03/02/2009
O baiano Antonio Moniz Vianna além da bela carreira como jornalista foi também um dos mais importantes críticos cinematográficos do País. Nascido em Salvador em 1924, morreu no Rio de Janeiro — onde se formou em Medicina —, no dia 31 de janeiro, aos 84 anos idade.
Antonio Moniz Vianna começou a escrever sobre cinema no jornal Correio da Manhã, em 1946, função que exerceu no antigo diário até o ano de 1973. Foi o responsável pela formação de toda uma geração de talentosos críticos de cinema, da qual fazem parte Sérgio Augusto, Ruy Castro e Walter Lima Jr., que hoje atua como diretor.
Vianna foi um dos fundadores da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), criou vários cineclubes entre os quais o Círculo de Estudos Cinematográficos, cujas projeções eram realizadas no Auditório Oscar Guanabarino que funciona no 9º andar do edifício-sede da ABI, no Centro do Rio.
Para o cineasta Dejean Magno Pellegrin, Moniz Vianna é um verbete do cinema brasileiro para o qual deu importantes contribuições não só na criação de cineclubes, mas também na formação de muitos críticos e cineastas:
— Conheci o Moniz Vianna em 1945, quando eu tinha 15 anos de idade. Ele formou a cabeça de muita gente. Entre as suas crias estão Paulo Perdigão, Carlos Fonseca e Valério Andrade. A atuação do Moniz Vianna pelo cinema brasileiro foi de uma importância capital, pelas salas históricas que ele criou, como os cineclubes na ABI, com os parceiros Alexis Vianni e Décio Vieira Ottoni, que também foi um grande crítico do Diário Carioca.
Moniz Vianna fez críticas duras ao Cinema Novo sobre o qual chegou a escrever que era “palhaçada de gente despreparada”, mas para Dejean Pellegrin apesar de ser um crítico “radical e cáustico” sabia reconhecer o valor de uma boa obra cinematográfica.
Valério Andrade, que desde 1987 dirige o Festival de Cinema de Natal, foi o primeiro assistente de Moniz Vianna no Correio da Manhã, em 1959. Segundo ele, a ausência de Moniz Vianna no cenário cultural brasileiro já vem sendo sentida desde os anos 70, quando ele deixou de escrever suas críticas:
— O Moniz Vianna é insubstituível, desde que ele parou de escrever não surgiu nenhum outro crítico de cinema igual a ele. Eu sou de Natal e devo a minha iniciação cinematográfica a ele, a quem eu acompanhava no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Na minha cidade, como em outras capitais, as suas críticas eram leituras obrigatórias. O Moniz foi o maior crítico do cinema brasileiro. Polêmico, mas que fazia uma crítica diária de forma notável, seus textos são verdadeiros ensaios.
“O imperador da crítica”, diz Cony
Em artigo publicado em seu espaço na página 2 da Folha de S. Paulo, nesta terça-feira, dia 3 de fevereiro, o jornalista, escritor e acadêmico Carlos Heitor Cony lembrou a trajetória intelectual e jornalística de Moniz Viana, que durante muitos anos “foi o imperador absoluto na crítica cinematográfica” do Rio de Janeiro. É este o texto de Cony em homenagem ao seu antigo companheiro no Correio da Manhã: BR>
Durante muitos anos, Moniz Vianna foi o imperador absoluto na crítica cinematográfica. Evidente que era contestado, mas ninguém poderia imaginar um filme importante sem sua opinião, fosse contra ou a favor. Antes de mais nada, foi um líder: apesar de responsável pela seção de cinema, durante dois ou três anos foi o redator-chefe do Correio da Manhã.
Criou um grupo que teria influência no jornalismo e na produção cinematográfica, incluindo alguns diretores, como Walter Lima Jr. e Maurício Gomes Leite, e um time de colegas que se destacaram na imprensa nacional, como José Lino Grünewald, Ely Azeredo, Salvyano Cavalcanti de Paiva, Sérgio Augusto, Valério Andrade, Ruy Castro, Wilson Cunha, Paulo Perdigão e outros.
Sua cultura geral era assombrosa: formara-se em medicina e exercia a profissão com seriedade. Mas sua paixão era mesmo o cinema. De 1965 a 1969, estruturou e dirigiu os Festivais Internacionais de Cinema (FIF), que trouxe Fritz Lang e Marco Bellochio ao Brasil. Trabalhou no projeto que criou o Instituto Nacional de Cinema. Entrevistou os principais diretores de sua época, como René Clair e John Ford, que ele particularmente admirava. E os grandes diretores do neorrealismo italiano.
A Companhia das Letras publicou, em 2004, o único livro que seus amigos o obrigaram a escrever: “Um Filme por Dia”. Uma pequena antologia do melhor do cinema feito nos anos 50 e 60. Podiam discordar dele, mas todos o respeitavam. Escrevia com elegância e ritmo. Numa crítica a “7 Mulheres”, de John Ford, ele narra em frases ligeiras o filme, que não chega a ser dos mais importantes daquele diretor. Destacando o close que encerra a história, ele escreveu: “A câmara se afasta. Atrás dela está John Ford”.