14/04/2021
MEMÓRIA LEMBRA 100 ANOS DE D. IVONE LARA
Nascida em 13 de abril de 1922, Dona Ivone Lara só faria cem anos em 2022, mas sua mãe antecipou em um ano seu registro de nascimento para que ela pudesse entrar no colégio. Assim, desde segunda-feira começaram as comemorações do centenário da cantora e compositora que modificou as regras nas escolas de samba onde somente homens assinavam músicas. A sambista será homenageada até o próximo ano, quem sabe com uma grande festa pós – pandemia.
O Memória Musical da ABI, dentro desses festejos, promove um bate-papo virtual, hoje, a partir das 19h30, com o professor e cantor André Lara, neto de Dona Ivone; a escritora Mila Burns, biógrafa da grande dama do samba, diretamente de Nova York; o parceiro musical Bruno Castro; a cantora Luiza Dionizio; e o apresentador do programa, o jornalista e produtor cultural, Paulo Figueiredo. Pelo canal da Associação Brasileira de Imprensa do YouTube.
DISCO, LIVRO E FESTEJOS
As comemorações do centenário começaram ontem com o lançamento de de um livro sobre seu clássico LP de 1981 Sorriso Negro e um EP de músicas inéditas. O professor e cantor André Lara, 39 anos, o neto de Dona Ivone, se dispôs a ouvir as inúmeras fitas que a avó, morta em 2018, deixou com sua mãe e acabou encontrando também uma inédita de Zé Kéti, Companheiro de Deus, de cunho religioso.
O EP lançado é o quarto volume do Baú de Dona Ivone, projeto do cavaquinhista e parceiro da sambista, Bruno Castro, que reúne sambas recentemente finalizados, a partir de melodias recuperadas de gravações de improvisos em shows ou nascidas dos encontros que ele e André Lara tiveram com a compositora, no quintal da casa em Oswaldo Cruz. E desses encontros saíram sambas como 15 anos após o Centenário (cantada por Dudu Nobre e Pretinho da Serrinha), Espaço para Sonhar (Fundo de Quintal) e Dois corações abrindo a manhã (Maria Rita).
No EP, Nas escritas da vida não é inédita e a única com a voz de Dona Ivone, pois foi um disco que ela e Bruno fizeram em conjunto. Bruno tirou a voz dele e chamou Gilberto Gil para gravar a sua parte, em dueto póstumo.
Nascida e criada na Vila da Penha, a cantora Luiza Dionizio tem ligação de longa data com o samba carioca. Ela se apresentou ao lado de Dona Ivone Lara e já foi indicada a vários prêmios da categoria, inclusive ao XXI Prêmio da Música Brasileira.
BIOGRAFIA
Dona Ivone Lara foi compositora pioneira de samba-enredo, cantora, enfermeira, assistente social, cavaquinhista e tudo que quis ser. A jornalista Mila Burns, biógrafa de Dona Ivone em Nasci para cantar e sonhar: Dona Ivone Lara – A mulher no samba (Record, 2009), vai fundo nesse disco essencial do gênero e da carreira da sambista, Dona Ivone Lara, Sorriso Negro que é parte da coleção O livro do disco, que, por sua vez, é o retrato do LP de 1981 e que analisa cada faixa, arranjos, produção, o papel da mulher negra no ambiente masculino do samba e o ativismo.
A jornalista Mila Burns explora bem o contexto histórico quando Dona Ivone se aposentou aos 55 anos da profissão de enfermeira e assistente social para assumir a música. Era o início da abertura, após quase duas décadas de ditadura. Em 1978, ela gravou Samba, minha verdade, Sorriso de criança, em 1979, e ao fim de 1980, Sorriso Negro. Como o disco físico é raro, as músicas podem ser ouvidas nas plataformas de streaming. Sorriso Negro fala da causa racial; Unhas e Alguém me avisou, de feminismo; e Axé de ianga, de africanismo. Sorriso Negro tem Jorge Benjor como convidado e Maria Bethânia em A Sereia Guiomar.