01/02/2013
Na última quinta-feira, 31 de janeiro, a ABI foi o palco de um ato em defesa da história do esporte nacional. A Casa do Jornalista recebeu um manifesto contra a demolição do Estádio Célio de Barros, organizado por atletas e treinadores em parceria com o Comitê Popular Rio Copa e das Olimpíadas, a Federação de Atletismo do Rio – FARJ e a Associação dos Veteranos de Atletismo do Rio de Janeiro AVAT-RJ. Ao final do evento, foi assinado um documento que será encaminhado à Presidente Dilma Rousseff, ao Ministro do Esporte Aldo Rebelo e ao Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro – COB Carlos Arthur Nuzman.
Parte do Complexo do Maracanã, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o Célio de Barros é hoje o único estádio de atletismo da cidade. Como consta no planejamento do Governo do Estado, a construção deverá ser demolida para a construção de lojas e de um estacionamento. De acordo com o Comitê Popular Rio Copa e das Olimpíadas, entidade que reúne movimentos sociais, laboratórios de universidades e organizações de defesa dos direitos humanos, a demolição não constava no projeto original da Copa do Mundo e foi incluída unicamente para atender às demandas da iniciativa privada.
Para Maurício Azêdo, Presidente da ABI, cujo discurso abriu a cerimônia, trata-se de uma importante luta pela preservação dos bens da cultura esportiva do Rio e do Brasil, que já colheu sua primeira vitória, com a preservação até o momento da Aldeia Maracanã.
“O historiador do cinema brasileiro Alex Viany, um dos maiores porta-vozes da cultura nacional, há 40 anos dizia que o Brasil era o país do surrealismo. E a maneira como estão sendo tratados a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 pelas autoridades são uma prova da coerência dessa observação”, afirmou o Maurício Azêdo. “Para sediarmos os eventos, destruímos um dos principais templos do esporte que é Estádio do Maracanã para a construção de um outro estádio cedendo às imposições colonialistas da FIFA. Além disso, a cidade que se dispõe a sediar os Jogos de 2016 inicia a caminhada nessa direção com a pretensão de demolir seu principal centro de formação de atletas”, comentou o jornalista.
Maurício Azêdo recordou ainda da forte tradição da ABI na área do esporte, lembrando que foi em sua sede que ocorreu a criação do Departamento de Imprensa Esportiva – DIE pelo jornalista Canôr Simões Coelho, que mais tarde viria a ser o embrião de todas as entidades de jornalistas esportivos do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. “A ABI apóia essa luta contra essa esfera de decisões irreais, que contrariam o melhor sentimento e o melhor interesse nacional. Essa batalha se arrasta a cada dia mais para as ruas, em atos públicos, em manifestações populares, com o que o País pode ter de melhor, que é sua juventude”, concluiu.
O Presidente da Federação de Atletismo do Rio de Janeiro – FARJ, Carlos Alberto Lancetta, falou da importância histórica do Célio de Barros, criado em 1954 e onde foi quebrado o único recorde mundial obtido por um brasileiro, o atleta Joaquim Cruz em 1981. “O COB defende o legado que as Olimpíadas vão deixar para a cidade, mas que legado é esse? Estão acabando com parte da nossa história. Hoje contamos com o apoio da Confederação Sul-Americana de Atletismo e de todas as associações e federações nacionais do continente, mas o Comitê Olímpico ainda não se manifestou. Gostaríamos de clamar ao COB, que vai realizar a gestão das Olimpíadas de 2016, que se pronuncie sobre a questão”.
Renato Cosentino, representante do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, afirmou que o apelo à Presidente Dilma se deve à dificuldade de diálogo com as esferas municipal e estadual. “Fala-se que o Maracanã precisa tornar-se uma arena multi-uso, mas ele já presta múltiplos serviços à população carioca. Ele abriga escola, cultura através da Aldeia Maracanã, esporte, inclusão social. Essa arena está sendo destruída para virar shopping. É isso que está em jogo: a privatização do complexo esportivo”.
Participação dos atletas
O ato contou ainda com o apelo emocionado de atletas e ex-atletas que tiveram suas vidas marcadas pelo Célio de Barros. A velocista Solange Santos, que representou o Brasil em Pequim – 2008 e Londres – 2012 nos 100m livres e no revezamento 4X100 se emocionou ao relembrar sua primeira competição no estádio, quando terminou em 6º lugar. A atleta leu ainda uma carta enviada por Joaquim Cruz, ouro nos 800m nas Olimpíadas de Los Angeles em 1984, e prata na mesma prova nas olimpíadas de Seul, em 1988. O campeão olímpico está nos EUA e não pôde comparecer ao evento.
“Não podemos de maneira alguma destruir o único estádio construído para treinamento e competições de atletismo, principalmente na cidade onde será realizada a Olimpíada de 2016 e que está carente de instalações esportivas. Os megaeventos deveriam incentivar a criação de outras instalações e não a destruição das já existentes, onde vários atletas deixaram sua marca e ajudaram a construir a historia do atletismo no Brasil”, dizia o trecho da carta.
Já Mauren Maggi, ouro no salto em distância em Pequim-2008, representou a Federação Paulista de Atletismo no encontro. “Eu vi meus ídolos competindo no Célio de Barros, como Joaquim Cruz, Robson Caetano, Ademar Ferreira da Silva, entre outros. Estão acabando com nossa história, algo inadmissível, principalmente num momento onde os olhos do mundo vão estar voltados para cá. Não estamos pedindo uma pista nova, apenas estamos pedindo para que não destruam o pouco que temos. Estou aqui perdendo um dia de treino para que esses jovens não percam a vida inteira”, concluiu.