Comissão da Verdade lembra 33 anos do atentado à OAB-RJ


Por Cláudia Souza*

28/08/2013


Lyda Monteiro da Silva

A Comissão Nacional da Verdade (CNV), a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RJ) e a Ordem dos Advogados do Brasil(OAB) realizaram nesta terça-feira, 27, uma solenidade na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC), em homenagem a Lyda Monteiro, ex-secretária da OAB, que morreu ao abrir uma carta-bomba endereçada ao então presidente da OAB, Eduardo Seabra Fagundes. O atentado, ocorrido há 33 anos, em 27 de agosto de 1980, até hoje não foi esclarecido.

O crime aconteceu durante o governo Figueiredo na chamada “Operação Cristal”, organizada por grupos extremistas de direita. O registro de ocorrência de n° 0853 da 3ª D.P. refere-se ao episódio como “ato de sabotagem ou terrorismo” e informa que, na explosão foi ferido José Ramiro dos Santos, outro funcionário da OAB. Lyda Monteiro chegou a ser socorrida, mas morreu a caminho do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio.

No mesmo dia 27, mais duas cartas-bomba foram entregues, no Rio de Janeiro, no gabinete do Vereador Antonio Carlos de Carvalho (PMDB) e na sede do jornal Tribuna da Imprensa.

O sepultamento do corpo da secretária da OAB ocorreu em 28 de agosto de 1980, no Cemitério São João Batista, Zona Sul do Rio, com grande participação de representantes de movimentos sociais e ampla cobertura da imprensa.

Lyda Monteiro da Silva nasceu em 5 de dezembro de 1920, em Niterói, Rio de Janeiro, filha de Luiz Monteiro da Silva e Ludovina Monteiro da Silva.

Em 1936, aos 16 anos, ingressou na OAB. Na época do atentado Lyda estava com 59 anos, e ocupava o cargo de Diretora do Conselho Federal da OAB-RJ. Era casada e tinha um filho.

Investigação

Durante a homenagem na PUC, Rosa Cardoso, membro da CNV, afirmou que a concentração de esforços em casos específicos e a parceria entre a Comissão Nacional e a Comissão Estadual da Verdade pode ser decisivos para a elucidação do caso.

— Acredito que conseguiremos descobrir quem foram os assassinos.

Presente à cerimônia, Eduardo Seabra Fagundes, alvo do atentado, recordou detalhes  sobre o contexto que envolveu a ação terrorista:

— A OAB era uma das entidades mais atuantes na luta contra a ditadura, e exatamente por isso sofreu tantas represálias. Pouco antes daquele episódio tenebroso, a Ordem ficou sabendo que havia ossadas em Goiás, descobertas em um terreno baldio. Familiares de perseguidos políticos tinham certeza de que eram as ossadas de seus parentes e amigos. Fomos até lá, entrevistamos autoridades, a imprensa noticiou, e aquilo obviamente causou mal-estar. Coincidência ou não, poucos dias depois a bomba explodiu. Haverá uma relação de causa e efeito? Talvez sim, talvez não.

Wadih Damous, Presidente da Comissão da Verdade do Rio, afirmou que a entidade pretende reabrir o caso:

— O inquérito que conduziu as investigações acerca da bomba endereçada ao Seabra Fagundes é uma farsa. Isso não é nenhuma novidade, isso já se dizia em plena ditadura. Não tenho a menor dúvida de que esse inquérito foi conduzido pelo SNI [Serviço Nacional de Informação] e pelo DOI-Codi [Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna].

Para o advogado Luiz Felippe Monteiro Dias, filho de Lyda Monteiro, o atentado não foi investigado em função de interesses políticos:

— Partidos políticos fizeram acordos com o governo para deixar de lado o atentado e garantir as eleições de 1982. Agradeço muito o apoio de todos e da Comissão da Verdade para elucidar este crime. Pela primeira vez sinto-me sem a responsabilidade que caiu sobre mim. A vida inteira eu fui vítima e investigador. Vítima e advogado. E não tem coisa pior, Doutor Seabra deve saber, do que advogar em causa própria. Agora, tudo isso mudou.

O panorama político da época foi destacado pelo jornalista Chico Otávio, que também defendeu a apuração do episódio:

—Tudo começa em 1968, 1969, com o início da chamada guerra suja. Sob a batuta do General Milton Tavares de Souza, chefe do Centro de Informações do Exército, foi dado início a um dos períodos mais bárbaros da história do nosso país, com torturas, mortes e desaparecimentos. Em quatro anos, pode-se dizer que a luta armada da esquerda foi praticamente exterminada. Precisamos entender a trajetória histórica que levou não só ao atentado na OAB como também ao atentado do Riocentro e a uma série de outros atos de terrorismo perpetrados por agentes do Estado.

*Com informações da CNV.