Por Claudia Sanches
04/08/2015
A Organização não-governamental Casa de Cultura – Centro de Formação Artística e Cultural da Baixada Fluminense, em São João de Meriti, vai homenagear, a partir das 11h30, a família do Marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, figura importante para o movimento negro e para a história do Brasil.
O encontro contará com a presença do Ministro da Cultura Juca Ferreira, sociólogo e ambientalista, e com a família de João Cândido e do seu filho caçula, Adalberto do Nascimento Cândido. Zeelândia Cândido de Andrade, filha do nobre marinheiro, já falecida, também foi uma das fundadoras do centro cultural e foi uma militante bastante atuante.
A Ong está desenvolvendo uma campanha para que até 2019, quando completa 50 anos de morte de João Cândido, o marinheiro passe a ser reconhecido oficialmente como herói nacional. A instituição recebeu grandes prêmios internacionais e nacionais como Itaú, Unicef, Funcação Abrinc, além de ter sido escolhida para receber o príncipe Charles, em 2002.
De acordo com Adalberto Cândido, ou Candinho, como é conhecido pelos amigos e companheiros de trabalho, o pai teve a coragem de afrontar o governo com determinação. Ele conta que a história de seu pai ainda é muito deturpada:
— Ele articulava com os dois lados, com os líderes e com os “marujos”, tinha acesso à oficialidade, foi instruído e instruiu. Ele eve várias funções na Marinha. O objetivo dele era o fim do castigo físico e melhores condições de trabalho aos marinheiros. Meu pai foi um herói nacional, e não fez isso para se glorificar, queria acabar com as injustiças.
Adalberto Cãndido trabalha na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) há 62 anos, como escriturário. Chegou na entidade através de uma associado, Renato Travassos, escritor e jornalista. Foi o seu primeiro emprego na gestão de Hebert Moses.
Candinho está participando do documentário “O Filho do Almirante Negro”, sobre a história de seu pai e a “Revolta da Chibata”. No filme, ele visita os locais onde João Cândido articulava suas ações com os marinheiros, como no Bar Jogo da Bola, na Praça Mauá e Villa Ruy Barbosa, na atual Rua dos Inválidos, onde funcionava o comitê de conspiração. Candinho tem consciência de sua missão:
— Tenho que dar continuidade à memória de meu pai. Depois do Livro “Revolta da Chibata”, escrito por José Edmar Morel, que também foi sócio e Conselheiro da ABI, a história de João Cândido começou a ser retomada. Até então ele estava no anonimato.
De volta ao cais após a anistia, João Cândido foi condenado, preso e torturado numa masmorra, na Ilha das Cobras, onde era privado de água e alimentação. Mais tarde foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Botafogo, onde foi dado como doente mental. Com o tempo os próprios médicos o liberaram.
Segundo Candinho, após ser anistiado e absolvido, foi excluído da Marinha de Guerra. Outros marinheiros foram deportados para um navio e levados para a Amazônia, onde muitos morreram vítima de febre amarela e maus tratos, ou fuzilamento. Candinho conta que único jornalista que tinha acesso ao navio era o jornalista Júlio Medeiros, do Jornal “O Malho” e que o castigo ainda não acabou:
— Ele continua de outra forma, não existe bala perdida, mas sim certeira. Quem sofre mais são os negros e os jovens das comunidades. Os Direitos Humanos também não olham o lado dos policiais, que também são vítimas fatais da violência.
A Casa de Cultura – Centro de Formação Artística e Cultural da Baixada Fluminense fica na rua Machado de Assis, Lote 12, Quara 84, na Praça da Bandeira, em são João de Meriti. Os interessados podem entrar em contato com com o gerente Vinícius Ribeiro pelo telefone 21 99663-6631 ou pelo e-mail gerenciageral@casadacultura@gmail.com.