De aprendiz a profissional e, daí, a professor


25/10/2006


SPAN class=text>Claudio Carneiro
27/10/2006

O ano era 1972. Nelson Chinalia aprendia as técnicas da profissão fotografando casamentos e outros eventos sociais. O jovem que adorava futebol e trabalhava num estúdio fotográfico próximo ao Correio Popular, maior jornal de Campinas, viu seu sonho se realizar quase por acaso, num telefonema: o diário queria alguém para fotografar o Governador Laudo Natel, que visitava a redação de surpresa, num momento em que não havia nenhum fotógrafo disponível. Sem saber, o adolescente de 15 anos partia para seu primeiro frila. O chefe de Reportagem gostou das fotos e lhe prometeu um emprego.

Em março de 73, a promessa foi cumprida. A velha Rolleiflex dos casamentos foi trocada pela câmera do jornal, uma Nikon F2 sem fotômetro:
— Era proibido usar o flash. Foi um aprendizado na base do erro e do acerto. Fotografava de tudo, do buraco de rua à visita do Presidente da República, passando por matérias de polícia, enchentes e colunismo social — que detestava. Sempre gostei de futebol e, naquela época, admirava as fotos da Gazeta Esportiva. Sonhava trabalhar nos gramados com aquelas teleobjetivas. Nos domingos, o sonho se realizava. Era a minha grande paixão. Depois comecei a cobrir também a Fórmula-1 no Brasil.

Hoje, aos 50 anos, e quase 35 de fotojornalismo, ele recorda que, na década de 70, a redação do Correio Popular tinha apenas três fotógrafos. Nos anos 90, porém, quando o jornal se tornou o maior do interior paulista, passou a chefiar uma equipe de 12 fotojornalistas:
— Fui cursar uma faculdade somente nos anos 80 e assumi o cargo de editor de Fotografia de 1994 a 1998. Com o crescimento da cidade — de 300 mil para 1 milhão de habitantes em menos de 30 anos — o jornal também se modernizou e passamos a produzir grandes reportagens. Entre as pautas de que participei estão as visitas ao Brasil do Papa João Paulo II e do Presidente norte-americano Ronald Reagan, a trajetória de Ayrton Senna, o lançamento do Corsa na GM da Alemanha e a Copa da França em 98.

Tanta experiência não poderia dar em outra coisa. Em 1987, por meio de concurso público, ele se tornou professor da disciplina de Fotojornalismo na PUC-Campinas — atividade que considera fascinante. A experiência foi importante: voltou a estudar os conceitos e técnicas fotográficas e a ter contato com as novas gerações de jornalistas e repórteres-fotográficos:
— Era difícil conciliar as pautas da redação e os compromissos acadêmicos, mas foi interessante e gratificante ver os ex-alunos se tornarem colegas na profissão.

Motivo de orgulho

Nelson se orgulha de ter ganhado, em 1995, o Prêmio Vladimir Herzog na categoria Fotojornalismo, mostrando, pela primeira vez, a violência nos presídios, uma imagem que depois se tornou rotineira com as centenas de rebeliões que ocorrem nas prisões do País:
— Para conseguir esta foto, tivemos que driblar o helicóptero da polícia e entrar em espaço aéreo restrito, numa operação difícil e arriscada. Esperamos o “Águia Uno” deixar o local para abastecer e passamos uma única vez sobre o presídio. Foi assim que consegui registrar, com exclusividade, a imagem que todas as emissoras de TV e os outros fotógrafos de jornais haviam tentado, sem sucesso.

Cobrir uma Copa do Mundo sempre foi uma das ambições do menino de Campinas. Quando soube que a de 1998 seria na França, justamente onde a fotografia nasceu, ele pensou que este seria o coroamento da profissão que abraçou:
— Quando retornei da Copa, deixei o jornalismo diário para me dedicar mais aos estudos. Fiz pós-graduação na Cásper Líbero, em São Paulo, terminando o mestrado em 2001 com a dissertação: “Fotojornalismo — a manipulação visual da notícia”.

Hoje, Nelson se dedica à carreira acadêmica e ao jornalismo empresarial, atuando na Comunicativa ACJ, onde produz a revista mensal dos funcionários da Petrobras na Refinaria de Paulínia, além de fotografar para várias revistas na região de Campinas. Mesmo afastado das redações, acha que atuar como fotógrafo é a opção mais interessante do jornalismo:
— Para mim, é transformar o acontecimento em imagem que vai passar para a história como uma mensagem visual sintética e única. Ninguém definiu tão bem a fotografia como Henri Cartier-Bresson — considerado por muitos o pai do Fotojornalismo — quando disse: “Tudo vai estar, por algum momento, em perfeita harmonia.”

Nelson não se considera um saudosista, mas avalia que o fotojornalismo digital tirou da profissão um pouco do romantismo:
— Aquele tempo entre o disparo da câmera até ver o filme revelado nos dava uma certa ansiedade. Com o digital, tudo isso acabou. Agora vemos o resultado na hora. Fotografamos excessivamente e deletamos também em demasia. Com isso, corremos o risco de apagar imagens importantes que podem ter valor histórico num contexto posterior. Por outro lado, acho que o sistema digital deveria ter acontecido antes. Seria muito melhor transmitir imagens dos estádios sem ter que revelar filme, perder o jogo, ou viajar longas horas até a redação. Vamos falar a verdade: hoje ficou fácil.

Clique nas imagens para ampliá-las: 

“Senhora 
é barrada por policiais…”

“Após rebelião, presos…”

“Flagrante
da visita 
do então
…”

“Um idoso fuma seu cigarrinho…”

“Campinas 
em vista aérea…”

“Vista 
aérea do centro de…”

“Esta foto 
do fenômeno mostra…”

“Em Interlagos, 1992…”

“O jogador tromba com
o goleiro…”

“Reflexos 
na água da Lagoa do…”

“O pássaro busca alimento…”

“Foto 
também 
tirada este…”