Ato no Rio pede urgência na investigação sobre paradeiro de indigenista e jornalista


12/06/2022


Familiares, amigos e manifestantes se reuniram neste domingo (12) no Rio para pedir urgência nas investigações do desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. Os dois desapareceram há uma semana, no vale do Javari, no Amazonas.

A manifestação, que contou com a presença do presidente da ABI, Octávio Costa, e do diretor financeiro, Geraldo Mainenti, começou pouco depois das 9h em frente ao posto 6, na praia de Copacabana, na zona Sul do Rio. O local era o escolhido por Dom para praticar stand-up Paddle.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Octávio Costa, disse à Deutsche Welle que o cenário de hostilidade contra jornalistas no país se deve aos discursos do presidente Jair Bolsonaro contra o trabalho da imprensa.

“Ele se refere de uma forma extremamente jocosa e desrespeitosa à imprensa e aos jornalistas em geral. Tendo um presidente da República com esse tipo de posição, evidentemente isso dá margem para violência, seja em relação a ativistas na Amazônia, seja em relação a jornalistas, mulheres e homens, agredidos a todo momento no país”, afirmou Octávio.

O presidente da ABI disse temer uma escalada do cenário de violência contra jornalistas durante o período eleitoral. “As milícias do senhor Bolsonaro já estão armadas, e a ABI está muito preocupada com isso. Nós vamos usar todos os recursos possíveis para preservar o trabalho da imprensa durante o processo eleitoral. Há ainda uma preocupação hoje não só no Brasil, mas também em outros países, com relação aos ataques desse presidente desqualificado ao processo eleitoral”.


Octávio Costa e Geraldo Mainenti

Além de representantes da ABI e da Funai, a imprensa internacional compareceu em peso: as agências AP, Reuters e AFP, as TVs Al Jazeera, CGTN (China Global News Television) e ARD da Alemanha, entre outros.

O ato também teve apoio da Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil (ACIE). Dom foi da diretoria da ACIE por quatro anos no passado. O ato terminou com uma caminhada pela orla até o Posto 5.

Marcos, cunhado de Phillips, disse que, uma semana depois, ainda há poucas informações sobre o paradeiro do jornalista e do indigenista. “É um sentimento muito ruim, de muita tristeza, de muita incerteza. A gente dorme imaginando o que pode ter acontecido, acorda sem informação nenhuma. Está sendo muito angustiante “, contou Marcos Faria Sampaio, cunhado de Dom Phillips.

A mulher de Phillips, Alessandra, é brasileira. Segundo o irmão dela, o jornalista inglês era apaixonado pelo país, e principalmente pelos povos indígenas originários: “Sempre que a gente sentava para conversar, ele sempre falou com muito carinho. A luta do Dom sempre foi pelo amor que ele tinha pelas tribos indígenas. Era louco pelo Brasil. Ele dava aula de inglês gratuitamente em Salvador”, comentou.

Os dois faziam o trajeto da comunidade ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. As buscas já duram uma semana. A perícia feita em uma embarcação apreendida encontrou vestígios de sangue, segundo o delegado do município de Atalaia do Norte, Alex Perez Timóteo. Na sexta-feira (10), as amostras serão analisadas para saber se se trata de sangue humano ou animal.

A embarcação foi usada por Amarildo da Costa de Oliveira, 41, suspeito de envolvimento no desaparecimento da dupla. Na quinta-feira (9), o Tribunal de Justiça do Amazona decretou a prisão temporária por 30 dias de Amarildo, solicitada pela Polícia Civil após investigadores ouvirem testemunhas sobre o caso.

Conhecido como “Pelado”, Amarildo, de 41 anos, já está preso desde terça-feira (7), mas por outro motivo. Durante as investigações sobre o sumiço dos dois, as autoridades encontraram com ele uma porção de droga e munição de uso restrito.

Segundo as investigações, Bruno Pereira foi ameaçado um dia antes do desaparecimento por Amarildo.