“Cobrir Copa não é prêmio, é tarefa”


01/07/2010


Em entrevista ao jornalista Jefferson Klein, do “Jornal do Comércio” de Porto Alegre, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, disse que cobrir uma Copa do Mundo não é prêmio, como muitos podem imaginar, mas “uma tarefa pesada”, que impõe um prolongado momento de desconforto, de exaustão física e de estresse”.
 
Jefferson Klein submeteu ao Presidente da ABI, por e-mail, um minucioso questionário, cujas respostas foram montadas por ele num texto fluente, que reproduziu com fidelidade as opiniões do entrevistado. Publicada sob o título “Uma cobertura jornalística com emoção”, antes do início da Copa, no começo de junho passado, a matéria comportou dois subtítulos destacados “Profissionais enfrentam estresse da maratona” e “Soluções móveis integradas ganharão mais espaço”, este dedicado à descrição dos recursos tecnológicos com que a cobertura da Copa contaria. O texto da reportagem de Jefferson Klein é este:
 
Uma cobertura jornalística com emoção
 
Diferentemente das matérias jornalísticas de áreas como economia e política, a cobertura de esportes, principalmente a de futebol, no Brasil leva um ingrediente extra: o sentimento. O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, defende que, sem eliminar a isenção, a cobertura da Copa do Mundo tem de ser apaixonada, militante, engajada.
No entanto, ele ressalta que também não pode assumir a idéia de que a Seleção é a Pátria de chuteiras, como na definição de Nélson Rodrigues. Nélson era um ficcionista, um dramaturgo, podia criar imagens desse tipo, assim como personagens fantásticos, como o Sobrenatural de Almeida, presente nos jogos do seu Fluminense, comenta o dirigente. Para ele, o jornalismo esportivo precisa atender ao público naquilo que ele quer ver contemplado: sua paixão pelo futebol.
Azêdo afirma que, mais do que os Jogos Olímpicos, que constituem outro destacado evento esportivo internacional, a Copa do Mundo de futebol é o mais importante acontecimento da área esportiva para todos os veículos de comunicação do Brasil. Ele acrescenta que isso independe do formato ou meio – veículos impressos, rádios, televisões. Para os profissionais, é a grande oportunidade de mostrar seu talento e competência, qualquer que seja a parte que lhes caiba – a reportagem, a crônica, a fotografia, a narração, o comentário, a evocação histórica etc, aponta Azêdo.
Quanto às empresas, o dirigente enfatiza que é o maior momento de venda ou de audiência, bem como de faturamento e de busca de prestígio. É, também, o evento que exige maior investimento e desembolso para a manutenção de numerosa equipe no exterior, com custo pago em moeda forte – o dólar. “Vale a pena, esse é o principal evento em matéria de interesse do público”, diz o Presidente da ABI.
Além de repórteres, comentaristas, fotógrafos e cinegrafistas, a Copa do Mundo exige a participação de profissionais de diferentes formação e qualificação, desde os engenheiros que cuidam de pormenores técnicos no cenário da Copa e na retaguarda no Brasil até o mensageiro, sem os quais a cobertura não alcança o nível de eficiência necessário. Em matéria de qualidade da cobertura, de acordo com Azêdo, os meios de comunicação do Brasil não perdem em nada para os dos demais países, mesmo aqueles com mais recursos econômicos, como os veículos de imprensa da Espanha, Itália, França, para mencionar aqueles países em que a Copa do Mundo merece cobertura especial.
 
Profissionais enfrentam estresse da maratona
 
O longo afastamento de casa, da família e do País é a principal dificuldade enfrentada pelos jornalistas na cobertura da Copa do Mundo, aponta o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo. Depois, vem o desconforto da vida em hotéis, por mais confortáveis que estes sejam; a diferença de hábitos de refeição e de cardápios; a necessidade de mudar de cidade para acompanhar a programação de jogos; a diferença de fusos horários entre a captação da informação. “Por mais que procurem disfarçar, os profissionais, com todas as alegrias que as vitórias possam causar, vivem um prolongado momento de desconforto, de exaustão física e de estresse”, relata Azêdo.
O dirigente acredita que cobrir uma Copa do Mundo não é prêmio, mas uma tarefa pesada. Nesta de 2010, na África do Sul, a todas as dificuldades descritas acrescenta-se a da escassez de energia elétrica no país. O presidente da ABI salienta ainda que cada meio e cada veículo tem o seu viés de cobertura. Ele recomenda que o jornal e o rádio não repitam secamente o que o público já viu pela televisão, têm de ser mais criativos, apresentar aquele algo a mais que as câmeras não mostraram ou não puderam mostrar.
As revistas, de seu lado, têm que considerar que precisam ir além do que já foi oferecido a cada dia pelos jornais. De modo geral, os meios de comunicação brasileiros têm invejável know-how nessa matéria. “Afinal, temos, desde 1958, mais de meio século de coberturas dessa natureza”, lembra Azêdo.
 
Soluções móveis integradas ganharão mais espaço
 
Mesmo fora dos sistemas de transmissão, a tecnologia movimentará a Copa da África. Os sistemas de rastreamento geográfico, como o GPS, estarão nas mãos dos turistas em definitivo, dando a eles uma autonomia de circulação jamais vista em eventos esportivos. O uso da nanotecnologia já começará a ser vista nos smartcards, que identificarão os torcedores e agilizarão a compra de ingressos. Parece ficção, mas ocorrerá o tempo todo na Copa da África. Nas Olimpíadas de Inverno de Vancouver, estas inovações já foram usadas com muito sucesso, explica Ricardo Piccoli, diretor-presidente da Criterium Business Mobile.
As empresas de comunicação também serão beneficiadas pelas tecnologias. A Cisco e a ESPN anunciaram uma parceria para transmissão de eventos – ao vivo e gravações de partidas e entrevistas – da Copa, por meio de uma ferramenta chamada TelePresença, que envia áudio e vídeo em alta definição por meio da infra-estrutura de banda larga da Cisco existente na sede do torneio. Cada unidade do TelePresença custará US$ 80 mil. E uma estimativa inicial da ESPN prevê que a economia será de US$ 25 mil por entrevista.
Também caracterizará esta Copa a transmissão dos jogos ao vivo pela internet. Nos sites das empresas de comunicação como a Rede Globo e a Net, será possível assistir ao vivo aos confrontos. “Esta opção deverá ser muito útil no Brasil, já que os jogos ocorrerão no horário de expediente no País; por isso, as empresas estão preparadas para as transmissões online”, observa Eduardo Pelanda, professor de Comunicação Digital da Pucrs. O uso da internet também será disseminado com a implementação do wi-fi nos estádios.