15/02/2024
Por Rogério Marques, no Quarentena News/Facebook
Seria ótimo se no dia 25 de fevereiro, um domingo, pouca gente comparecesse à Avenida Paulista, no ato convocado por Bolsonaro. Mas Bolsonaro mantém consideráveis índices de popularidade, apesar de tudo que fez contra o Brasil e de ter produzido inúmeras provas contra ele próprio.
Além de planejar o golpe em um vídeo tornado público, abriu caminho para o garimpo, para a destruição na Amazônia e dos povos indígenas; é acusado de envolvimento na falsificação do seu cartão de vacinação e na venda de joias da União no exterior; ridicularizou as vacinas, debochou das vítimas da Covid-19, retirou máscaras de crianças em público. Nunca saberemos exatamente quantas pessoas morreram de Covid por seguirem as pregações irresponsáveis do ex-presidente.
Bolsonaro ainda não foi preso por causa de sua popularidade. Não é segredo que o Supremo Tribunal Federal (STF) age com cautela e busca acumular provas, de modo que não restem dúvidas quanto à culpa do ex-presidente nos crimes de que é acusado.
Além disso, existem nas Forças Armadas setores favoráveis a Bolsonaro e suas ideias antidemocráticas – aqueles militares que não aderiram à trama golpista mas se calaram, não denunciaram o golpe e seus articuladores.
Quanto ao apoio que ainda tem, a verdade é que muitos brasileiros veem nas ideias sinistras de Bolsonaro aquilo que sempre defenderam, mas tinham vergonha de declarar: o garimpo na Amazônia enriquece o Brasil, apesar da destruição da floresta e dos povos originários; quilombolas não produzem nada e pesam poucas “arrobas”; a população precisa se armar, mesmo com os altíssimos índices de homicídios que o país enfrenta; a prática da tortura – que Bolsonaro já defendeu em público – é um castigo para os que merecem.
Esse Brasil que apoia Bolsonaro é o mesmo que não se importa nem um pouco com o assassinato de Marielle Franco, porque a vereadora do Psol era lésbica, negra e defendia a população das favelas.
É o Brasil que ignora o massacre de jovens negros nas periferias e faz coro com as palavras de ordem do Bope, que grita em público durante seus treinamentos: “Homem de preto qual é sua missão? Entrar pela favela e deixar corpos no chão.”
Essa luta entre os dois Brasis vai ser longa, mas há motivos para ter esperança. Bolsonaro perdeu as últimas eleições, por pouco, mas perdeu, evitando-se o aprofundamento de uma tragédia nacional; a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 deu errado; o vandalismo dos golpistas chocou o mundo e botou na defensiva alguns generais favoráveis à quebra da democracia; Bolsonaro foi declarado inelegível por 8 anos, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE); existem oficiais de alta patente, envolvidos na tentativa de golpe, sendo presos por determinação do STF.
Os que defendem a democracia, não importa o partido a que pertençam, devem evitar provocações e confrontos no domingo, 25 de março, porque isso só interessa aos golpistas.
Os democratas, não importa a que partido pertençam ou sua orientação política, deveriam dar a resposta no domingo seguinte, dia 3 de março, em um grande ato nacional, em defesa da democracia, do julgamento e da prisão dos golpistas. Um ato amplo, organizado por todos os partidos políticos e movimentos sociais – sindicatos de trabalhadores, MST, Movimento Feminista, Movimento Negro, estudantes (UNE), Movimento LGBTQIA+, setores progressistas e democráticos de todas as igrejas e religiões.
Os artistas, sempre presentes, serão muito bem-vindos neste ato. Afinal, poucos setores sofreram tanto quanto o setor da Cultura nos anos de obscurantismo em que Bolsonaro esteve no poder.
A resposta do Brasil que luta pelo verdadeiro Estado Democrático de Direito precisa ser a maior possível, para mandar Bolsonaro e seus cúmplices para o lugar em que já deveriam estar há muito tempo, a prisão.