BN abre as portas para festejar cem anos de ABI


10/04/2008


                               Fotos: Rodolpho Terra

                                         Vitor Iorio e Maurício Azêdo

O centenário da ABI foi homenageado na tarde do dia 9, pela Biblioteca Nacional, com a abertura da programação 2008 do projeto Quarta às 4, concebido e dirigido pelo jornalista e professor da UFRJ Vitor Iorio. O Presidente da Associação, Maurício Azêdo, ministrou a palestra “ABI: momentos de tensão e esperança”, no Auditório Machado de Assis, para uma platéia que contou com a presença de jornalistas como Fichel David Chargel, Milton Temer e Amir Ahmed, além de estudantes, pesquisadores e professores.

Vitor Iorio iniciou o encontro agradecendo a honra de homenagear a ABI, “uma das mais combativas entidades da sociedade civil na defesa liberdade de imprensa e dos direitos humanos”:
— Criada em 7 de abril de 1908 e idealizada por Gustavo de Lacerda como uma associação destinada a assegurar à classe jornalística seus direitos assistenciais e a funcionar como poderoso centro de ação política que abrigasse os trabalhadores da imprensa, a ABI rompeu a resistência no meio jornalístico, disperso na época, conquistou nomes representativos na vida nacional e se consolidou com uma instituição de prestígio profissional e político.

A trajetória do atual Presidente da entidade também foi aplaudida como símbolo de luta pelas liberdades democráticas:
— A carreira no jornalismo e a luta política de Maurício Azêdo se confundem com a trajetória da ABI, que sempre teve compromisso com a defesa das liberdades públicas, dos direitos civis e dos direitos humanos — disse Iorio.

Destacando que os cem anos da Associação na luta pela liberdade representam “a grande marca da entidade”, Maurício Azêdo iniciou a palestra discorrendo sobre o pioneirismo de Gustavo Lacerda na fundação da entidade, a dedicação dos primeiros dirigentes na conquista da sede própria, o esforço para a construção do prédio da ABI e o empenho de todos os associados para tornar a entidade referência nacional de luta pelas liberdades de imprensa e de expressão e pelos direitos civis.

Maurício Azêdo

Momentos dramáticos

Em referência ao tema da palestra, o jornalista relacionou os períodos do Estado Novo e da Ditadura Militar como os mais dramáticos e tensos vividos pela Associação:
— Eu me lembro que em 31 de março de 1964 nós realizamos na ABI um ato com diversos jornalistas, visando à mobilização dos profissionais para a resistência que se tornava necessária ao golpe. Entre os companheiros jornalistas estavam Orlando Bonfim e Mário Alves de Souza Vieira, membros do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro. Orlando Bonfim desapareceu em 1976 e até hoje seu corpo não foi encontrado, nem há notícias sobre as circunstâncias de sua morte. O Mário Alves foi preso e torturado no DOI-Codi e teve um fim brutal, empalado.

Em 1976, o regime militar já tinha derrotado a chamada resistência armada, contou Maurício, e decidiu liquidar o Partido Comunista Brasileiro, que pregava a união de todas as forças políticas para a derrubada ditadura:
— O partido era eficaz nesta emissão e reunia grandes lideranças, como o jornalista e professor Luís Maranhão Filho, que também desapareceu. Outros momentos de tensão foram a bomba que explodiu no 7º andar da sede da ABI, em 14 de agosto de 1976, e o ato em memória de Vladimir Herzog, assassinado semanas antes no DOI-Codi paulista. Como a igreja não permitiu que a missa de 7º dia fosse celebrada na Igreja de Santa Luzia, no Centro do Rio, onde a ABI realizava tradicionalmente os ofícios religiosos e comemorativos, a cerimônia aconteceu na sede da entidade, sob a Presidência de Prudente de Moraes, neto, e de Barbosa Lima Sobrinho, então nosso Presidente do Conselho Deliberativo.

Momentos de esperança

                                           Vitor Iorio

Entre os momentos de esperança mais significativos para a ABI, o Presidente da entidade citou a posse de Herbert Moses, o ato de assinatura da doação do terreno para a construção da sede própria pelo Prefeito Pedro Ernesto, o concurso de projetos de arquitetura para a criação do prédio e a unificação das associações de imprensa com sua edificação no Centro do Rio. Também destacou a participação em lutas cívicas, como as campanhas O Petróleo é Nosso e Diretas Já, a Constituinte, a Anistia e o impeachment de Fernando Collor, decidida com base numa petição ao Congresso Nacional que teve como primeiro signatário Barbosa Lima Sobrinho.

No fim do encontro, Iorio falou de sua relação estreita com a entidade e o Presidente:
— Freqüento a Associação desde o início da minha carreira. Em 1969, Maurício Azêdo foi meu primeiro editor no Jornal dos Sports. Ele era um fantástico copidesque e não deixava passar nenhum erro. Todos nós que estávamos começando no jornalismo morríamos de medo de entregar a matéria a ele. Esta experiência foi fundamental, já que aprendi a não cometer erros logo no início da profissão.

Encerrando a homenagem, Maurício Azêdo agradeceu a iniciativa da Biblioteca Nacional:
— Foi muito gratificante este contato de hoje no projeto Quarta às 4, criado e dirigido por um membro do nosso quadro, o jornalista Vitor Iorio, que nos ofereceu a oportunidade de contar para uma platéia jovem, que muitas vezes não tem informações sobre o que nós relatamos, não apenas os fatos antigos sobre a fundação da ABI, como também os mais recentes da nossa história política, recebendo talvez as primeiras informações de fontes idôneas e de protagonistas dos acontecimentos, como os companheiros e sócios da ABI que participaram do debate, como Milton Temer e o professor Amir Ahmed.

Próximos encontros

A próxima exposição do Quarta às 4, dia 16, também será dedicada à ABI, com a participação do jornalista Villas-Bôas Corrêa. Clique aqui para ver toda a programação do projeto para este ano.