CNBB pede punição dos corruptos


22/06/2012


Em declaração divulgada em Brasília nesta sexta-feira, 22 de junho, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNBB manifestou sua “grave preocupação” com as suspeitas de “violação aos princípios da moralidade e da legalidade” estabelecidos na Constituição Federal e reclamou a investigação de toda suspeita de corrupção, a punição dos culpados e o ressarcimento dos danos.
 
Encimada por uma citação bíblica do Livro de Amós, 5,7 (“Ai dos que fazem do direito uma amargura e a justiça jogam no chão”), a declaração foi firmada pelo Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo de aparecida e Presidente da CNBB, pelo Arcebispo de São Luís do Maranhão, Dom José Belisário da Silva, Vice-Presidente, e pelo Bispo Auxiliar de Brasília, Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário-Geral. Seu teor é o seguinte:
 
“Fatos políticos e administrativos, que contrariam a ética pública e o bem comum, têm sido fartamente divulgados pela Imprensa, provocando uma reação de indignação e perplexidade na sociedade brasileira. Chega-se mesmo a colocar em xeque a credibilidade das instituições, que têm o dever constitucional de combater a corrupção e estancar a impunidade, que alimenta tal prática.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, solidária a este sentimento que inquieta a população, vem, através do Conselho Permanente reunido em Brasília de 20 a 22 de junho, manifestar, mais uma vez, sua grave preocupação com estas suspeitas de violação aos princípios da moralidade e da legalidade consubstanciados na Constituição Federal.

Já em 1993 a CNBB questionava: “Como não denunciar a grande criminalidade dos que desviam, em proveito pessoal, enormes somas dos órgãos públicos, provocando escândalo e revolta, muitas vezes impotentes, da parte dos humildes, a quem estavam destinados esses bens? Como não solicitar que os crimes mais graves sejam punidos e que a lei não seja severa apenas com os pequenos infratores, sem jamais atingir os poderosos e espertos? Como tolerar que a um grande número de denúncias comprovadas de corrupção e prejuízo dos cofres públicos não corresponda igual número de punições e ressarcimentos? A impunidade é um incentivo constante para novos crimes e novas violências” (CNBB, Ética, Pessoa e Sociedade, n. 143, 1993).

O senso de justiça, sempre presente na consciência da nação brasileira, é incompatível com as afrontas ao bem comum que logram escapar às penas previstas, contribuindo para a generalizada sensação de que a justiça não é a mesma para todos. Todo cidadão tem o direito à correta gestão de assuntos e serviços públicos, afastando-se a deletéria, porque corrupta, conduta dos governantes de tratar a coisa pública, o patrimônio e negócios públicos como objetos pessoais postos a usufruto particular e partidário e à satisfação de caprichos egoístas.

A sociedade brasileira espera e exige a investigação de toda suspeita de corrupção, bem como a conseqüente punição dos culpados e o ressarcimento dos danos. O que temos assistido, no entanto, parece apontar em direção oposta quando muitos fatos, no passado e no presente, ficam sem solução e caem no esquecimento. Isso explica o crescente desencanto da sociedade com as instituições públicas. Os mecanismos que têm a responsabilidade de passar a limpo as corrompidas estruturas do País caem no descrédito e ficam desmoralizados se não cumprem o papel a que se destinam. Nenhum outro interesse pode subjugá-los senão o do resgate da ética no trato com a coisa pública.

Reafirme-se que a força dos três Poderes da Repúbica está na sua harmonia, no pleno respeito à sua correspondente independência e autonomia. Os que respondem diretamente por seu funcionamento, no entanto, nunca se esqueçam de que o poder que exercem provém da sociedade.  Da mesma forma, o agente político se recorde de que é seu dever ultrapassar as fronteiras político-partidárias, as condicionantes de oposição-situação, para colocar-se a serviço do Estado e da sociedade, sem confundir jamais o público com o privado, o que constituiria grave ofensa à legislação e desrespeito à sociedade.

No compromisso de construir uma sociedade justa e solidária, inspire a todos a palavra de Jesus Cristo: “Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do Maligno” (Mt 5,37).

Que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, abençoe nosso povo e anime sua esperança!

Brasília, 22 de junho de 2012, (a) Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo de Aparecida, Presidente da CNBB; Dom José Belisário da Silva, Arcebispo de São Luís do Maranhão, Vice-Presidente da CNBB; Dom Leonardo Ulrich Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília, Secretário Geral da CNBB.”