Por Cláudia Souza
10/07/2015
Agentes da Polícia Federal do Rio Grande do Sul, e da Interpol prenderam, nesta terça-feira, dia 7, o ex-policial argentino Roberto Oscar González, de 64 anos, acusado de participação em crimes de lesa humanidade cometidos durante a última ditadura (1976-1983), entre eles o assassinato do jornalista e escritor Rodolfo Walsh, autor do célebre livro reportagem “Operação Massacre”, no qual o autor denunciou os crimes cometidos pela ditadura argentina.
Após seis anos de investigação, agentes da Polícia Federal (PF) e da Interpol -International Criminal Police Organization – localizaram Roberto Oscar González, procurado há mais de uma década por crimes cometidos entre 1976 e 1983, período da ditadura militar argentina, entendendo-se até 1997, entre os quais o assassinato do renomado repórter, aos 50 anos, em 25 de março de 1977.
Roberto Oscar González, 64 anos, residia em Viamão, em Porto Alegre (RS) há dez anos. De acordo com a PF, ele dividia a casa com Pedro Osvaldo Salvia, 63 anos, policial federal argentino também envolvido nas mortes de Walsh e de outros opositores do regime militar entre 1976 e 1983, período no qual, de acordo com dados divulgados pelo governo argentino, cerca de 20 mil pessoas foram mortas. Os assassinatos foram declarados imprescritíveis pela Corte Suprema da Argentina em 2007.
Pedro Oswaldo Salvia morreu em 18 de junho último no Instituto de Cardiologia – Hospital Viamão. O corpo encontra-se no Departamento Médico Legal (DML) de Porto Alegre, de onde será trasladado para Buenos Aires.
De acordo com informações da polícia portenha, além de Roberto Oscar González são acusados do assassinato do jornalista Rodolfo Walsh, Carlos Orlando Generoso, Enrique Yon, Ernesto Frimon Weber, Gonzalo Sanchez, Héctor Antonio Febres, Juan Carlos Fotea, Juan Carlos Linarez, Julio César Coronel, Roberto Naya. Foram implicados no sequestro do repórter, Alfredo Astiz, Jorge “el Tigre” Acosta, e Jorge Rédic, e Pedro Osvaldo Salvia.
Buscas
De acordo com a Interpol, os agentes do órgão cumpriram mais de uma centena de mandados de buscas até localizarem o paradeiro dos dois ex-agentes federais. Em 2013, autoridades portenhas reuniram-se em Porto Alegre com policiais gaúchos para trocarem informações sobre os foragidos. O Ministério da Justiça e Direitos Humanos da Argentina ofereceu recompensa no valor de US$ 61 mil (cerca de R$ 180 mil) por informações sobre os procurados, que tinham prisão preventiva decretada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). González ficará detido no Presídio Central de Porto Alegre, aguardando a extradição para a Argentina, onde será julgado por crimes contra a humanidade, incluindo o assassinato do jornalista Rodolfo Walsh.
A PF informou que conseguiu localizar o paradeiro de Gonzàlez ao descobrir que ele era proprietário de uma empresa de importação e exportação, que, apesar de tido a falência decretada, permanecia com um veículo entre os bens. Quando o veículo recebeu uma multa recentemente, policiais localizaram o endereço do proprietário, Roberto Oscar González, que residia em um sítio às margens da rodovia ERS-118, cuja renda advinha da criação de cavalos e do aluguel do brinquedo touro mecânico, muito utilizado em rodeios.
A partir destas pistas, a PF infiltrou um agente no sítio, que demonstrou interesse em negociar cavalos e brinquedos. Na última segunda-feira, dia 6, os agentes executaram o mandado de prisão de Gonzàlez, expedido pelo STF, descobrindo ainda o esconderijo de Salvia.
Os acusados de ter matado Walsh, conforme a polícia argentina, são Julio César Coronel, Enrique Yon, Roberto Oscar González, Ernesto Frimon Weber, Pedro Osvaldo Salvia, Juan Carlos Fotea, Juan Carlos Linarez, Gonzalo Sanchez, Roberto Naya, Carlos Orlando Generoso y Héctor Antonio Febres.
Foram implicados no seu sequestro, também, pesos-pesados como Alfredo Astiz, Jorge “el Tigre” Acosta e Jorge Rédic, e Pedro Osvaldo Salvia.
Denúncias
Um dos maiores nomes do jornalismo investigativo na Argentina, Rodolfo Walsh foi assassinado em 1977, durante a ditadura militar no país (1976-1983). Um ano após o golpe Rodolfo Walsh escreveu “Carta Aberta de um Escritor à Junta Militar”. No dia seguinte à denúncia, em 25 de março de 1977, o jornalista, que era membro da organização Montoneros, foi morto por agentes da repressão.
O corpo de Rodolfo Walsh teria sido levado a sede da Escola Mecânica da Armada, o maior centro clandestino de detenção e tortura a operar na Argentina. Calcula-se que por lá passaram cerca de cinco mil militantes. Segundo testemunhos de sobreviventes, um oficial teria dito: “Matamos Walsh. O filho da puta se protegeu atrás de uma árvore portando um revólver calibre 22. Atiramos muito, mas o filho da puta não caía”. O nome do jornalista ainda figura na lista de milhares de desaparecidos na Argentina.
A investigação de Rodolfo Walsh sobre os crimes da ditadura foi publicada em 1978, em fascículos posteriormente reunidos no livro que promoveu o revés na atuação do governo militar, em razão das contundentes denúncias.
Rodolfo Walsh é autor dos livros-reportagem “Operação Slaughter”, “Quem matou Rosendo?”, “Caso Satanowsky”, entre dezenas de obras consagradas.