhar diante do arbítrio, e quero explicar as razões disso para você.
Nos últimos dias recebemos centenas de manifestações de apoio. Mensagens, áudios e artigos dos nossos leitores. Foi lançado um manifesto que já conta com algumas dezenas de assinaturas. Nossos colegas de outros veículos também foram muito solidários. As principais redações do Brasil cobriram e criticaram a intimação do Demori. Agradecemos a todos, mas queremos de maneira muito especial agradecer à nossa audiência.
O Intercept faz um trabalho que é único no país. Somos um grupo de jornalistas focados em incomodar! Nossa missão é muito clara: existimos para fazer jornalismo investigativo que provoca impacto.
Não é fácil cumprir essa missão no Brasil de Bolsonaros, Moros, Dallagnols, Cunhas e tantos outros. Também não é seguro. E, claro, não dá lucro – por isso é raro. Ou alguém acredita que empresários têm interesse em financiar jornalistas que investigam da Coca-Cola à JBS, da CNN à Jovem Pan?
Esse trabalho duro, desafiador, que requer coragem e ousadia é quase impossível por essas bandas. Mas tem um detalhe, nada pequeno, que o faz acontecer: a inabalável comunidade que protege, sustenta e dá voz ao Intercept. É isso mesmo. Nossa audiência nos dá voz, não o contrário. Ou alguém acha que um site minúsculo e desconhecido teria feito acontecer a Vaza Jato apenas com seu trabalho? A Vaza Jato jamais teria ganhado as proporções que teve sem nossos leitores. Pessoas como você, que compartilham nossos conteúdos, assinam nossa newsletter, nos protegem de ameaças e nos financiam.
Essa foi uma semana dura. Foi preciso acionarmos nossos advogados e nos expormos durante uma pandemia, realizando uma série de reuniões. Tivemos que organizar estratégias de segurança, de comunicação e também mobilizar uma rede de apoio. Durante esses dias foi difícil focar só no jornalismo, e o desgaste para todos foi tremendo.
Mesmo assim, em nenhum momento tivemos receio em enfrentar o arbítrio. Essa é uma luta que vale a pena, e sabemos que não estamos sozinhos. Antes de intimar o Demori, o mesmo delegado já tinha ido pra cima do Felipe Neto, do William Bonner, da Renata Vasconcellos. Em Brasília, a polícia do Senado intimou Celso Rocha de Barros, colunista político da Folha. Conrado Hübner Mendes, professor da USP e também colunista da Folha, está sendo processado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.
O policiamento de natureza política é uma realidade no Brasil de Bolsonaro. É por isso que não é hora de abaixar a guarda. Muito pelo contrário. Temos que escrever mais sobre eles, investigar ainda mais seus negócios escusos, expor as entranhas da direita vendilhona que quer implodir a democracia brasileira e acabar com o pouco que temos de assistência social.
Esta semana foi com o Intercept. Na semana que vem eles vão para cima de quem? Em um ano, como estarão as polícias, as Forças Armadas e o Judiciário brasileiro? Até onde vai a tentativa de aparelhamento?
Nós não vamos nos curvar porque não estamos sozinhos nessa.
Embora estejamos firmes e confiantes, os eventos dessa semana são um excelente lembrete das razões que fazem nosso jornalismo ser algo demorado de produzir e muito caro. Ele exige não apenas tempo e repórteres corajosos, mas também sofisticadas equipes jurídicas, de segurança e de tecnologia.
Nossos planos são ambiciosos, e por conta deles temos uma meta alta. Infelizmente estamos muito atrás dela. Precisamos arrecadar mais R$ 500 mil até o mês de julho. É difícil, nós sabemos. Mas neste momento milhares de pessoas estão lendo essa mensagem. Se cada um ajudar com o que puder, a gente chega lá. Junte-se hoje ao Intercept e ao jornalismo que não tem medo.
Um abraço,