Cartunistas homenageiam ABI


13/03/2009


“ABI — 100 anos de luta pela liberdade” é o tema da exposição que reúne a arte de duas gerações de grandes cartunistas, em celebração ao centenário da Associação Brasileira de Imprensa. A mostra ficará em cartaz de 18 de março a 26 de abril, nas galerias do térreo do Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), na Av. Rio Branco, 241, no Centro do Rio, de terça a domingo, no horário das 12h às 19h. A classificação é livre.

A noite da abertura da exposição — para convidados e sócios da ABI — será no dia 17 de março, às 19h, no teatro do CCJF, e contará com a apresentação de um espetáculo satírico-musical com o Conjunto Nacional, formado pelos irmãos Chico e Paulo Caruso, Aroeira e Luís Fernando Veríssimo, que virá especialmente de Porto Alegre para participar do evento.

Chico Caruso lembra a importância da ABI para os cartunistas e fala sobre show:
— A ABI é uma das instituições mais importantes da nossa classe, porque nós caricaturistas há muito tempo estamos representados nela, desde o Raul Pederneiras que foi Presidente da Casa (1915-1917 e 1920-1926). Esta será a festa dos humoristas. Mas, além disso, vamos fazer o recital dos jornalistas, Aroeira, Paulo Caruso e eu, mais o Veríssimo que é um tremendo bandleader. Acho inclusive que ele tinha que ficar somente na música, porque ele toca sax muito melhor do que escreve (risos).

A mostra reúne as obras de 55 artistas, entre os quais Adail, Airon, Aliedo, Alviño, Amorim, André Brown, Arionauro, Aroeira, Bruno Drummond, Cau Gomez, Cavalcante, Chiquinha, Chico Caruso, Claudius, Cruz, Dálcio, Daniel Mendes, Deivid Marquesmize, Edgar Vasques, Eduardo Caldari Jr, Gilmar, Guidacci, Guto Lins, Hemetério, Henfil, Izidro, J. Bosco, Jaguar, João, Lailson, Lan, Lor, Loredano, Marcelo Monteiro, Marguerita, Mariano, Marta Strauch, Maurí¬cio Veneza, Nani, Nei Lima, Ota, Pablo Carranza, Paulo Caruso, Quinho, Ray Costa, Santiago, Soud, Spacca, Trimano, Ucha, Veríssimo, Ykenga, Zé Roberto Graúna e Ziraldo.

A exposição será dividida em três módulos. O primeiro, com temas que falam da trajetória da ABI e prestam homenagem a figuras históricas da instituição como Barbosa Lima Sobrinho. O segundo, de caráter histórico, apresenta desenhos de cartunistas que foram importantes na luta pela liberdade imprensa e de expressão, durante a ditadura, como Ziraldo, Henfil e Jaguar. O terceiro módulo foi reservado para mostrar trabalhos que retratam as dificuldades atuais, que, em substituição à censura, continuam cerceando a liberdade de imprensa e de expressão.

O caricaturista Henfil (1944-1988) é o patrono da exposição e terá as suas obras apresentadas na exposição como uma homenagem póstuma, a um artista que dedicou toda sua trajetória à luta pela liberdade de expressão, tanto na imprensa quanto em outros meios, como a televisão. Paralela à exposição, haverá também uma apresentação em data-show, com mais de 200 desenhos numa referência aos 171 anos do desenho de imprensa no Brasil. 

 Chico Caruso

Representatividade

Entre os pontos que se destacam na exposição “ABI — 100 anos de luta pela liberdade” estão a sua representatividade e a sua abrangência geográfica. A mostra reúne trabalhos de cartunistas de várias regiões do Brasil, jovens e adultos, de Norte a Sul do País, com uma grande variedade de estilos. Isso vai fazer com que o público tenha contato com o talento artístico de desenhistas de Belém, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além de alguns municípios do interior.

A principal característica da exposição é ser inclusiva, pois conta com a participação de cartunistas, chargistas, caricaturistas, gravuristas, escultores, designers e artistas plásticos:
— A idéia da exposição foi reunir artistas de renome, que tiveram participação direta na luta pela liberdade de expressão, durante a ditadura militar, a outros de gerações posteriores, que foram influenciados por esses mestres, afirma Ricky Goodwin, um dos curadores da exposição, juntamente com Zé Roberto Graúna e Ana Pinta.

É nesse contexto que a exposição apresenta a obra de Lan (83), Jaguar (77) e Ziraldo (76) ao lado da produção do jovem João Barbosa, que está sendo considerado “uma sensação no meio dos desenhistas pela qualidade e o humor manifestado nos seus trabalhos”, segundo Ricky Goodwin. 

Desenhos censurados

Para Ricky Goodwin há muita satisfação em poder estar participando da organização da exposição, que celebra o centenário da ABI:
— Foi com uma alegria muito grande que eu recebi o convite para ajudar na produção dessa exposição. Primeiro, pela ligação muito grande que eu tenho com a instituição. Me sinto gratificado, porque, aos 40 anos de jornalismo, tenho a oportunidade de contribuir com a ABI, de alguma forma, devolvendo o que ela fez por nós (jornalistas).

Uma outra questão foi o tema proposto:
— Mais do que tudo me atraiu o tema da exposição. Não se trata de uma comemoração nostálgica, auto-referente à ABI contundente ou engajada. O conteúdo da mostra reforça que os artistas retratam a luta pela liberdade de expressão.

Ricky afirma que um detalhe que enriquece a exposição é que alguns cartunistas optaram por não criar desenhos novos sobre o tema censura; preferiram mostrar os trabalhos que foram censurados pela ditadura:
— Ao invés de fazer um desenho especial sobre a censura, preferimos mostrar desenhos que foram censurados pela ditadura para mostrar o absurdo da época da ditadura militar, declarou.

Um deles é o caricaturista Loredano, que vai expor três caricaturas, criadas em 1974, que se transformaram em uma parceria involuntária entre o artista e um censor:
— O censor fez vários rabiscos sobre as caricaturas. O Lan vai mostrar uma série célebre, produzida entre 1963-1964, com “militares gorilas”, cuja publicação obrigou-o a se exilar do Brasil durante três anos, lembrou o curador. 


Resgate

A Associação Brasileira de Imprensa completou cem anos em 7 de abril de 2008. Este importante marco vem suscitando dezenas de eventos e homenagens que resgatam e valorizam o papel da entidade na luta pela liberdade de imprensa e de expressão, e em defesa dos direitos da sociedade brasileira. 


Serviço:

Exposição “ABI — 100 anos de luta pela liberdade.”
Data: 18 de março a 26 de abril
Horário: 12h às 19h (de terça a domingo)
Local: Centro Cultural da Justiça Federal
Endereço: Avenida Rio Branco, 241 – Centro do Rio
Telefone: (21) 3261-2550
Entrada franca
Classificação: livre