04/06/2021
Por Deborah Freire, Portal Imprensa
Conteúdo personalizado, transparência, narrativas que gerem identificação, engajamento, participação… Foram essas algumas das respostas apontadas pelos participantes do evento, que teve participação de nomes de veículos tradicionais e outros independentes, que tentam se aprimorar para conquistar esse público, hoje afastado dos meios de comunicação.
Lúcio Mesquita curador do debate, que participou virtualmente direto da Inglaterra, onde mora, destacou que as pesquisas mostram uma tendência de perda de conexão entre o público mais jovem e os meios de comunicação. Esse foi um dos fatores para a escolha do tema do Mídia.JOR 2021.
Mas diferente do que pais e avós costumam dizer, ele afirma que os jovens não estão desinteressados em informação, mas na forma atual de comunicação. “A proposta do Mídia.JOR é entender melhor e saber onde os jovens buscam informação, quais são os perigos de se informar pelas redes sociais, onde há muita mentira vestida de verdade. Esse é o grande desafio, e os veículos têm que ajudar a sociedade a sair desse buraco”, avalia.
Para o diretor geral de inovação e tecnologia da Vibra, do grupo Bandeirantes, André Luís Costa, existem várias maneiras como os jovens consomem notícias hoje, mas eles buscam muito mais uma experiência individualizada, informações que lhes sejam pertinentes, enquanto as demais gerações estavam acostumadas à informação massificada, na TV.
“Hoje as pessoas podem consumir exatamente a informação que importa para ela, e não aquela hierarquizada exibida no telejornal. O jovem precisa que a informação seja pertinente para ele. Outro ponto, é não fazer comunicação para jornalistas. Criou-se um modelo e os veículos perderam a capacidade de adaptação aos novos públicos”, defende.
Costa acredita que os veículos independentes têm um índice de audiência jovem maior do que os tradicionais porque são mais autênticos e fogem do jornalismo com notícias hierarquizadas.
Jornalismo independente e voltado para a periferia
Semayat Oliveira, jornalista co-fundadora do “Nós, Mulheres da Periferia”, acredita que a representação da mulher, negra, de periferia, que é público alvo do site, é um dos atrativos de público porque gera identidade com a maior parte da população brasileira.
Além disso, ela destaca a importância de ferramentas como a participação do público, o aprofundamento do conteúdo e a inovação nas informações e métodos. “Quando me formei não me via nos veículos tradicionais. Nós, mulheres da periferia, queríamos produzir o que gostaríamos de ler, com a profundidade que a gente achasse interessante e nos conectamos com essas mulheres, mostramos um mundo pensado a partir dessa perspectiva”, afirma.
Para ela, o grande diferencial da conexão da mídia com o jovem é a identificação do público com a forma com que se comunica. “Nossa plataforma não é tão inovadora assim. A inovação é produzir conteúdo confiável, de qualidade, aprofundado e respeitando a perspectiva que não tinha sido respeitada no nosso jornalismo até então. O que o jovem quer é aquilo que se conecta com ele. E as pessoas querem participar do processo: estamos trazendo ouvintes e leitoras que querem compartilhar a opinião delas; é uma forma de fidelizar”, argumenta.
Andiara Petterle, vice-presidente de Produto e Operações do Grupo RBS, já acredita que há realidades diferentes para cada veículo, porém também defende o diálogo com o público como forma de manter a audiência.
Outro ponto que ela levantou foi a necessidade de se pensar formatos sustentáveis de negócio. Petterle destaca que o Grupo RBS tem feito mudanças na empresa com o olhar voltado para a tecnologia e atento a todo tempo às expectativas da audiência, que é hoje um público mais disposto a pagar por jornalismo de qualidade.
Américo Martins, diretor de Jornalismo da CNN Brasil, citou as mudanças no veículo que já visam o diálogo com os jovens e que têm dado resultado.
Entre elas, o jornalismo adotou conteúdo mais personalizado, formas mais divertidas de entrega de conteúdo e transparência na apuração, que muitas vezes é feita ao vivo, pelo repórter, por meio do celular.
“Temos muito ao vivo inspirado nas outras plataformas, como YouTube. E nossa audiência tem muito mais jovens do que outros veículos. Mas ainda temos muito a fazer. Precisamos explorar por exemplo o Tik Tok, uma plataforma em que já temos conta, mas não acertamos a mão ainda”.
O debate foi mediado pelo diretor de Jornalismo da TV Cultura, Leão Serva, e exibido no Youtube TV Cultura e no site do Mídia.JOR: www.portalimprensa.com.br/midiajor.