Atração por temas pouco explorados


22/09/2006


Douglas Engle/AustralFot

Tom Phillips

Política, cultura, meio ambiente, comportamento e questões sociais como a reforma agrária aparecem com freqüência nas reportagens de Tom Phillips, correspondente dos jornais The Guardian e The Observer:
— Os leitores do Guardian se interessam principalmente por matérias sobre desenvolvimento e questões sociais. Recentemente, fiz duas reportagens sobre os sem-teto em São Paulo e a remoção de favelas no Rio que tiveram grande repercussão na Europa.

                      The Guardian

Os temas sociais rendem bem para os leitores londrinos, mas foi uma reportagem sobre a construção da Cidade do Sexo, anunciada pela Prefeitura do Rio, que, segundo o repórter, causou mais alvoroço:
— A entrevista com o arquiteto responsável pelo projeto causou um tremendo bafafá. Ele me ligou dizendo que recebeu telefonemas de veículos de Portugal, Japão, Taiwan e até de uma revista pornô dos Estados Unidos.

Tom — que já viveu em Belo Horizonte, está há um ano e meio no Rio e é casado com uma brasileira — produz de três a cinco matérias por mês. O trabalho aumenta quando há casos como o do brasileiro Jean Charles Menezes, morto a tiros pela Scotland Yard no metrô de Londres:
— As reportagens que fiz sobre a família do Jean Charles em Minas Gerais foram capa de diversos jornais no mundo inteiro. Fiquei quase dois meses na região, entrevistando parentes e amigos do rapaz e produzindo matérias quase diariamente.

Com o pai de Jean Charles, Seu Matosinho

Tom colabora ainda com o jornal escocês The Sunday Herald e tem feito documentários, além de matérias para a série “Unreported world” (“Mundo desconhecido”) do Channel 4, do Reino Unido:
— Para esta reportagem, eu e a equipe passamos três semanas morando num barraco na favela de Manguinhos. O que o Brasil oferece de mais interessante para o correspondente é a diversidade, é ser tantos países dentro de uma só nação.

Ele conta que o Guardian está aumentando sua presença na América Latina:
— Temos repórteres também no México, Argentina e Colômbia e, em setembro, Rory Carroll, um dos melhores correspondentes do jornal, deixa a África e vai para a Venezuela.

Difícil de explicar

                    Mac Margolis

O norte-americano Mac Margolis, correspondente da Newsweek Magazine International — que circula na Europa, Ásia e América Latina —, mora há 24 anos no Brasil, para onde se transferiu por iniciativa própria. Experimentou São Paulo, fixou-se no Rio e foi colaborador dos jornais Washington Post e Los Angeles Times e da revista The Economist. Ele acha difícil explicar os motivos da sua mudança, mas um dos desafios era poder desvendar o mundo fora do seu país:
— Vim pra cá porque o Brasil me parecia grande e fascinante e muito pouco explorado do ponto de vista jornalístico. Aqui, como nos EUA, há muita diversidade cultural e étnica que ainda precisa ser mostrada.

Atualmente, porém, suas pautas são basicamente de economia e política — “embora seja sempre um desafio ‘vender’ a política brasileira como matéria para um veículo internacional”, diz. E explica:
— O Congresso é um caleidoscópio de siglas partidárias, que viram uma verdadeira sopa de letrinhas. Para um leitor que não tem qualquer referência do assunto, temos que explicar muita coisa antes de entrar no fato. Isso acaba prejudicando a matéria.

Turismo, Amazônia e desenvolvimento sustentável são as preferências de Mac:
— Trabalho para uma revista semanal que compete com uma mídia mundial muito dinâmica, em que há um verdadeiro bombardeamento de informação. Por isso, busco reportagens diferenciadas, mais analíticas e menos perecíveis.

Interatividade

             José Reinaldo Marques

                                Mery Galanternick

Responsável pelo escritório do New York Times no Rio de Janeiro, onde trabalha há 30 anos, a brasileira Mery Galanternick diz que os repórteres internacionais do jornal cobrem todos os países do Cone Sul, mas que o material sobre o Brasil (três reportagens por semana) sempre ganha bom espaço:
— Mas não com índio, carnaval ou mulher, e sim com reportagens sobre os costumes brasileiros, que são as que têm mais repercussão e interatividade com nossos leitores. Por isso o Larry Rohter (o mais polêmico correspondente do NYT no País) vive enfurnado na Amazônia ou em lugares inusitados do País, atrás de fatos e personagens inexplorados.

Mery diz que sua rotina de trabalho é “ampla, geral e irrestrita”. Além de escrever suas próprias reportagens, ela cuida da logística que atende aos demais correspondentes, sugere pautas e edita as matérias dos colegas. Além disso, colabora com duas outras publicações dos Estados Unidos: a revistas Latin Trade (de Miami) e ARTnews (de Nova York):
— Meus artigos para a ARTNews abordam arte brasileira do ponto de vista de mercado (leilões, por exemplo). Na Latin Trade, o foco é sobre economia não tradicional. Recentemente, escrevi para a revista uma reportagem sobre a febre do Orkut no Brasil e outra sobre uma agência de viagens que promete sonhos a seus clientes. Mas também fiz matérias sobre o programa espacial brasileiro e experiências com células-tronco.

As mudanças anunciadas na segunda quinzena de julho pelo New York Times — fechamento de uma gráfica e conseqüente corte de 250 empregos e diminuição de 5% do espaço reservado para notícias — não chega a preocupar os profissionais que trabalham para o jornal no Brasil, diz Mery:
— Este projeto será concluído em 2008, mas vai afetar apenas o pessoal envolvido numa das plataformas de impressão do jornal.