07/03/2023
Por Luiz Carlos Prestes Filho (*)
A ilustre ex-juiza e ex-deputada federal, Denise Frossard, insultou a GRES Imperatriz Leopoldinense, as comunidades de Ramos e do Complexo do Alemão, ao afirmar: “Com aplausos de parte do povo, autoridades e políticos, saiu vencedora do desfile das escolas de samba de 2023, uma escola que homenageia estuprador, ladrão e bandido. Lampião, em perfeita harmonia com os ‘donos’ das mesmas! Nada de novo no front”.
Parece que a juíza nunca viajou pelo sertão nordestino, onde o Lampião é venerado pelo povo humilde. Povo que transformou este “justiceiro” em símbolo de toda a região, abandonada por políticas públicas e empresariais.
Quando comparamos com os investimentos financeiros realizados no sul do país, constatamos essa verdade. Também, que somente na marra será possível reverter esta situação. Fazer com que o Nordeste, frequentemente ridicularizado pela elite, como se fosse gerador de seres inferiores, seja valorizado.
A ex-juíza e ex-deputada, por tanto, não entendeu que a GRES Imperatriz Leopoldinense, com seu enredo, contou a história de um revoltado. “O Rei do Cangaço” iniciou sua trajetória violenta para vingar poderosos que causaram prejuízos à sua família, por conta da disputa de terras.
Na minha opinião, interpretar Lampião à luz da ordem jurídica atual, desconsiderar que até hoje não foi realizada a reforma agrária no Brasil, é pura alienação da realidade.
Aproveito para lembrar que quando a Coluna Prestes (1924-1927), evento revolucionário que contribuiu para fazer o Brasil entrar na modernidade, no início do século 20, Lampião (o bandido) recebeu do então presidente da República, Arthur Bernardes, armas, munição e dinheiro para combater os homens liderados pelo capitão, Luiz Carlos Prestes (herói), meu pai.
Foi neste momento que o Lampião recebeu a patente de capitão do exército brasileiro. Passando a se chamar “Capitão Virgulino”.
O homenageado pelos sambistas, em 2023, recebeu os valores, as armas e a patente, mas disse a seus comandados: “A Coluna Prestes não nos persegue. Não vamos combate-la. Eles, como nós, lutam contra os poderosos!”
Mais tarde, após a Revolução de 1930, o governo anulou a patente de “Capitão Virgulino”. Fazendo ele voltar a ser bandido. Assim atua a elite em nosso país. Quando lhe é conveniente transforma bandidos em heróis e heróis em bandidos.
Por exemplo, meu pai que era capitão do exército, após a Revolução Armada Antifascista de 1935, passou a ser chamado de bandido.
Sugiro a Denise Frossard ler um pouco mais sobre a História do Nordeste, suas personagens e revoltas. Lampião, antes de mais bada, era um nordestino forte. Como aqueles que conheceu Euclides da Cunha, ao visitar Canudos. Reduzir este homem a um mero “estuprador, ladrão e bandido” é simplório e agressivo. Ele é filho do seu tempo.
Após a captura e morte o “Rei do Cangaço”, sua esposa Maria Bonita e membros do bando, tiveram suas cabeças cortadas. Ficaram expostas desde 1938 até 1969! Pelo visto tem gente que cortaria a cabeça de Lampião pela segunda vez.
Salve a GRES Imperatriz Leopoldinense!
(*) jornalista, compositor e escritor. Membro do PEN Clube do Brasil