Por Cláudia Souza*
17/07/2013
A Comissão Nacional da Verdade e o Coletivo Sindical vão realizar um ato público, no próximo dia 22, às 9h, no Sindicato dos Aposentados de São Paulo, para marcar os 30 anos da greve geral de 21 de julho de 1983, que levou, em plena ditadura, três milhões de trabalhadores às ruas, e contou com a adesão de 35 entidades sindicais, Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), associações de funcionários públicos, estudantes, partidos de esquerda, entre outros setores da sociedade.
O ato público vai marcar ainda o início das atividades do Grupo de Trabalho “Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical” da Comissão Nacional da Verdade. A criação do GT foi anunciada nesta terça-feira, 16, em reunião na sede da Presidência da República em São Paulo, por Rosa Cardoso, coordenadora da CNV, e por representantes de dez entidades sindicais.
O ato público do dia 22 contará com a participação de dois dirigentes da greve geral de 83, Jair Meneguelli e Arnaldo Gonçalves, que à época eram Presidente da CUT e Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos, respectivamente. A coordenadora da CNV, Rosa Cardoso também participará da mesa de abertura, juntamente com Paulo Vannuchi, membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e José Luis Del Roio, presidente do Instituto Astrogildo Pereira, além de representantes das dez centrais sindicais que compõem o Coletivo de Apoio ao GT.
Durante o evento serão exibidos vídeos de sobre trabalhadores que participaram da luta contra a ditadura, como Carlúcio Castanha Júnior (in memoriam , à época, integrante da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (OSM-SP); Derly José de Carvalho, um dos fundadores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo; José Ibrahin (in memoriam), presidente (cassado) do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco na época da greve de 1968; José Maria de Almeida, então metalúrgico na cidade de Santo André; Nair Goulart, que foi diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; Raphael Martinelli, à época liderança nacional dos ferroviários e do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT); e Vital Nolasco, que foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
— A greve de 83 foi um golpe fatal na ditadura, foi um acontecimento fundamental para enfraquecer de vez o regime, afirmou Expedito Solaney, representante da CUT.
Resistência
Os representantes de centrais sindicais reivindicaram que o Governo brasileiro reconheça o valor político dos operários, sindicalistas e demais trabalhadores no processo de resistência ao regime ditatorial brasileiro.
Cerca de 350 sindicatos foram invadidos às vésperas do golpe militar, em 31 de março de 1964. Líderes sindicais foram presos, torturados e alguns deles seguem desaparecidos, como é o caso de Silvestre Bozzo, integrante do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Papel e Papelão. Estima-se que ao longo de todo o período de repressão, mais de 800 sindicatos tenham sofrido intervenção, monitoramente ou invasão por parte do regime. A previsão é de que o GT possa visitar diversas cidades brasileiras colhendo depoimentos de trabalhadores e sindicalistas que tenham sido vítimas da repressão do regime.
O GT e a CNV vão investigar as invasões aos sindicatos, a destruição do patrimônio documental e físico dos sindicatos e a vinculação das empresas com a repressão.
Também serão investigadas a relação do serviço de segurança das empresas estatais e privadas com a repressão e a atuação das Forças Armadas.
— Temos documentos que mostram que empresas como Monark, Petrobras, CSN, Volkswagen, Ford, Correios e Embraer colaboravam com os organismos de repressão. Elas entregavam fichas de empregados ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Vamos apresentar tudo isso ato no dia 22, disse Luiz Carlos Prates, o Mancha, secretário nacional da Conlutas.
Reparação
Segundo Rosa Cardoso, a CNV está estudando o caso de outros países que seguiram esse caminho.
— Vamos fazer um levantamento das empresas a que se pode pedir reparação. O colegiado vai estudar comissões de anistia da Argentina e Alemanha, onde empresas foram responsabilizadas por perseguir trabalhadores durante a ditadura e o regime nazista.
O GT Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical também pretende sugerir ao governo a alteração dos critérios de pagamento de indenizações. Os sindicalistas alegam que os trabalhadores de fábricas recebem valores bem menores do que outras categorias, como jornalistas e políticos.
*Com informações da CNV, Agência Brasil e Agência Estado.