Por Moacyr Oliveira Filho, diretor de Jornalismo da ABI
O time da CBF – é assim que eu costumo chamar essa Legião Estrangeira vestida com a amarelinha – estreia hoje na Copa do Qatar.
Desculpem, amigos, mas por mais que eu tente, não consigo torcer por esse time. Mesmo gostando do Tite, do Marquinhos, do Richarlison, do Vini Junior. Mas, minha ojeriza ao Neymar é maior. Muito maior.
E olhem que eu adoro Copa do Mundo.
A primeira Copa do Mundo que tenho lembrança foi a de 1958 na Suécia. Lembro de ter ouvido a final pelo rádio, numa estação de trem, voltando de um pic-nic da Igreja que meus pais frequentavam. Chovia muito, o trem atrasou, teve um princípio de quebra-quebra na estação, peguei uma pneumonia, mas a vitória por 5 a 2 contra a Suécia entrou definitivamente para minha memória afetiva.
Lembro das Copas de 1962 e 1966, também pelo rádio, e por aqueles painéis eletrônicos, que simulavam o campo, e eram colocados na Praça da Sé, em São Paulo, com transmissão do jogo de Fiori Giglioti, pela Rádio Bandeirantes, e as luzinha piscando mostrando onde estava a bola.
A primeira Copa que vi pela TV foi a de 1970 e comemorei muito o tri. Mesmo sabendo que a ditadura militar ira usar aquela conquista, era impossível não torcer e se entusiasmas com aquele time espetacular.
A primeira que vi a cores, na casa do saudoso Guilherme Cunha Pinto, o Jovem Gui, um grande jornalista de São Paulo (já falecido) foi a de 1974.
A partir da Copa de 1978 reunia amigos na minha casa, em Brasília, para ver os jogos do Brasil. Alguns deles já se foram, como o Cláudio Kuck e o Orlando Brito. Torcíamos muito, comíamos pipoca e vibravamos.
A última Copa que torci de verdade pelo Brasil foi a de 1982 na Espanha e chorei com a derrota para a Itália, que tirou aquele time do sonhos da disputa. Na de 1998, na França, também torci, com menos entusiasmo, mas fiquei triste com a derrota para a França, na final, e a tal convulsão do Ronaldo Fenômeno.
Já a conquista do penta, em 2002, na Coréia do Sul e no Japão, não me entusiasmou muito. E assisti a final sozinho em casa, sem conseguir acompanhar direito, por conta do horário e de uma ressaca fenomenal.
De lá para cá, não torci mais pelo time da CBF. Como não vou torcer agora. Onde tem Neymar, eu estou do outro lado.
Mas o problema não é só Neymar, um bolsonarista mimado, que age como celebridade, não como um atleta profissional. Com raríssimas exceções, os jogadores convocados por Tite não têm nenhuma identidade com o nosso povo. Eu mesmo, que sempre acompanhei futebol com interesse, nunca tinha ouvido falar de alguns deles, como, por exemplo, o tal Gabriel Martinelli. Que soube agora, pesquisando no google, começou nas categorias de base do meu Corinthians. Desculpem minha ignorância. Sem falar no total descompromisso da maioria desses jogadores com as questões políticas e sociais do país. São quase todos alienados, reacionários, e agem não como atletas profissionais, mas como celebridades.
Eu prefiro guardar na memória o soco no ar de Pelé, a vibração de Falcão, comemorando os gols, a postura politizada de Sócrates, do que essas dancinhas ridículas desses caras de hoje. Eu prefiro guardar na memória, a seleção de 1958 sentada numa estação de trem, em Poços de Caldas, esperando a hora de embarcar, do que Neymar levando seu cabelereiro particular na delegação que foi ao Qatar.
Essa Copa será especial pra mim porque será a primeira que Jorge Raul, meu filho mais novo, de 8 anos, vai acompanhar com interesse. Ele é fã do Cristiano Ronaldo e sabe tudo de Champions Ligue e de Premier Ligue. Eu até comprei uma camisa azul da CBF – a amarela, desculpem, não consigo usar, mas não sei ainda se vou ter vontade de vestir.
Se o time da CBF ganhar hoje e ganhar o hexa, jogando bem e com seriedade, claro que vou gostar. Porque, afinal, gosto do bom futebol. Venha de onde vier. Mas se perder hoje e perder a Copa, não vou sentir absolutamente nada.
(*) Esse texto é de responsabilidade exclusiva do seu autor, e não reflete a opinião da direção da ABI