‘Brasil é perigoso para defensores do meio ambiente’, diz The Guardian após sumiço de jornalista e indigenista


10/06/2022


Quatro dias após o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira terem desaparecido na Amazônia, crescem as pressões internacionais sobre o governo de Jair Bolsonaro para encontrá-los.

O jornal The Guardian, para o qual Phillips faz reportagens ambientais, publicou um editorial na quinta-feira (9) cobrando apoio de países e organizações para instar o governo brasileiro a adotar medidas efetivas para as buscas na Amazônia.

“O Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para os defensores do meio ambiente e outros associados às comunidades indígenas”, afirma a publicação. “Infelizmente, o presidente, Jair Bolsonaro, tem demonstrado pouco interesse em uma resposta adequada.”

No editorial, o Guardian questionou a ação das autoridades do país desde que o jornalista foi dado como desaparecido na Amazônia.

“A resposta das autoridades brasileiras tem sido, na melhor das hipóteses, lenta e abaixo do esperado. Um helicóptero – essencial nas buscas em uma área tão vasta – não foi usado até a manhã de terça-feira.

Uma investigação criminal não foi aberta até mais tarde naquele dia. Apenas um punhado de tropas parece estar envolvido na busca, em uma região com abundantes recursos militares.Esta resposta mínima é totalmente inadequada.”

O veículo britânico ainda criticou a fala de Bolsonaro sobre os desaparecidos.

“Tendo demorado dois dias para falar sobre o desaparecimento, ele [Bolsonaro] parecia culpar os homens:‘Sinceramente, duas pessoas em apenas um barco, naquele tipo de região, absolutamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável para ninguém. Qualquer coisa pode acontecer. Pode ter sido um acidente. Eles poderiam ter sido executados’, disse.”

Relembrando crimes notórios contra ambientalistas, como os assassinatos do líder trabalhista e ativista Chico Mendes e da freira americana Dorothy Stang, o Guardian destacou que o Brasil também é um país em que jornalistas são vulneráveis.

A publicação ainda apontou que as políticas ambientais no país foram degradadas nos últimos anos, relacionando esse fato diretamente ao governo Bolsonaro.

“O desmatamento na Amazônia atingiu um nível recorde sob Bolsonaro, que enfraqueceu as proteções ambientais e os direitos à terra indígena desde que assumiu o cargo em 2019. Ele também pisou nos direitos humanos e desrespeitou o Estado de direito. Gangues criminosas parecem cada vez mais encorajadas a infringir a lei, danificar a floresta tropical e praticar violência com uma sensação de impunidade.”

Por fim, o jornal britânico pediu apoio da comunidade internacional para pressionar o Brasil a intensificar as buscas pelos dois homens, sem a qual, segundo o Guardian, “é altamente improvável que o governo mude de rumo.” “Muito tempo já foi perdido. Nada mais deve ser desperdiçado.”

Ato Público em Copacabana

Está sendo convocado pela Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira (ACIE) um ato público para domingo, dia 12 de junho, na Praia de Copacabana, pelo jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, que desapareceram na Amazônia.

A manifestação acontecerá no Posto Seis, onde o jornalista inglês, quando morava no Rio, praticava stand up paddle.

Esse ato é um pedido para que as autoridades intensifiquem as buscas e também para que tomem atitudes quanto às violações contra a floresta e seus povos no Vale do Javari, no Amazonas.