Brasil é campeão no uso de agrotóxicos


30/06/2021


Por Vera Perfeito, Conselheira e Diretora de Cultura da ABI


Filme mostra risco dos agrotóxicos

No Brasil, há 130 empresas que comercializam sementes modificadas e agrotóxicos, sendo que seis delas – Monsanto, Dow, Bayer, Basf, Syngenta e Dupont – controlam 68% do mercado e essa concentração torna a vida dos agricultores familiares cada vez mais difícil. E nós somos as grandes vítimas dessa triste realidade, já que o Brasil é o país do mundo que mais consome os venenos: são 5,2 litros/ano por habitante. Esse é o tema de O veneno está na mesa II (2014), com 1h06 minutos que o Cineclube Macunaíma exibe hoje, a partir das 10hs até a próxima segunda-feira.

No filme há vários depoimentos de agricultores que tornaram suas fazendas agroecológicas, como o ator Marcos Palmeira, saindo do modelo agrícola nacional atual e de suas consequências para a saúde pública já que a cada 90 minutos alguém é envenenado por um agrotóxico no Brasil. Mostra a existência de alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis, que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. Às 19h30, terá início o debate com o diretor e seus convidados:  André Burigo e Leonardo Melgarejo. A mediação é do jornalista Ricardo Cota. O filme e o debate são exibidos no canal da ABI do YouTube.

Documentário

Uma alimentação saudável fruto de uma agricultura familiar ou um modelo com base no agronegócio calcado no trinômio monocultura, baixa empregabilidade e agrotóxicos é a solução ideal para cidades brasileiras, onde a agricultura familiar tem sido pressionada em seu território e seus modos de vida pelo agronegócio. Aviões de empresas, por exemplo, pulverizam suas plantações e, ao mesmo tempo, lançam agrotóxicos em escolas e em culturas de pequenos produtores que não usam nenhum tipo de veneno. Médicos têm diagnosticado cada vez mais casos de intoxicações e até câncer entre os trabalhadores do campo. Mas não existem estatísticas.

As megaplantações brasileiras contam com 14 tipos de agrotóxicos proibidos em outras nações. No campo político o direito dos grandes latifundiários também fica assegurado e 120 deputados federais defendem os interesses de grandes fazendeiros – cerca de 40 mil pessoas – no Congresso Nacional. Enquanto isso, aproximadamente 10 parlamentares representam mais de 12 milhões de pessoas que dependem da agricultura familiar e garantem os alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. A agricultura camponesa é responsável por 70%.

Em Veneno está na mesa II, Silvio Tendler aborda não apenas o impacto da agricultura convencional na vida dos brasileiros, mas mostra alternativas dentro da agricultura familiar que já estão em curso no território brasileiro, como o cultivo orgânico, a agroecologia e os sistemas agroflorestais.

O documentário aborda também como a chamada Revolução Verde do pós-guerra acabou com a herança da agricultura tradicional. No lugar, implantou um modelo que ameaça a fertilidade do solo, os mananciais de água e a biodiversidade, contaminando pessoas e o ar. Apesar do quadro negativo, o filme aponta pequenas iniciativas em defesa de um outro modelo de produção agrícola. Este é o caso de Adonai, um jovem agricultor que individualmente faz questão de plantar o milho sem veneno, enfrentando inclusive programas de financiamento do governo que tem como condição o uso desses agrotóxicos. No Brasil, há incentivo fiscal para quem utiliza agrotóxicos, gerando uma contradição entre a saúde da população e a economia do país, com privilégio da segunda.

Convidados

André Burigo, integrante do Grupo Temático Saúde e Ambiente da Abrasco garante que o agrotóxico não é necessário na lavoura. O pesquisador aponta muitas experiências no Brasil que não utilizam venenos na plantação e diz que, em 2012, Brasil ficou em segundo lugar em um concurso da FAO, ao apresentar a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, esvaziada no governo Temer e agora no governo Bolsonaro. Os resultados dessa política são reconhecidos pela FAO como uma experiência exitosa e exemplar. Afirma também que as empresas produtoras de químicos não são responsabilizadas judicialmente pelos danos que estes causam e não ressarcem ao Sistema Único de Saúde com os custos do tratamento de quem é intoxicado no contato direto e indireto com as substâncias. Também não são responsabilizadas pela mortalidade das abelhas e pela contaminação das águas e do solo e que a liberação acelerada de agrotóxicos resultará em agravamento da situação da saúde.

Leonardo Melgarejo – engenheiro Agronômo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000), foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio (2008-2014) e presidente da AGAPAN (2015-2017). Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (2018/2020 e 2020-2022) e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.